É repórter do New York Times há quase 39 anos, mas a paixão pelo jornalismo surgiu antes. David E. Sanger foi editor do jornal da escola secundária que frequentou, em Nova Iorque, e teve o mesmo papel no Harvard Crimson, quando estudava Government. De uma das instituições de Ensino Superior com mais prestígio no mundo, passou para a redação e melhorou as capacidades jornalísticas, admitindo que não sentiu a necessidade de estudar o ofício que praticou desde adolescente, ao contrário do avô paterno Elliott Sanger, que se formou na Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia e, posteriormente, formou a rádio WQXR-FM.
Curiosamente, a avó paterna de David, Eleanor Naumburg Sanger, juntava-se ao marido no trabalho radiofónico e foi diretora de programas daquela estação. Assim, pode dizer-se que fazer jornalismo é algo que corre no sangue do jornalista. No entanto, o reconhecimento não lhe foi servido de bandeja, pois, além de cobrir Washington, a Casa Branca e a segurança nacional dos EUA, foi correspondente do jornal em Tóquio, passando seis anos na cidade a explorar a forma como é que o Japão ascendia gradualmente a concorrente dos EUA, tendo escrito também muitos dos primeiros artigos jornalísticos acerca do programa de armas nucleares da Coreia do Norte.
Porém, ainda no início da carreira, em 1986, com apenas 26 anos, foi um dos membros da equipa que investigou as causas do desastre da nave espacial Challenger. Este trabalho valeu-lhe um prémio Pulitzer. Viria a ser galardoado novamente em 1999, por integrar o grupo que investigou as lutas que decorriam, no seio do Governo de Bill Clinton, para controlar as exportações de tecnologia para a China.
Na lista de prémios arrecadados conta também com o Prémio Weintal, em 2004, por reportagens na cobertura das crises do Iraque e da Coreia do Norte, tal como com Aldo Beckman pela cobertura da presidência. Nos anos de 2003 e 2007, recebeu o prémio Merriman Smith Memorial, pela cobertura de questões de segurança nacional. Além disto, foi distinguido com outros galardões e, em 2016, a cobertura que realizou da “Operação Jogos Olímpicos” foi adaptada para o grande ecrã por meio do documentário “Zero Days”.
Agora, a façanha repete-se com “A Arma Perfeita”, livro lançado em 2018 e traduzido para português no mês corrente. O documentário homónimo, realizado pela HBO, foi lançado em outubro de 2020 e, dois meses depois, já havia sido visto por um milhão de pessoas. Contudo, David mantém-se humilde e continua a querer chegar cada vez mais longe, explorando a cibersegurança e as suas lacunas.
“No fim do primeiro ano de Presidência de Donald Trump, o seu secretário da Defesa, Jim Mattis, fez uma recomendação: com tantos países de todo o mundo a ameaçarem as redes de fornecimento de energia e de água dos Estados Unidos, Trump devia mostrar-se publicamente decidido a tomar medidas extraordinárias para proteger o país. Se qualquer outro país atingisse as infraestruturas críticas americanas com um ataque devastador, mesmo não nuclear, devia estar prevenido para que a retaliação fosse um ataque nuclear”, lê-se no início do prefácio d’A Arma Perfeita, única obra de David E. Sanger traduzida para português.
Depois de The Inheritance: The World Obama Confronts and the Challenges to American Power, publicado em 2009, e Confront and Conceal: Obama’s Secret Wars and Surprising Use of American Power, de 2012, o jornalista continua a realçar a ideia de que, apesar de todos os obstáculos que tem tentado contornar e dos ciberataques que tem sofrido, a América ainda não sabe lidar com a ciberguerra.
É correspondente do New York Times para a segurança nacional há quase 40 anos.
No próximo mês, completo 39 anos de carreira. Já fui o correspondente principal em Washington e também trabalhei a partir de cidades como Nova Iorque e Tóquio. Estive na Ásia durante seis anos e escrevi alguns dos primeiros artigos sobre o programa de armas nucleares da Coreia do Norte. Quando voltei aos EUA, foquei-me na economia e, depois, durante os mandatos de Bill Clinton e George W. Bush, fui correspondente na Casa Branca. Voltei a tratar a política de forma mais direta porque Joe Biden está no poder e o New York Times precisava de ajuda para dar a entender aos leitores aquilo que se passa no âmbito da segurança nacional.
