“A situação do Banco de Montepio não se deve apenas às dificuldades que enfrenta o negócio bancário em Portugal, mas fundamentalmente à própria administração do banco”. A crítica é de Eugénio Rosa – que encabeça uma das listas para a liderança da Associação Mutualista que irá a votos no final do ano – aos prejuízos anunciados pela instituição financeira de 33 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, ainda assim uma melhoria face às perdas de 51 milhões de euros registados em igual período de 2019.
O banco liderado por Pedro Leitão adiantou que o prejuízo apurado nos primeiros seis meses do ano incorpora um custo de 23 milhões de euros relacionado com as contribuições obrigatórias do setor bancário, Fundo de Garantia de Depósitos, Fundo de Resolução e Fundo Único de Resolução.
Um argumento que não parece convencer o economista que compara o número de administradores da Caixa com os do Montepio. “A administração do banco Montepio tem o mesmo número que a CGD (16), com reduzida experiência de banca de retalho e comercial, como é o Banco Montepio, revela, passados mais de 2 anos após a entrada em funções, incapacidade para reverter a situação de prejuízos persistentes”, diz num estudo a que o i teve acesso.
E dá exemplos. Eugénio Rosa garante que, entre 2019 e o 1.º semestre de 2021, o crédito líquido concedido por cinco bancos (excluindo o Banco Montepio) aumentou em 3,9%, enquanto na instituição financeira liderada por Pedro Leitão o crescimento fixou-se em 1,7% (ver quadro).
O mesmo cenário repete-se no caso dos depósitos, com estes a crescerem 13,6% no mesmo período, enquanto no Montepio ficou pelos 0.8%. “Se comparamos o Banco Montepio com o Crédito Agrícola, um banco com uma dimensão muito semelhante, conclui-se que no Crédito Agrícola, durante o mesmo período, o crédito concedido aumentou 8,1% e os depósitos 26,7%: percentagens muito superiores às registadas pelo Banco Montepio. Como consequência desta evolução, o Banco Montepio tem perdido quota de mercado”, alerta o economista, acrescentando que “a provar isso, entre 2019 e o 1.º semestre de 2021, em relação aos cinco bancos, no crédito a sua quota diminuiu de 7,4% para 7,3% e, nos depósitos, baixou de 6,5% para 5,7%”.
E para Eugénio Rosa , as perspetivas não são animadoras. “É de prever que dupliquem até ao fim do ano porque estes resultados não foram auditados e certamente o auditor (PwC), será mais rigoroso no cálculo das imparidades quando tiver de auditar as contas no fim do ano: o Banco Montepio tem três mil milhões de euros de créditos em moratória e ainda 1100 milhões de créditos improdutivos, os NPL”.
Raio X O economista lembra que com a entrada em funções de Pedro Leitão para presidente da comissão executiva do conselho de administração foi registada uma subida, embora muito reduzida, do crédito líquido, dos depósitos e do rácio de transformação, mas “claramente insuficiente para se poder concluir que se iniciou um movimento de recuperação”.
E dá números. Entre 2019 e o 1.º semestre de 2021, o crédito líquido aumentou 194 milhões (+1,7%), mas continua inferior ao de 2017 em 1371 milhões, os depósitos subiram com Pedro Leitão em 98 milhões (+0,8%), sendo superiores aos de 2017 em 62 milhões e o rácio de transformação – que dá o valor de credito concedido por cada 100 euros de depósitos – aumentou de 91,5% para 92,4%. Também os capitais próprios do banco sofreram uma descida. Sob a liderança de Carlos Tavares perdeu 311 milhões (-17,6%), mas com Pedro Leitão caiu 101 milhões (-6,9%), “o que determina que, em junho de 2021, os capitais próprios do banco Montepio sejam inferiores aos que tinha em dezembro de 2018, em 412 milhões (-23,4%), acrescentando que “sem Capitais Próprios suficientes o banco está impossibilitado de aumentar significativamente o negócio bancário (crédito concedido) e corre o sério risco do Banco de Portugal impor à Associação Mutualista uma nova recapitalização do banco”, lembrando que o Banco Montepio não “transfere há 14 anos quaisquer dividendos para a Associação Mutualista, ou seja, não remunera os 2420 milhões que a AMMG tem aplicados” na instituição financeira.
Redução de estrutura Perante a incapacidade de encontrar soluções e medidas para ultrapassar os problemas, o economista acusa a atual administração de optar pelo fecho de balcões e de redução de número de trabalhadores, aliás um caminho que tem sido seguido por todo o setor (ver texto ao lado). Entre 2018 e o 1.º semestre de 2021, foram encerrados 53 balcões e afastados 283 trabalhadores. “E esta destruição do banco e do emprego não pára. Em agosto de 2021 está previsto o fecho de mais 16 balcões e a maioria dos seus trabalhadores ficarão em casa sem trabalho. Desta forma vai-se preparando as condições para fazer um grande despedimento após as eleições, se a atual administração da Associação Mutualista ganhar as eleições”.
E deixa um alerta: “O encerramento deste número de balcões e a redução de um número tão elevado de trabalhadores só agravará a situação do banco, uma vez que, destrói a capacidade de recuperação e torna-o ainda mais frágil perante a concorrência. É uma ilusão pensar que se resolvem os problemas que tem o banco fechando balcões e destruindo emprego (despedindo trabalhadores)”, referiu.