O mundo digital está cheio de novas oportunidades. Aplicações como o Facebook, o Instagram e o WhatsApp mantêm-nos próximos dos nossos amigos e conhecidos. O Tinder, Bumble e Grindr ajudam aqueles que querem conhecer novas pessoas e criar novas amizades, e, quem sabe, algo mais. A nível económico, o que não falta são aplicações para balançar as nossas finanças, gastos e despesas, e procurar manter o controlo sobre a nossa carteira. Mas o mundo digital serve nos dois sentidos. Tanto nos dá plataformas para gastarmos dinheiro – em espaços como a Amazon, eBay ou centenas de outras lojas online – como para o ganharmos. Há quem aposte no mundo das criptomoedas e arrisque algum do seu património. Para aqueles, no entanto, que não querem riscos e que estão satisfeitos com taxas de retorno nos cêntimos há toda uma panóplia de aplicações para ganhar algum “dinheiro de bolso”.
Desde a transformação de passos em dinheiro ou pontos para trocar por produtos, até à retribuição por ver anúncios ou preencher inquéritos, os smartphones e os computadores transformaram-se em plataformas para ajudar aqueles que procuram fazer algum dinheiro, de forma fácil e sem investimento.
A maioria destas aplicações funciona sob o mesmo conceito: o utilizador realiza uma tarefa proposta (dar um certo número de passos, preencher um certo número de questionários ou ver um certo número de anúncios) e, em troca, a aplicação credita o saldo do utilizador, diretamente com dinheiro ou, na maioria dos casos, com um sistema de pontos próprio que podem ser depois trocados ou por vales ou por descontos em compras de determinados produtos.
Existe ainda um interessante nicho dentro deste tipo de aplicações, em que o dinheiro arrecadado ao completar as missões propostas não vai para o utilizador, mas sim para uma obra de caridade à escolha do mesmo. Um serviço que serve para aqueles que, mesmo sem realizar uma doação direta, pretendem ajudar certas causas.
Geolocalização e proteção de dados Uma das questões que surge frequentemente quando se fala destas aplicações é a segurança e a fiabilidade. Em Portugal, dezenas dos serviços mais populares mundialmente associados à troca de passos, ou outras tarefas, por dinheiro, não estão disponíveis e isto deve-se ao contorno legal em que estas aplicações funcionam, que variam de país para país. Até dentro da própria União Europeia, que se rege por um conjunto bastante homogéneo de regras sobre proteção de dados e privacidade, há certas aplicações que só estão disponíveis em determinados Estados-membros.
Ao i, João Gabriel, Presidente da Direção da Associação de Encarregados de Proteção de Dados (AEPD), deu conta de alguma ambiguidade no assunto, e alguma falta de debate sobre o mesmo, e sobre o condicionalismo associado ao facto de ser uma atividade remunerada. “Existem limites que terão de ser respeitados e uma série de dificuldades relativamente à utilização de dados de categoria especial, que poderão precisar de um consentimento explícito, livre e informado por parte do titular dos dados, que poderá ser sempre colocado em causa devido à remuneração latente”, explicou João Gabriel em relação ao caso específico das aplicações em questão, que revelou que nos fóruns de debate interno da AEPD “esta questão já se levantou, no âmbito da atividade de determinados encarregados de proteção de dados e que a discussão levantada decorre normalmente à volta da questão de saber se o consentimento pode ser livre, caso o mesmo seja remunerado”.
A AEPD não poupa na chamada de atenção sobre os contornos deste tipo de aplicações, explicando que “a vida digital reúne riscos, e os riscos devem ser acautelados, pelo que um maior acesso a informação relativa à vida privada, como os contadores de passos e a geolocalização, por ter a potencialidade de invadir essa esfera, deve no caso concreto ser precavido”.
Uma coisa é certa, estas aplicações terão sempre de ter acesso à geolocalização do utilizador, bem como à contagem de passos que o smartphone faz. Dois dados que, para alguns, poderão ser de uma índole demasiado privada para partilhar com as empresas por trás destas aplicações. A realidade, no entanto, é que sem estes dados os serviços não têm como funcionar, já que não têm forma de verificar se o utilizador efetivamente se deslocou, ou se encontrou outra forma de enganar o sistema para conseguir mais dinheiro – por exemplo, conduzir com a aplicação aberta no telemóvel não permite obter grandes distâncias, já que a aplicação consegue, através da velocidade a que se está a deslocar, perceber que o utilizador não está a caminhar, mas sim a conduzir.
Quanto se ganha com estas aplicações? Como diz a velha máxima, não há almoços grátis. O uso destas aplicações, na maioria das vezes, é gratuito e não requer do utilizador qualquer investimento financeiro. Facilmente, qualquer pessoa se pode dedicar a, durante uma hora diária, deixar vários anúncios a correr no seu smartphone, ou simplesmente ir passear com o telemóvel no bolso, e em troca receber dinheiro, ou pontos, conforme o tipo de aplicação. Ainda assim, os ganhos nunca são o suficiente para que a pessoa possa viver só destes serviços, nem perto disso. Por exemplo, a aplicação Cash for Steps tem um sistema em que o utilizador poderá ganhar um dólar por dia, se entrar no top 200 mundial de pessoas com mais passos naquele dia, e o sorteio diário – que escolhe 20 desses 200 utilizadores – optar pelo seu nome para vencer um dos prémios.