Já integrou duas equipas que alcançaram o Prémio Pulitzer.
Nos anos 80, investigámos as causas do desastre da nave espacial Challenger e revelámos as falhas no design e os problemas burocráticos que levaram à morte de toda a tripulação. Alguns anos depois, escrevemos sobre as lutas do Governo Clinton para controlar as exportações para a China. Mais recentemente, fui finalista com a cobertura do tsunami de 2011, no Japão, que provocou o acidente nuclear de Fukushima.
Alguma vez se sentiu/foi ameaçado por tratar a segurança nacional?
Essa pergunta é curiosa porque há cerca de dois anos, numa entrevista para o meu jornal, expliquei um dos episódios mais caricatos que vivi. Estava em Beijing, em 2017, com o secretário de Estado Rex Tillerson, e caí no erro de pesquisar sobre o massacre da Tiananmen Square. Encontrava-me no meu quarto, no hotel, e estava a usar um hotspot de Internet. Ele simplesmente parou de funcionar e eu nunca consegui “reanimá-lo”! Depois, de regresso aos EUA, entendi que a China o tinha destruído.
Há histórias sobre “guerra, sabotagem e medo na era da ciberguerra” que ainda não contou? Se sim, transmitiu-as em “A Arma Perfeita”?
Naquilo que diz respeito às histórias: quando trabalhos para um órgão de informação competitivo, creio que não servimos bem os leitores se ocultarmos conteúdos. Existem detalhes nas diversas narrativas que têm de ser deliberadamente cortados porque não tenho espaço suficiente para publicar cada pormenor da investigação e, por outro lado, consigo entender que há certas nuances que se adaptam melhor a um formato de livro. Por exemplo, antes do lançamento de Confront and Conceal, o meu livro anterior, de 2012, dei a conhecer a chamada Operação Jogos Olímpicos nas versões impressa e online do jornal. Mas, no livro, consegui revelar, a um nível muito mais profundo, como é que Bush e Obama estavam envolvidos nos ciberataques levados a cabo contra o Irão. Neste caso, as pessoas tinham a tendência de reagir muito mais à história através da leitura do livro. Normalmente, descrevemos o mundo em alguns milhares de caracteres e é sempre bom termos a oportunidade de escrever mais. E ainda há a questão da adaptação das investigações para formatos como documentários que são, habitualmente, muito apreciadas por quem não lê livros nem jornais.
Quais são as principais diferenças entre o livro e o documentário homónimo da HBO?
Acho que o diretor, John Maggio, fez um grande trabalho. É claro que se destinou às grandes massas e não foi possível chegar ao nível de detalhe pretendido. No entanto, estou ciente de que o impacto é gigantesco. O documentário foi lançado em outubro de 2020 e, por volta do Natal, já tinha sido visto por cerca de um milhão de pessoas. Este tipo de audiências não costuma saber tanto sobre os temas como um leitor convencional e, portanto, faz-se uma espécie de “aula introdutória”: escolhemos exemplos que podem ser visualmente cativantes. Por exemplo, no caso da invasão dos e-mails da Sony, no livro, não me foquei na forma como o filme The Interview afetou o Seth Rogen – ele e o James Franco interpretavam o papel de dois jornalistas que vão à Coreia do Norte entrevistar o Kim Jong-un e são recrutados pela CIA para matá-lo –, mas tal foi importante na HBO. Ele nunca mais trabalhou como diretor. O hack do Casino de Las Vegas, que expôs dados de mais de 10 milhões de clientes, não foi o maior do mundo, mas toda a gente questionou-se acerca do interesse que os iranianos podiam ter nesse ataque. E, assim, explicámos os seus propósitos.
Quando se apercebeu de que a ciberguerra era um tópico que devia explorar?
