A mesa dos portugueses. Comemos carne a mais e fruta a menos

A mesa dos portugueses. Comemos carne a mais e fruta a menos


Portugueses beberam menos álcool em 2020 e comem quatro vezes mais carne do que o recomendado. Consumo de açucar baixou, revelou a Balança Alimentar Portuguesa.


Que durante a pandemia muitos engordaram já se sabia, mas agora há mais alguns dados. Os portugueses comem quatro vezes mais carne do que o recomendado e pouca fruta.

No quinquénio 2016-2020, o aporte calórico médio diário por habitante foi de 4075 quilocalorias, superior às 3954 registadas no período 2012-2015. Portanto, em média, come-se de mais e do que não se devia. Estas são algumas das conclusões do estudo da Balança Alimentar Portuguesa (BAP) 2016-2020, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). 

Em 2020 – o ano marcado pela pandemia de covid-19 – observou-se um decréscimo quase generalizado das disponibilidades alimentares para consumo. As exceções foram os ovos e os produtos estimulantes, como o café e o chocolate, que aumentaram consecutivamente ao longo de todo o quinquénio, assinala o INE. Já o peso do açúcar no aporte calórico médio decresceu de forma continuada no quinquénio em análise. 

Os grupos de alimentos nos quais se verificou um maior desvio face ao que é recomendado pela Roda dos Alimentos foram, por um lado, a “Carne, pescado e ovos”, consumidos em demasia, e os “Frutos” e “Hortícolas” consumidos em menor quantidade do que é recomendado. 

As disponibilidades de carne aumentaram 8,7% e atingiram 229,8 gramas por dia e por habitante, o que fez com que o contributo calórico médio das carnes por habitante (428,6 quilocalorias) representasse quatro vezes mais o total das calorias recomendadas pela Roda dos Alimentos para este grupo. A maior oferta continuou a ser a proveniente de animais de capoeira – que somou 38,4% do total das disponibilidades.

Já a disponibilidade de carne de suíno baixou, mas continuou a ser o segundo tipo de carne mais disponível para consumo (29,1%). Mas é a carne de bovino que representa 22,7% do total. O contributo calórico médio diário associado ao consumo de carne é de 428,6 kcal por habitante, o que representou mais de quatro vezes o total das calorias recomendadas pela Roda dos Alimentos para este alimento.

A oferta de pescado para consumo aumentou 16,3% e alcançou 62,7 gramas por dia e por habitante. Também o consumo de crustáceos e moluscos ultrapassou pela primeira vez as disponibilidades para consumo de bacalhau e outros peixes salgados secos (15,4% para 18,8% no período anterior), conclui o INE.

Já a outra constatação é que os portugueses estão a consumir mais ovos – quem sabe se não será da moda de comê-los ao pequeno almoço e ao lanche, cozidos. O consumo aumentou 16,1%, somando uma taxa média de crescimento anual no quinquénio em análise de cerca de 4%, revela o INE. A disponibilidade para consumo no território nacional, no período em análise, correspondeu a cerca de meio ovo por dia e por pessoa. Isto significa que cada pessoa consumiu, em média, o equivalente a 178 ovos por ano. 

Face às recomendações internacionais, o INE calculou a contribuição energética média das gorduras em 34,2% do aporte calórico diário, um valor que se encontra acima do limite máximo recomendado para o consumo (30%). 

Contudo, apesar de haver muito consumo de carne e um elevado número de gordura, os frutos obtiveram uma vitória, ainda que o recomendado esteja longe. Em 2020, o consumo de frutos pelos portugueses chegou aos 27%, ainda que não se coma tanto quanto é recomendado pela roda dos alimentos.

A maçã é quem vai à frente na corrida: cada português comeu em média 24,9 quilos de maçãs o ano passado. Em segundo lugar vem a laranja que, com os frutos tropicais, foi o único fruto cujo crescimento foi sustentado entre 2016-2020.

Já em relação aos açúcares, o consumo baixou para uma média de 83,7 gramas por habitante/dia, menos 5,1 gramas do que no período homólogo anterior. A sacarose é a líder, representando em média 87,4% dos açúcares disponíveis. Também o leite (assim como todos os produtos lácteos) diminuiu 3,6%, tendo agora uma média de 324,7 gramas por dia e por habitante. 

Vinho e cerveja são as bebidas alcoólicas mais consumidas Em média, cada português terá bebido, segundo as contas da BAP, 302,2 mililitros de álcool por dia, ou seja, 110 litros por habitante em cada ano. Destes, 47,9 litros correspondem a vinho e 57,6 litros a cerveja. O aumento do consumo de bebidas alcoólicas deu-se em 2017. Mas em 2020 baixou para 98 litros por habitante, menos 14,3% face a 2019. 

Nas bebidas não alcoólicas, a água engarrafada continua a ser a bebida disponível em maior quantidade (61,7% do total), seguida pelos refrigerantes (32%) e pelos sumos (6,2%). No entanto, é de referir outro ponto positivo: as águas reforçaram a sua liderança no período de 2016 a 2020, com um aumento de 5,2 p.p (pontos percentuais) enquanto que os refrigerantes viram a sua posição perder 4,4 p.p. 

Em 2020 também a adesão à dieta mediterrânica aumentou 1,3% face a 2019 e aproximou-se dos valores de 2012, já que em plena pandemia, os portugueses acabaram por não ir tanto aos restaurantes e cafés. As disponibilidades diárias de café, cacau e chocolate para consumo vêm subindo há mais de dez anos e parecem não parar, registando no quinquénio em análise a 25,8 gramas por dia e por habitante.