Um mês depois da demissão do diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, diretor abandona cargo

Um mês depois da demissão do diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, diretor abandona cargo


Nuno Fachada tomou a mesma decisão do diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, Pinto de Almeida, que, em agosto, também se demitiu do cargo devido à falta de profissionais, o que obrigou ao encerramento da urgência naquele mês, revelou a Ordem dos Médicos.


Depois de há pouco mais de uma semana a Ordem dos Médicos (OM) ter constatado que o hospital de Setúbal tinha, no dia 20 de setembro,  47 doentes em macas nos corredores do serviço de urgência, situação que atribuiu à "carência crónica" de clínicos, agravada nos últimos anos, o diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal, Nuno Fachada, demitiu-se do cargo. O dirigente justificou a decisão com a situação de rotura nas urgências, entre outros motivos. À agência Lusa, o diretor confirmou a demissão, mas não quis prestar, para já, mais declarações. O Centro Hospitalar de Setúbal também confirmou "o pedido de demissão do diretor clínico", avançando somente "que o mesmo seguirá os trâmites normais".

Aos colegas, o médico escreveu que a "situação de rutura e agravamento nas urgências médicas, obstétrica, EEMI [Equipa de Emergência Médica Intra-Hospitalar]", assim como "dificuldades noutras escalas como a pediátrica, cirúrgica, via verde AVC, urgências internas, etc" são algumas das razões, sendo que referiu também a "falta de condições de atratividade dos médicos", "insuficiência ou não abertura de vagas sinalizadas", "dezenas de cortes mensais de salas operatórias" e "rutura em vários serviços por êxodo" de profissionais de várias especialidades.

Nuno Fachada acrescentou ainda a demissão com a "não resposta sobre a requalificação e financiamento do CHS [Centro Hospitalar de Setúbal] para grupo D", "afastamento e colapso dos cuidados primários de saúde, agravando as dificuldades dos doentes", assim como "incertezas quando ao ecletismo, adaptação e capacidade das obras das urgências". "Assim, só restaria a solução de romper com a situação vigente. Romper com a aceitação de continuarmos a ver o estertor do SNS [Serviço Nacional de Saúde], capturado por uma estrutura burocrática pesadíssima e crescente, que asfixia e parasita aquilo que melhor foi feito nas últimas quatro décadas e que tornou Portugal num país avançado, longe das altas taxas de mortalidade infantil e da baixa esperança média de vida", salientou num email institucional enviado aos colegas.

"Agora que assistimos ao abrandamento da pandemia, o benefício da dúvida dado às instâncias para olharem de outro modo para o CHS [Centro Hospitalar de Setúbal], seja na questão dos recursos médicos e outros profissionais, seja na requalificação do CHS, não se cumpriu, antes se agravou", redigiu, sendo que tomou a mesma decisão do diretor do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, Pinto de Almeida, que, em agosto, também se demitiu do cargo devido à falta de profissionais, o que obrigou ao encerramento da urgência naquele mês, revelou a Ordem dos Médicos.