Aconteceu quando estava a trabalhar no meu primeiro livro, The Inheritance, e aprofundei aquilo que Bush deixou a Obama. Estávamos a viver a crise de 2008 e o Presidente foi confrontado com desafios que, a meu ver, só podem ser comparados com aqueles que Franklin D. Roosevelt enfrentou. No final do livro, apresentei três cenários de coisas que poderiam afetar verdadeiramente o mundo: as armas nucleares caírem nas mãos dos terroristas, as armas biológicas e a inteligência artificial. Quando estava a fazer a cobertura da segurança interna, a administração Obama era extremamente cooperante em relação à forma como nos devíamos defender dos ciberataques, mas o oposto quando dizia respeito a revelar como pensavam nos ataques no cibermundo. Quando a “Operação Jogos Olímpicos” decorreu, estávamos cientes daquilo que se seguiria e, por isso, nasceu uma nova maneira de fazer jornalismo relacionado com a segurança nacional.
Acredita que essa nova vertente se desenvolveu porque, ao contrário de muitos jornalistas, que estudaram jornalismo, tirou a licenciatura em “Government” na Universidade de Harvard e adquiriu ferramentas distintas?
Foi uma decisão fácil para mim porque a universidade não oferece um curso de jornalismo. Por exemplo, dentro da Ivy League, temos uma excelente escola, a Columbia Journalism School, mas a minha instituição não. No entanto, a Jill Abramson, que foi minha editora, ensina Jornalismo de Investigação em Harvard, mas no departamento de Inglês. Aquilo que Harvard tem, provavelmente, é o melhor jornal estudantil dos EUA – The Harvard Crimson – e, como muitos dizem, do mundo. Tem quase 150 anos e até o Franklin Roosevelt o dirigiu.
Além disso, já tinha sido editor do jornal The Orange, da sua escola secundária.
Sim. Por isso, acredito que não me fez falta frequentar uma escola de jornalismo. A minha licenciatura ajudou-me a pensar muito mais em estratégia, pois aprendi acerca dos tópicos que viria a cobrir. Por exemplo, já escrevi muito com o Bill Broad, repórter de ciência, sobre armas nucleares e não sei se o teria feito da mesma forma se tivesse seguido outro percurso académico.
Se tivesse de tomar uma decisão hoje, seria a mesma?
Provavelmente, optaria por algo como História, pois acho que tal enriqueceria os meus trabalhos, mas Direito também me soa bem. Apesar disto, não ficaria surpreendido se escolhesse “Government” novamente.
É professor no departamento de Políticas Públicas em Harvard. Atualmente, ensina “Desafios Centrais da Segurança Nacional da América, Estratégia e Imprensa”.
Divido a cadeira com o professor Graham Allison e penso que ele segue a carreira de docência há aproximadamente 50 anos. Na verdade, fui aluno dele, mas abordávamos muito mais a Guerra Fria. Assim, mudámos muito a estrutura curricular e introduzimos imensa matéria acerca do cibermundo.
De que modo a ligação à academia o beneficia? Imagino que os seus estudantes se interessem muito pelas novas tecnologias.
Tenho estudantes da licenciatura, mas a maioria são mestrandos e veteranos que regressam do Iraque, do Afeganistão e outros países. É uma disciplina que se foca nos principais problemas da segurança norte-americana. Quero que as pessoas compreendam que, durante anos, relegaram o cibermundo para segundo plano, mas está no cerne de tudo: é através dele que os países se atacam, influenciam e enfraquecem. Nas últimas semanas, isto tem sido mais claro do que nunca. Basta pensarmos no encontro Biden/Putin que decorreu, no mês passado, em Génova e que tive a oportunidade de cobrir. Tem havido longas conversas entre os líderes russos – antes, soviéticos – e norte-americanos, mas com o pretexto de discutir armas nucleares. Foi assim que se tentou controlar as ciberarmas e não tem corrido muito bem até agora.
No mês passado, foi noticiado que a Câmara Municipal de Lisboa enviou dados de ativistas anti-Putin à embaixada russa. Tem conhecimento disto?
Já li um pouco sobre a situação, mas tenho de me inteirar para falar sobre ela.
Quando terminou o seu segundo livro, desejou de imediato escrever este ou a ideia foi surgindo gradualmente?
Essa obra termina com a “Operação Jogos Olímpicos” e fui debatendo os contornos da mesma com os meus editores. Depois, fiz uma segunda leitura do Nuclear Weapons & Foreign Policy, de 1957, do Henry Kissinger, e foi a primeira vez que alguém escreveu para tentar explicar o modo como as armas nucleares alteravam os fundamentos da política externa. Afinal, mudaram as relações entre as superpotências. Conheço o Kissinger e fui ter com ele e disse-me: “É muito complicado lidar com ciberarmas porque tantas pessoas podem consegui-las, enquanto as armas nucleares eram detidas por um universo pequeno. Sabíamos onde estavam e quem as lançaria e este não é o caso na arena do cibermundo”.
