É da imponente e emblemática Porta Férrea de Coimbra que saem, na sexta-feira, os melhores pilotos e os mais sofisticados carros de rali para um verdadeiro sprint, capaz de levar os fãs à loucura. É o adeus a estas poderosas máquinas, já que em 2022 teremos os híbridos a acelerar nas estradas portuguesas.
Os pilotos nacionais marcam presença, com destaque para Armindo Araújo, hexacampeão nacional, que vai alinhar com o Skoda Fabia R5 Evo. O seu palmarés não deixa dúvidas: dois títulos mundiais no agrupamento de Produção e três vitórias no Rali de Portugal, sendo, portanto, um profundo conhecedor da prova, que considera “ser das melhores do mundo, muito bem organizada e com estradas fantásticas”.
PALAVRA DE CAMPEÃO Armindo Araújo falou-nos da prova e das expectativas para a 54ª edição do Rali de Portugal. “A primeira etapa, na sexta-feira, passa por Arganil, Lousã e Góis, e vai ser extremamente difícil. Os troços são rápidos, duros e bastante espetaculares em termos de condução. É uma etapa que exige muita condução, mas também muita cabeça por parte dos pilotos. Como há apenas uma assistência condicionada a meio do dia, temos que fazer uma gestão cuidadosa do material e do desgaste do carro. Qualquer exagero ou erro pode levar ao abandono”. O campeão nacional não tem dúvidas em afirmar que “o primeiro dia é o mais perigoso e pode haver golpes de teatro. Sem a assistência normal, tudo tem que correr bem para conseguirmos um bom resultado”.
Os pilotos regressam à estrada no sábado para realizar a segunda etapa. “Vamos disputar os troços à volta de Amarante, que são os mais longos e duros do rali. Nem todos vão conseguir ter o mesmo andamento, isso vai criar diferenças significativas entre os pilotos. Na terceira e última etapa temos os troços da zona de Fafe, que se tornaram famosos pelas velocidades e saltos incríveis, e a exigente Cabreira. São classificativas desafiantes, que exigem muito foco dos pilotos. Uma pequena falha e estamos fora de estrada. Penso que muitos vão atacar forte para decidir posições”. A mítica especial de Fafe, onde os pilotos voam mais de 40 metros, foi considerada por Sebastien Loeb (nove vezes campeão do mundo!) a melhor classificativa do mundial de ralis.
Armindo Araújo tem, naturalmente, preferências. “O Rali de Portugal tem troços fantásticos. Pessoalmente, gosto muito da zona da Cabreira, foi lá que aprendi a conduzir. É uma zona que me diz muito, sinto-me à vontade nesses troços”.
Para o campeão nacional há duas realidades na prova portuguesa. “Os pilotos das equipas oficiais vão andar a fundo o rali inteiro, vai ser uma luta tremenda. Para os outros, onde entram os portugueses, é fundamental ter o carro bem preparado e avaliar as condições do terreno, não podemos passar o tempo todo ao ataque”. O segredo para chegar ao fim de um rali longo e duro “é mudar o chip e ter uma abordagem um pouco conservadora. Em determinada zonas temos que fazer trajetórias mais defensivas para poupar o carro, sem com isso comprometer o andamento”.
Armindo Araújo parte com objetivos bem definidos. “Somos uma equipa privada, mas estamos bem preparados. A minha prioridade é ganhar a prova a contar para o campeonato nacional. A partir do segundo dia vou andar em full attack para ser o melhor português, e medir o meu andamento face aos concorrentes estrangeiros. Queremos dar uma imagem positiva dos pilotos nacionais”, concluiu.
AO SPRINT Durante três dias vai ouvir-se o rugido das bestas mecânicas, com mais de 380 cv, nas 20 classificativas do norte e centro do país, num total de 360 quilómetros. Os circuitos de F1 e MotoGP são uma passerelle comparado com as estradas estreitas, duras e difíceis do Rali de Portugal, que causam enorme impacto nos pilotos e adeptos.
Em 2019 (a edição do ano passado foi cancelada devido à covid-19) um milhão de espetadores presenciou o rali ao vivo. Para evitar que a prova se torne uma fonte de contágio, a organização vai limitar o número de pessoas nas zonas espetáculo, e a GNR vai condicionar o acesso aos locais onde é expectável haver maior número de espetadores.
As marcas que disputam o mundial de ralis vêm a Portugal com os melhores pilotos e com carros evoluídos, a Toyota vai estrear um motor mais potente. Vale tudo para ganhar a prova. A campeã do mundo Hyundai entrega os i20 WRC a Ott Tanak, Thierry Neuville e Dani Sordo. Os carros da Toyota vão para o heptacampeão do mundo Sebastien Ogier, Elfyn Evans e Kalle Rovanpera. Do lado da Ford, Teemu Suninen, Gus Greensmith e Adrien Fourmaux vão alinhar com os Ford Fiesta WRC.
Tendo em conta o que se passou na prova anterior, o Rali da Croácia, onde 0,6s separaram o vencedor, Ogier, do segundo classificado, Evans, após mais de 300 quilómetros ao cronómetro, é de esperar uma nova guerra ao segundo. Nem na Fórmula 1 isso acontece.