Em Portugal, o exemplo mais fácil de explicar é o da aplicação Sweatcoin, que transforma os passos dados pelo utilizador numa criptomoeda própria da aplicação, com o mesmo nome. Cada 1000 passos equivalem a cerca de uma sweatcoin, que, por sua vez, vale cerca de 0,05 cêntimos de dólar americano. Ou seja, o utilizador precisará de cerca de 20.000 sweatcoin para poder requisitar o maior prémio da aplicação: um vale de PayPal no valor de 1000 dólares. É preciso notar, no entanto, que este vale poderá demorar mais de 6 anos a alcançar, já que requer uma contagem total de cerca de 20 milhões de passos e só pode ser requisitado uma única vez na aplicação.
Aliás, a maioria das aplicações testadas pelo i nem sequer transformam os passos, anúncios vistos ou inquéritos preenchidos em dinheiro real diretamente, mas sim em pontos. Estas aplicações têm depois um sistema em que é possível trocar esses pontos por vales de PayPal, que efetivamente se podem transformar em dinheiro real, ou então em descontos ou mesmo pagamentos para determinados produtos, muitas vezes em lojas online que formam parcerias com estas aplicações.
Missões pela cidade Uma das vertentes mais interessantes deste tipo de aplicações prende-se com aquelas, por exemplo, com a PiniOn, que encarrega o utilizador diariamente com diferentes tarefas como avaliar restaurantes ou produtos e tirar fotografias a lugares específicos que, em troca, recompensa com pagamentos. Esta é, para muitos utilizadores, uma forma de, ao mesmo tempo que ajuda serviços e utilizadores ao avaliar e dar informações sobre certos produtos e locais, poder ganhar algum dinheiro extra para ter no bolso. A app, apesar de disponível na App Store da Apple, não funciona em Portugal.
Cash for steps- passos, inquéritos e anúncios em troca de pontos
A Cash for Steps é uma das aplicações mais simples do mercado, tomando em conta aquelas que estão disponíveis em Portugal. É, também, uma das mais fáceis de usar, apesar de oferecer um limitado leque de opções no que toca a transformar os pontos recebidos em produtos, ou em dinheiro. Ainda assim, esta app tem uma grande vantagem. O utilizador pode misturar os pontos conquistados ao caminhar com visualizações de anúncios, respostas a inquéritos ou até partilhas nas redes sociais. É, das apps estudadas pelo i, a que oferece o maior leque de opções para ganhar pontos numa base diária.
Runtopia – passos em troca de pontos
A Runtopia é também uma das aplicações mais fáceis de utilizar neste nicho. Esta app, no entanto, tem uma ferramenta que a diferencia: está mais virada para os treinos, sendo que, quando é utilizada em corrida, tem uma “assistente virtual” que motiva a atingir o objetivo proposto. A aplicação tem também detalhes estatísticos sobre cada passeio e cada corrida, de forma a que, ao mesmo tempo que o utilizador recebe pontos, pode também seguir a sua evolução. A aplicação tem um ponto negativo: os prémios vão sendo desbloqueados à medida que é utilizada, não disponibilizando inicialmente todas as formas de transformar os pontos recebidos em produtos ou dinheiro, e tem um sistema de subscrição paga, limitando o uso gratuito da mesma.
Sweatcoin – passos em troca de criptomoeda
A Sweatcoin (que requer acesso à geolocalização 24 horas por dia) surge de uma fusão entre o mundo das criptomoedas e o mundo das aplicações que trocam passos por dinheiro ou pontos. Esta app tem a sua própria criptomoeda, homónima, que pode depois ser trocada por prémios ou vales de PayPal. Cada 1000 passos equivalem a uma unidade da Sweatcoin, sendo que o utilizador pode trocar um saldo de 20.000 Sweatcoins por um vale de PayPal no valor de 1000 dólares americanos (cerca de 840 euros). Estima-se, no entanto, que o utilizador demore mais de 6 anos a atingir este prémio, já que são precisos mais de 20 milhões de passos. E só é permitido levantar este valor uma única vez.
PiniOn – questionários e opiniões
A PiniOn é uma das aplicações mais interessantes deste nicho, mas a funcionalidade em Portugal é nula. É possível instalar a aplicação, mas o processo de registo é longo e complicado e não permite o uso. Ainda assim, vale a pena analisá-la, já que difere das restantes do mercado, pois aposta principalmente não na recolha de passos, mas sim na recolha de informações dadas pelo utilizador em troca de dinheiro. O mesmo poderá responder a questionários, fazer pesquisas ou até servir como cliente mistério para ser recompensado. Esta última funcionalidade é uma das mais interessantes, onde o utilizador vai a uma determinada loja fazer uma compra e, de seguida, escreve um relatório sobre todo o processo, sendo de seguida recompensado.