Entrevistou-o quando ele já tinha 94 anos.
Ele tem precisamente a idade do meu pai, tem 98 anos atualmente. Ligo-lhe algumas vezes.
Como é que as ciberarmas transformaram a geopolítica?
Vivemos num mundo em que nenhum país quer envolver-se num conflito militar direto com os EUA ou outra superpotência. Sabemos como tal acabaria. Há uma razão pela qual isto não acontece: toda a gente tem noção de que o mundo acabaria em poucas horas. Felizmente. No entanto, temos ciberconflitos, manipulação de dados e espionagem a decorrerem todos os dias. A cada um ou dois meses, temos ataques a infraestruturas essenciais que podem ou não afetar o mundo físico. Imaginemos que alguém reúne todos os poderes do mundo numa arma que pode usar para atacar todas as outras pessoas: é isto que acontece. Podemos aprender a criar defesas cada vez maiores e melhores. O problema é que existem atitudes provocadas pelo medo – “se me atacas, eu ataco-te” – e pela negação – “vai em frente e tenta, mas não és tão bom quanto eu”. É mais ou menos neste patamar que estamos enquanto país. Queremos atacar, mas não sabemos como.
Em “A Arma Perfeita”, deixa claro que “têm um preço baixo, são fáceis de negar e podem usar-se para uma vasta quantidade de propósitos maliciosos”.
As armas nucleares são caras, muito difíceis de negar e não são fáceis de usar. Por isso, as ciberarmas são bem mais úteis, principalmente, para os Estados mais pequenos e desconectados. A vantagem das ciberarmas reside, quase inteiramente, nos países menos conectados a atacarem os mais conectados. A Coreia do Norte pode prejudicar-nos de todas as formas. Se quiseremos atacar as infraestruturas cibernéticas de lá, como é que o fazemos? Mal têm uma. A certo nível, estão isolados, mas podemos tentar atacar a sua economia, processar determinadas pessoas…
“As ciberarmas são os instrumentos preferidos tanto de democracias como de ditadores e terroristas”, pode ler-se no livro.
Uma das melhores coisas de trabalhar como repórter é entendermos como diversas vertentes estão interligadas. Por exemplo, as pessoas recebiam cartas com a mensagem de que o número da Segurança Social lhes tinha sido roubado tal como outra informação pessoal. Sabiam que estavam a ser atacadas, mas desconheciam a razão. É aí que podemos fazer um progresso significativo.
Apercebemo-nos do perigo que corremos?
Ao longo do caminho, entendi que as pessoas não pensavam muito nos diferentes tipos de ciberataque. A maioria tem a ver com roubo de dados e há um lado criminal: podem roubar um cartão de crédito e usá-lo até não haver dinheiro, por exemplo. Ataques como o do Office of Personnel Management, pela China, constituem um esforço para obter informação muito específica. Por isso é que roubaram informação de saúde de companhias de seguros e até os números dos passaportes dos mais de 320 milhões de hóspedes do Marriott e outros hotéis do grupo Starwood. Os norte-americanos encaram estes ataques como se fossem de cariz individual, mas a verdade é que a maioria é muito pensada, bem preparada e dirigida a centenas, milhares e milhões de indivíduos.
Por isso é que defende que os EUA continuam mal preparados para enfrentar estes problemas?
Em 2015, houve uma invasão à rede do Comité Nacional Democrata. Os hackers operaram sob o pseudónimo “Guccifer 2.0” e, inclusivamente, trouxeram a público e-mails sobre o planeamento da campanha entre altos funcionários. O problema é que essas comunicações provavam que havia comportamento impróprio por parte de funcionários do Partido Democrata que pareciam beneficiar Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders.
Tanto que Brad Marshall, diretor financeiro do comité, enviou um e-mail com a seguinte mensagem: “Podemos conseguir que alguém lhe pergunte a crença. Ele acredita em Deus e ‘patinou’ ao dizer que tinha uma herança judaica”. De facto, não se sabia a quem se referia ao utilizar o pronome pessoal “ele”, mas sempre se desconfiou de que era a Bernie Sanders.
