Londres.”We will never surrender!!!” Mas Roma está pronta!

Londres.”We will never surrender!!!” Mas Roma está pronta!


O excesso de restrições imposto pelo Governo do Reino Unido continua a incomodar a UEFA. Da parte dos italianos a porta está aberta para que as meias-finais e final sejam desviadas para Roma. Até Angela Merkel apoiou a ideia. A falta de tempo joga a favor dos ingleses.


MUNIQUE – A Inglaterra voltou a dar sentido ao famoso discurso de Churchill. “Nunca nos renderemos!”. Mas a verdade é que, na véspera de entrarmos nos quartos-de-final do Campeonato da Europa, Londres continua posta em causa. A mesma Londres e o mesmo Estádio de Wembley que têm agendadas as meias-finais e a final do Europeu, nos dias 6 e 7 e 11, estão no centro de uma batalha que mete, inclusive, a chancelar alemã, Angela Dorothea Merkel, que não deixou cair a  oportunidade de rebater a longa guerra que levou ao Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.

A questão, para já, é clara e vem de trás. A_UEFA impôs às autoridades inglesas que, nos três últimos jogos deste Campeonato da Europa, saíssem da sua teimosia de manter acesso ao estádio de apenas 15% da sua lotação. Houve exemplos, sobretudo o da Puskás Arena, em Budapeste, que se encheu alegremente com cerca de 60 mil espetadores nos jogos que recebeu até agora, dois deles com a presença de Portugal, o de estreia, Hungria-Portugal, e o Portugal-França sem que surgissem surtos assustadores de covid nos dias seguintes, algo que não sucedeu após o jogo Inglaterra-Escócia que, esse sim, teve impacto nas estatísticas dos contaminados.

Neste momento, o Reino Unido tem fortes medidas de restrição à entrada de cidadãos de determinados países da Europa, a começar por Portugal, que está na chamada linha amarela. Tal como aconteceu com a Alemanha a partir de dia 29, para se entrar na Grande Ilha para lá da Mancha sem ser, imediatamente, encerrado num espaço qualquer a cumprir uma quarentena forçada, é preciso ter uma chamada Carta de Isenção, passada pela organização que se responsabiliza pela entrada dos ditos cidadãos. Veja-se, por exemplo, o que acontece com os jornalistas acreditados para o Europeu, situação que conhecemos com mais propriedade, como está bem de ver. A_UEFA envia aos representantes da comunicação social dos países “suspeitos” uma espécie de convite de entrada que permite, à chegada, sair da fila dos condenados à quarentena e seguir tranquilamente o seu trabalho.

Nesta altura, os certificados de isenção de quarentena passados pelas instituições sanitárias alemãs já foram distribuídos. O Reino Unido e a UEFA informaram todos os interessados em assistir aos jogos das meias-finais e à final de Wembley que só começariam a considerar esses pedidos após saberem todos os resultados dos quartos-de-final, algo que embaraça a UEFA mais uma vez, depois de terem sido sujeitos à agenda alemã sobre o assunto.

 

Gente

No dia 21 de junho, Mario Draghi, primeiro-ministro italiano, lançou um apelo para que a UEFA mudasse o palco da final para o Estádio Olímpico de Roma. Surgiram apoios diversos, a começar pelo de Merkel. Os ingleses fizeram a sua primeira cedência, mas aproveitaram para avisar que seria a última: abririam o Estádio de Wembley à entrada de 60 mil espetadores por jogo dos três derradeiros. Mas não iriam recuar nas exigências feitas para quem queira entrar no país. A verdade é que este Europeu-do-COVID se tornou muito pouco atraente em termos económicos para a maior parte das cidades que se candidataram a recebê-lo e cujas candidaturas foram aceites. Estamos perante uma situação bastante clara – se a Inglaterra não se qualificar para as meias-finais, os britânicos não parecem dispostos a cumprir a tal medida dos 60 mil espetadores, fechando as fronteiras aos cidadãos de países que estão na sua lista vermelha, como acontece, por exemplo, com Portugal. A partir daí as brechas abriram-se e rasgaram o solo como crateras.

Neste momento, a UEFA poderia disponibilizar-se para deixar cair Londres como cidade-sede das meias-finais e final e entregar essa responsabilidade a outra cidade que recebeu jogos deste Europeu, como Budapeste, já que acolheu os tais 60 mil espetadores por jogo com uma tranquilidade e com uma capacidade de organização notável. Mas Budapeste, sendo da simpatia da UEFA, não tem o peso de Roma, e o Governo italiano voltou, agora, a oferecer-se para que a capital de Itália venha a receber os tais três últimos jogos do Europeu e, sem surpresa, recebeu o apoio dos alemães que, depois de terem visto a Mannschaft atirada para fora da prova precisamente em Wembley, parecem ganhar disponibilidade para entrarem em confronto com os seus britânicos inimigos de estimação, com Angela a informar o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, que estaria do seu lado se resolvesse deslocar para Roma o fim do Campeonato da Europa.

O problema, neste momento, é de tempo. Depois de amanhã já saberemos quais os quatro semifinalistas do Euro-2020 que passou a Euro-2021. É necessário tomar decisões com a máxima urgência. A Inglaterra finca os pés no seu solo sagrado, embalada pelo velho e inesquecível discurso de Churchill – “We shall go on to the end. We shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be. We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender!”. Mas, ao contrário do que aconteceu em 1939, este combate não se faz nem nas ruas nem nas praias, mas sim na semi-escuridão dos gabinetes. Há uma força muito grande e muito unida para tirar a Londres o fim do Europeu, mas o tempo é tão curto (as meias-finais disputam-se dia 6 e dia 7) que dificulta uma posição de força. O Governo do Reino Unido resiste, com a teimosia muito própria dos britânicos:_Wembley terá 60 mil nas bancadas, mas só passam nas fronteiras os que cumprirem os apertados requisitos impostos. Se outra solução vier a ser tomada, terá de ser anunciada dentro das próximas 48 horas. Estamos todos à espera. Mas para quem conhece ingleses, estarão neste momento a encolher os ombros.