Com o devido respeito pelas pessoas envolvidas, e que são muitas, infelizmente, a situação do Afeganistão faz-me lembrar muito a rábula da ida à guerra de Raul Solnado – e volto a repetir, não estou a falar do drama de milhões de pessoas. Falo sim, da convivência das tropas americanas com os fundamentalistas talibãs.
Como é possível continuarem a conviver lado a lado, tendo os americanos o controlo do aeroporto, mas no exterior e redondezas serem os talibãs a ditar leis? E até quando os fundamentalistas vão aguentar antes de deitarem algum helicóptero ou avião a baixo?
É tudo tão estranho que não consigo visualizar a convivência entre estes dois inimigos que nos últimos 20 anos se tentaram matar uns aos outros. Que raio de acordo assinaram para respeitarem que a guerra feche, como na de Solnado, no aeroporto de Cabul?
Independentemente disso, o drama que milhões de afegãos estão a passar faz-nos lembrar, obviamente, o que se passou na descolonização portuguesa, onde o Estado português deixou para trás milhares de soldados que tinham combatido nas suas fileiras e a quem nem teve a mínima dignidade de dar a nacionalidade portuguesa.
Ficaram para trás e muitos acabaram fuzilados pelas forças que tomaram o poder, apoiado pela antiga União Soviética. Ainda há poucos meses alguns antigos combatentes guineenses se manifestaram em Bissau exigindo que o Estado português os reconheça. Mas em vão.
Quando tantos exigem, e bem, que os americanos e as restantes forças da NATO reconheçam e deem guarida aos afegãos, e respetivas famílias, que colaboraram com as embaixadas, as tropas, etc, seria interessante que aqueles que nasceram portugueses nas antigas colónias e não conseguiram a nacionalidade depois do 25 de Abril encontrassem agora uma vaga de fundo para serem reconhecidos como tal.
Voltando ao drama do Afeganistão, parece óbvio que a Europa terá de abrir as suas fronteiras para receber os milhões de afegãos que serão mortos ou espezinhados se ficarem lá. O sinal que os animais talibãs têm dado não revela nada de bom. As mulheres que o digam.