O comité deve ser neutro durante uma campanha eleitoral. Lembro-me perfeitamente de que era dia 7 de outubro, estava na redação e percebi que o relatório sobre inteligência estava pronto para ser conhecido. E veio a público. Apesar de não ser muito longo, entendia-se que não só os EUA tinham chegado à conclusão de que a Rússia era responsável pelo ataque ao comité e organizações similares como se entendeu que o mesmo tinha de ter sido pedido pelas instâncias mais altas do Governo daquele país. Bom, e tenho de dizer que, no mesmo dia, vi o vídeo em que Donald Trump se gaba de como lidava com as mulheres quando era “uma estrela” e de como era capaz de se safar de qualquer coisa. As duas histórias fizeram a primeira página do New York Times do dia seguinte.
Os norte-americanos teriam votado da mesma forma se isto não tivesse acontecido?
Teria de entrar na cabeça de cada norte-americano para saber se Donald Trump teria ganhado a eleição sem a interferência russa. Há quem defenda que ele não teria sido eleito, mas suspeito que teria estado no poder de qualquer modo. Foi uma eleição renhida.
A arrecadação de fundos é uma função importante do comité e os e-mails sugerem que o mesmo não teve cuidado naquilo que diz respeito ao tratamento das informações privadas de quem fazia donativos. Por exemplo, foi partilhada uma imagem de um cheque no valor de 150 mil dólares (equivalente a aproximadamente 127 mil euros).
Isso não é fascinante. As pessoas costumavam ler as cartas umas das outras e até intercetavam chamadas telefónicas. Por isso, não me surpreende que e-mails sejam lidos. O novo uso do cibermundo é sabotar e manipular para atingir algo: isto é muito mais interessante.
E a Rússia “apenas” hackeava e-mails ou insistia noutros métodos?
Só descobrimos aquilo que tinha acontecido em junho, mas foi a meio de outubro e princípios de novembro que começámos a perceber que havia muito mais por detrás desta operação. Havia “bots” que procuravam e reproduziam informação dúbia que podia favorecer Trump e desfavorecer Clinton. A ascensão das fake news tomou proporções nunca vistas.
Quais são as maiores diferenças entre a forma como Obama, Trump e Biden veem a ascensão da ciberguerra?
Bush e Obama fizeram muitas experiências, mas nunca tentaram construir uma visão global da problemática. Trump fez um progresso muito pequeno porque ninguém podia falar de ciberataques sem ele considerar isso um ataque pessoal ao modo como ganhou as eleições. Portanto, isso “congelou” a maioria das coisas. Biden tem feito coisas interessantes, pois tenta proteger as infraestruturas, forçar as companhias a mudarem as suas práticas dizendo que têm de perceber de cibersegurança e tornou as criptomoedas mais transparentes ao propor que as transferências das mesmas que superem os 10 mil dólares [cerca de 8 mil e 455 euros] sejam reportadas às autoridades fiscais dos EUA. Ele tem sido mais ativo em cinco ou seis meses, neste tópico, do que qualquer outro dos seus antecessores.
Que países têm as melhores ciberarmas?
Os EUA, a China – melhor na espionagem –, a Rússia – forte na vertente disruptiva – o Reino Unido, Israel, a Coreia do Sul, a Austrália e, por fim, a Coreia do Norte e o Irão – estão uns quantos passos atrás. Acredito que haja 35-40 países que conseguem fazer usos eficazes das ciberarmas. O mundo está a mudar muito mais rapidamente do que pensamos. Se não entendemos isto, estamos presos no período compreendido entre 1945 e 2010 naquilo que diz respeito à forma como as nações colidem. O desafio dos nossos tempos é conter as ciberarmas, percebê-las, regularizá-las e entender quais são os limites. Porque, se não o fizermos, passaremos de uma ciberguerra para um conflito real.
Está a trabalhar neste tema ou noutros?
Tenho estado a pensar noutro livro que se focará na forma como Biden trata a cibersegurança. Já escrevi alguns artigos para o New York Times e, agora, vou tentar adaptá-los à literatura.