Milhares de salvadorenhos manifestaram-se na quarta-feira, contra o presidente Nayib Bukele, rejeitando a instauração da bitcoin como moeda legal de El Salvador e apelando ao respeito pela Constituição do país centro-americano.
Durante a manifestação foi incendiado, no centro da capital, um dos 200 designados 'Pontos Chivo' instalados pelo governo para trocar bitcoins e dólares, as duas moedas legais no país.
No local, os manifestantes escreveram "Não ao 'Chivo' de Bukele" (a palavra chivo tem o sentido de 'ótimo' em linguagem familiar, que o governo usou para a qualificar a aplicação que permite operar com bitcoins, mas também significa 'cabra').
Em 07 de setembro, o El Salvador tornou-se o primeiro país do mundo a fazer do bitcoin a sua moeda legal, ao lado do dólar, que tinha substituído a moeda nacional, o colombo, há 20 anos.
A manifestação reuniu camponeses, operários, sindicalistas e opositores da bitcoin como moeda legal.
"Vamos de maneira acelerada para o autoritarismo, a ditadura", denunciou o juiz Esli Carrillo, em declarações à AFP, enquanto se manifestava com os seus pares e empregados do setor judicial.
Os juízes opõem-se a uma lei aprovada em 31 de agosto no parlamento, dominado pelos apoiantes do chefe de Estado, que prevê a passagem à reforma dos magistrados com 60 anos ou após 30 anos de serviço, o que significa a saída de um terço dos juízes em funções.
Os manifestantes reclamam também o "respeito pela Constituição", depois de uma decisão da Câmara Constitucional que abriu a via a uma candidatura de Bukele a um segundo mandato. Até agora, a interpretação consensual era a de que a Constituição do país interditava a reeleição de um chefe de Estado para um segundo mandato consecutivo.
Os juízes constitucionais que tomaram esta decisão foram nomeados pelo parlamento no primeiro dia da sua entrada em funções, depois de este ter destituído os seus predecessores, considerados hostis a Bukele.
"A República está em perigo, razão pela qual exigimos o respeito da separação de poderes e discordamos da possibilidade de reeleição do presidente", disse Zaira Navas, representante de uma organização não governamental de defesa dos direitos humanos.