Meias-finais. A partir de agora o meu cavalo já só fala inglês

Meias-finais. A partir de agora o meu cavalo já só fala inglês


Depois de a Espanha ter afastado a Suíça (1-1 e 3-1 nas grandes penalidades), a Dinamarca ter eliminado a República Checa (2-1) e a Inglaterra ter goleado a Ucrânia (4-0), a lista das apostas tombou para o lado dos ingleses que jogarão outra vez em Wembley.


MUNIQUE – Se estivéssemos na fase de apostas de uma corrida de cavalos, eu diria, como Chico Buarque e Nara Leão em João e Maria, que o meu cavalo só falava inglês. Depois de terem vencido os alemães e seus canhões, os rapazes de Southgate continuam a enfrentar os batalhões contrários com um descaramento divino. Desta vez, no Olímpico de Roma, a vítima foi a Ucrânia, despachada por inequívocos 4-0, com o primeiro golo a surgir logo ao minuto 4 por Kane. Maguire (46m), novamente Kane (46m) e Handerson (63m) destruíram ferozmente as esperanças da equipa de Schevchenko e já marcaram lugar para a meia-final de 7 de julho, contra a Dinamarca, em Wembley. Até ao momento, já com oito golos marcados e a impressionante capacidade de não terem sofrido qualquer golo ao fim de cinco partidas (escorregaram frente à Escócia, por 0-0, num jogo envolto numa idiossincrasia que não é fácil para nós de entender), dificilmente não se atribuirá o favoritismo aos ingleses, mesmo sabendo que a Dinamarca, após o golpe inicial de ter perdido o seu capitão, Christian Eriksen, que tombou inanimado em campo, logo na primeira jornada, traído pelo coração, frente à Finlândia, recuperou a sua força anímica, e de que maneira logo que o soube fora de perigo. Depois de mais uma derrota, frente à Bélgica (1-2), lançaram-se selvaticamente sobre os russos (4-1), garantindo o apuramento como um dos melhores terceiros. Já na fase a eliminar, trataram da vida ao País de Gales com uma eficácia fulgurante (4-0) para, neste fim de semana, num jogo duro frente à República Checa, terem chegado à sua terceira vitória consecutiva e atingindo pela quarta vez as meias-finais desta competição – a primeira foi em 1964 (eliminada pela União Soviética), a segunda em 1984 (eliminada pela Espanha, no desempate por grandes penalidades) e a terceira, claro, em 1992, quando ganhou o troféu no Europeu que se realizou na Suécia. Bem melhor do que a Inglaterra, convenhamos, que vai apenas para a terceira meia-final da sua história, depois de ter sido eliminada em 1964 pela Jugoslávia e em 1996, o ano em que organizou o Europeu, batida no desempate de grandes penalidades pela Alemanha.

Se às vezes o currículo mexe com o equilíbrio dos jogos, estou para crer que Wembley, com 60 mil espetadores, fará bem mais pelo tal favoritismo que me predisponho a entregar aos ingleses. Eu, que me recordo bem dessa meia-final entre Alemanha e Inglatera, que vi sentado na bancada da imprensa do velho Estádio de Wembley, o mais charmoso de todos os estádios onde estive, a forma como Gareth Southgate falhou o seu penálti decisivo, imagino o que perpassa neste momento pela cabeça do treinador da Inglaterra – devolver aos adeptos a taça perdida sob sua responsabilidade. Uma prova também para os dinamarqueses superarem: depois de dez golos marcados nos últimos jogos, tirar à Inglaterra o orgulho da sua defesa a zeros.

 

Itália-Espanha

Um clássico. Em tempos que já lá vão, chamaram-lhe o Grande Clássico do Mediterrâneo. Recuperada por Mancini de uma fase tão, tão sombria que falhou mesmo a qualificação para o Mundial da Rússia, a Itália surgiu rejuvenescida por completo neste Campeonato da Europa e, sobretudo, praticando um futebol atraente e ofensivo – com cinco vitórias em cinco jogos, o último dos quais brilhante frente à Bélgica. Será a meia-final dos jovens espadachins, com a Espanha a surgir igualmente com uma equipa injetada por muitos jovens jogadores o que pode explicar momentos de falta de concentração que surgiram contra a Áustria, a obrigar a um prolongamento nos oitavos-de-final, e contra a Suíça, que acabaram de deixar pelo caminho mas só depois do desempate por grandes penalidades. Os suíços não suportaram de todo a responsabilidade, tal como o tinham feito, quando na ronda anterior, eliminaram a França pelo mesmo sistema.

Seja como for, a Espanha foi inequivocamente mais forte e mais capaz e só uma série de lances de golo fácil falhados infantilmente, a obrigaram a mais meia hora de jogo e respetivos pontapés à baliza.

Tirando a Espanha, estas meias-finais apresentam a frescura de nos trazerem de volta alguns dos grande da Europa que já não víamos há uns tempos por estas fases das competições – vá lá, a Inglaterra esteve nas meias-finais da Liga das Nações de 2019 – e prometem, certamente, embates da qualidade a que temos assistidos e que faz dele, sem tergiversações, um dos mais espetaculares de sempre. Para já, temos a barriga cheia de futebol alegre e atacante. Que continue assim…