As eleições autárquicas em Lisboa trouxeram um resultado, para alguns, surpreendente.
Na verdade, a surpresa só pode existir naqueles que, não acompanhando a vida da cidade, também não compreendem as manifestações de sentimentos e de ansiedades das comunidades.
Existem vários fatores que importam contabilizar para uma real compreensão do que esteve na origem desta vitória dos novos tempos.
O princípio fundador desta análise está na necessidade de qualquer político compreender que a Democracia cria um turbilhão constante no eleitor. Falamos do binómio emoção/razão que tanto flutua no momento de fazer a cruz.
Assim, importa compreender que a derrota de 26 de setembro de 2021 começou, na realidade, na vitória do PS nas autárquicas de 1 de outubro de 2017. Foi a vitória com a perda da maioria absoluta do PS, foi a vitória que perdeu 9% relativamente a 2013.
E o que nos começa a dizer esse resultado? Que as políticas propostas pelo mandato que Fernando Medina vinha a fazer desde 2015, não mobilizavam os lisboetas.
Essa análise continha um cavalo de Troia: o resultado do PSD.
Em 2017 o PSD teve um resultado tão fraco que acabou por ser isso o centro da análise e não a perda de “élan” de Fernando Medina.
Ora, não tendo existido o cuidado de compreender que estavam a cavar um fosso com os lisboetas, o executivo municipal entrou num registo de autismo e desvalorização das posições de todas as outras forças políticas (sim, incluindo o aliado BE). Isso ditou o início do afastamento dos lisboetas.
Tudo piorou com a pandemia.
A apatia na gestão dos primeiros momentos do difícil período em que vivemos, numa total ausência de respostas de proximidade, empurrando para o Governo essa responsabilidade, ditou o violar de uma regra fundamental na gestão autárquica: um autarca deve estar sempre ao lado da comunidade que serve.
E quando outros autarcas mostraram que se podia ajudar sem empurrar para o Governo, em Lisboa “o rei ficou nu”.
Todos vimos as tentativas desesperadas que se seguiram, de mostrar que se estava na primeira linha. Primeiro em poses fotográficas junto aos aviões que traziam ventiladores… que depois se veio a saber que nem sequer tinham manuais de instruções.
Depois chegámos a assistir ao insólito: percebendo que mais importante que as fotografias de Estado, era estar perto das pessoas, encenou-se a entrega de bilhas de gás a moradores.
Porém, o mal já estava feito.
As pessoas não se sentiam acarinhadas, acompanhadas ou mobilizadas pelo executivo municipal.
Tentaram posteriormente criar todo o tipo de programas de apoio, mas sem qualquer chama, e até com atrasos e com uma mão cheia de nada.
Mas o pior veio depois.
Com um executivo desligado da sua Comunidade, inventaram a cidade “pop-up”, que muitos consideraram ser um hino à incompetência e incapacidade de planeamento de alguns vereadores. O resultado foi evidente.
Chegámos mesmo a assistir a um momento de total desonestidade política quando, confrontados com o desastre da cidade “pop-up”, resolveram tentar criar uma cortina de fumo, dizendo que a oposição era contra o futuro, a transição energética ou a mobilidade suave.
Nesta altura não perceberam que estavam a falar sozinhos.
O próprio PS, que ainda vivia ecos de uma quase cisão em Lisboa, não conseguia reunir as forças para remendar o que estava claramente rasgado: a confiança dos lisboetas.
No período da agonia pré-eleitoral somaram-se casos como “o email da Rússia” ou as polémicas do urbanismo na CML, que vieram inviabilizar qualquer recuperação.
Carlos Moedas representou o capital de esperança que a cidade aguardava
E a 26 de setembro o PS perdeu mais 8% em relação a 2017.
Assim, ficou consumado o fim das políticas “pop-up” e o início de novos tempos.
Porém, que fique claro. Do lado do PSD ninguém vive deslumbrado com o dia 26 de setembro. Do lado da coligação Novos Tempos sabemos analisar os resultados e compreender que a vitória em Lisboa será um caminho com três etapas, sendo que a primeira, o dia 26 de setembro, já está alcançada. A segunda será conduzir com sucesso este executivo municipal até 2025 e a terceira (o que consumará a vitória em Lisboa), será a eleição em 2025 com a maioria absoluta de Carlos Moedas.
Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela