Esta foi uma semana negra para as florestas portuguesas. Milhares de hectares arderam e dezenas de pessoas tiveram de abandonar as suas casas.
Na passada segunda-feira, o concelho de Castro Marim ficou envolto numa camada de fumo que se estendeu mais tarde aos concelhos vizinhos de Tavira e Vila Real de Santo António.
O incêndio deflagrou na madrugada de dia 15 no concelho de Odeleite e obrigou a retirar das suas habitações cerca de 80 pessoas. Pelas 16h20 desse dia, o incêndio mobilizava, de acordo com o sítio na internet da Proteção Civi, 534 operacionais.
O comandante operacional distrital de Faro da Proteção Civil, Richard Marques, explicou que o «incêndio de Castro Marim progrediu de forma fulminante para os concelhos de Tavira e Vila Real de Santo António», salientado que se estava «perante um incêndio que teve uma taxa de expansão de 650 hectares por hora, um incêndio que lavrou com muita intensidade, atingido um perímetro de 43 km numa área afetada de cerca de 9 mil hectares» e cujo potencial era de «20 mil hectares».
O incêndio foi dado como dominado no dia seguinte pelas 16h02, tendo prosseguido, durante o resto do dia «os trabalhos de consolidação de rescaldo», adiantou o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro. Pelas 16h40, estavam no local 530 bombeiros, apoiados por 190 viaturas terrestres e cinco meios aéreos. As chamas afetaram uma «área estimada de 6700 hectares, já [calculada] com recurso ao sistema Copérnico, da União Europeia», afirmou Richard Marques.
No combate ao fogo, um bombeiro ficou com ferimentos ligeiros e 80 cães e 110 gatos tiveram de ser resgatados de canis/gatis.
Já na quarta-feira deflagraram outros dois incêndios de grande dimensão: um na freguesia do Ameixial, em Loulé, e outro em Sabóia, Odemira.
O alerta no Ameixial foi dado pelas 16h30, tendo o fogo sido considerado dominado pelas 21h40 do mesmo dia, sem registo de danos ou de feridos. Pelas 22h30, estavam ainda no local 134 operacionais apoiados por 45 viaturas. Fonte da CDOS de Faro tinha ainda afirmado à agência Lusa durante a tarde que o incêndio lavrava com duas frentes ativas em zona de mato. Ainda segundo a mesma fonte, apesar da «expansão grande» das chamas «o combate foi eficaz» e «não houve registo de danos ou vítimas».
O incêndio que deflagrou na freguesia de Sabóia, no concelho alentejano de Odemira, foi considerado dominado pelas 18h40 de quinta-feira, segundo informação veiculada pela Proteção Civil.
No entanto, pelas 19h40 do mesmo dia, de acordo com dados da plataforma fogos.pt, 662 meios operacionais, 219 meios terrestres e seis meios aéreos ainda se encontravam envolvidos no combate às chamas.
O fogo, que deflagrou pouco depois das 13h00 de quarta-feira, junto ao lugar de João Martins, na freguesia de Sabóia, consumiu uma área estima de 1100 hectares, num perímetro de 20 quilómetros.
A operação de combate envolveu meios dos bombeiros e da Força Especial de Proteção Civil, assim como a AFOCELCA, GNR e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Na quinta-feira, mais de 50 concelhos dos distritos de Bragança, Guarda, Viseu, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Santarém, Portalegre e Faro apresentavam um risco máximo de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O IPMA colocou também 18 concelhos de todos os distritos do continente (18) em risco muito elevado e elevado de incêndio.
O risco de incêndio vai manter-se elevado em algumas regiões do continente pelo menos até segunda-feira.
Tendência para piorar
Se a situação parece difícil agora, as perspetivas para o futuro não são muito melhores. Em entrevista ao i da passada sexta-feira, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, perspetivou que episódios graves «poderão continuar a repetir-se pelos anos fora e até com pior incidência e com maior gravidade».
Apesar de Portugal ter, segundo Marta Soares, «os melhores bombeiros da Europa e do mundo», existem «falhas de organização que têm de ter uma inversão de 180 graus».
«O Estado fez ouvidos moucos, durante muitos anos, face aos que os cientistas diziam sobre o aquecimento global do planeta, às baixas taxas de humidade, aos ventos atípicos, à nossa localização na influência do Mediterrâneo que nos tornou num país de crescimento muito rápido em termos de floresta», referiu ainda o presidente da Liga dos Bombeiros.
Drones em terra
«Enquanto em Portugal a coordenação dos incêndios é feita em terra, em Espanha é feita pelo meio aéreo, têm um campo de visão completamente amplo», afirmou ao i na semana passada o consultor para organismos do Estado na área dos Riscos Naturais e dos Incêndios Florestais, Emanuel Oliveira.
De acordo com o jornal El Español, a comunidade de Madrid destinou 41 milhões à luta contra os incêndios. A unidade de drones do corpo de bombeiros, criada em 2019, conta com cinco bombeiros, um chefe, dois drones pesados (com seis motores e hélices) e outros três ligeiros (de quatro motores e hélices) capazes de substituir os meios aéreos durante a noite.
No entanto, os 4,5 milhões de euros que a Força Aérea investiu no ano passado nestes equipamentos não parecem estar a dar frutos. A queda de um aparelho fez com que a Força Aérea Portuguesa suspendesse todos os voos de drones das missões de vigilância florestal e deteção de incêndios. Desde o verão do ano passado, foram registados quatro incidentes, pelo que, até 31 de julho de 2021 só foram realizados 25 planos de voo, 13 dos quais em Beja e 12 na Lousã.