Estreou-se em Portugal na passada quinta-feira, dia 6 de maio, e promete fazer tremer as audiências. Com a realização de Evan Spiliotopoulos (argumentista de O Caçador e do remake de A Bela e o Monstro) e produção de Sam Raimi (de Evil Dead ou Homem-Aranha), Santuário de Sombras (Unholy) liga Hollywood a uma suposta aparição religiosa com referência ao milagre de Fátima: o filme conta a história de uma rapariga surda-muda que é visitada pela Virgem Maria e que, de repente, passa a conseguir ouvir, falar e curar doentes. À primeira vista parece uma mudança positiva, um milagre. Até que coisas terríveis começam a acontecer. Qual é afinal o verdadeiro significado da “visita”?
Na mega produção norte-americana, Diogo Morgado contracena com nomes como Jeffrey Dean Morgan, Cary Elwes e Katie Aselton, e interpreta Monsignor Delgarde, um investigador especializado da Igreja Católica, que tem como objetivo provar que os supostos milagres são falsos.
O “CASTING” O ator revelou numa entrevista à NIT que o papel foi conseguido através de um “teste de imagem que acaba por não ser bem um casting, é mais uma confirmação sobre se o ator é o género do que se procura”. Neste teste, Diogo Morgado foi “convidado” a “dizer umas quantas frases vestido de uma certa maneira”. Depois disso, acabou por se formalizar uma conversa com o realizador. Só depois surgiu o convite para ficar com o papel.
Ao contrário do que acontece na vizinha Espanha, os géneros terror, thriller e suspense não são dos mais explorados pelo cinema e TV em Portugal, pelo que este foi um “terreno novo” para o ator: “Parecia um miúdo numa loja de doces a experimentar um doce novo”, admitiu. Conjugado com esse sentimento, a curiosidade do “recente produtor”, fê-lo querer perceber “como é que as coisas se executam? Como é que se chega àquela envolvência? Como é que isso se traduz no plateau e no set? Qual é a mística que se sente? É muito efeito especial ou visual? Temos de imaginar tudo, ou não?”, revelou.
Nas gravações pôde constatar que “os efeitos visuais só limpam e aumentam aquilo que já acontece no set”. No set vive-se um ambiente peculiar, envolvido numa tensão onde reina o silêncio e onde o suspense é “real”. “Aquela mística é reproduzida e de facto a entidade estava lá, e eu via-a, e aquilo assustava e era horrível”, admitiu.
No que toca aos efeitos especiais, Diogo Morgado afirma que só aumentam o que existe, ou seja, “não é o caso de não haver nada e ter de se reagir a alguma coisa que não existe”. “Não sei se todos os filmes são feitos assim, mas esta experiência foi surpreendente pela positiva, nesse campo”, declarou.
O PERSONAGEM É muito habitual que, em pequenas aldeias e vilas, sejam requisitados “pequenos grupos organizados”, ou mesmo técnicos do Vaticano, com o objetivo de “desacreditar alegadas burlas de milagres”. Essa é precisamente a missão do ator português no filme. Monsignor Delgarde é um técnico do Vaticano que é chamado a uma pequena vila onde aparentemente uma jovem está a conseguir fazer milagres. O objetivo de Delgarde é justamente “desacreditar a coisa”, percebendo-se de que se está perante um fenómeno paranormal.
Para a preparação do personagem, Diogo Morgado contou que teve de pesquisar, tendo-lhe sido disponibilizado o acesso a informação sobre casos específicos. Concluiu que, nestas situações, muitas vezes, imperam os interesses económicos e as pessoas acabam por ser enganadas e levadas a pagar para estes supostos milagres.
Ao Diário de Notícias contou que, no filme, ouve-se algum português, o que resultou de uma proposta que o próprio fez ao realizador: “Isso não estava no argumento, fui eu que o forcei porque pensei que se a minha personagem era do Vaticano, fazia sentido que ele falasse uma ou duas frases na nossa língua”, propôs. O realizador foi recetivo: “No argumento estava escrito que ele era italiano e quando se falava em Fátima ele diria algo em Latim, é aí que entram duas frases em português”, adiantou.
Quando interrogado sobre a sua fé e se essa influenciou de alguma maneira o papel, Diogo Morgado declarou que a sua espiritualidade e fé não têm rigorosamente nada que ver com o seu trabalho. Para ele, o ator deve ser versátil e recetivo às suas personagens: “Eu posso fazer o Buda amanhã, se tiver de o fazer. Vou compreender a história, o que é que ele representa, o que está escrito e o que existe, e contar a melhor história possível. Eu acho que a fé é o gasóleo que motiva as pessoas a acordar de manhã. É uma coisa tão específica e tão pessoal que é como se de repente estivesse a pôr o meu número de contribuinte online”, explicou.
O ELENCO Uma “mega produção” requer um “mega elenco” e Santuário das Sombras não é exceção. Da experiência, o ator destacou o convívio e o desmantelar de ideias “preconcebidas” que possamos ter relativamente a produtores e atores conhecidos em todo o mundo.
“O Sam Raimi, por exemplo, alguém que tem um nome tão marcado no cinema, no final de contas é só um gajo que está a tentar fazer o melhor que pode”, garantiu à NIT. Jeffrey Dean Morgan, por sua vez, “é um tipo cool”. “É muito carismático. E foi muito extraordinário ter um colega muito generoso que me dava feedback. Fazíamos um take e ele dizia ‘damn, that was good’, e isso é porreiro. Porque os americanos, culturalmente, não gostam muito de se expressar, gostam de estar cada um na sua e tal. E ele quebrava o protocolo nesse aspeto e fomentava isso nos outros”, recordou o ator.
O maior desafio, para Morgado, esteve relacionado com as medidas contra a pandemia da covid-19. A duas semanas do fim, as filmagens foram suspensas, tendo de ser terminadas em circunstâncias completamente diferentes das previstas inicialmente. “Houve uma suspensão durante cinco ou seis meses, depois as cenas foram reescritas e readaptadas, e houve uma equipa que teve de ir até os locais onde os atores estavam — Los Angeles, Nova Iorque, Massachusetts, Portugal, Escócia — e filmar-nos de forma separada”, relatou. Isto significa que algumas cenas onde o ator está presente, foram filmadas num estúdio em Portugal. Contudo será impossível percebê-lo, pois, como afirma o ator “é absolutamente assustador o que se consegue fazer do ponto de vista técnico”. Ao ponto de, quando viu determinadas cenas, ficar baralhado, sem perceber se estava lá ou se a cena tinha sido gravada em Portugal.
A SENSAÇÃO DE ESTAR ENTRE OS MELHORES Ao Diário de Notícias o ator admitiu ainda que, mesmo com estas produções além fronteiras, o ego não é afetado e apesar de ser gratificante estar a ser validado por pessoas de renome neste mundo, não está a fazer mais que o seu trabalho: “Tudo isto é tão efémero. Sinto-me muito grato por tudo o que faço, seja aqui, seja na China! Quando me deixar de sentir grato deixo de fazer”, assumiu. Nessa mesma entrevista revelou que o facto de já ter tido oportunidade de “experimentar um bocadinho o que é ser conhecido à escala global”, com a grande produção Son of God, em que repsentou Jesus, o fez perceber que essa notoriedade mundial não é coisa que lhe traga felicidade. Na altura ficou até com o epíteto de ‘Hot Jesus’, sendo considerado o Jesus Cristo mais sexy de todos os tempos no ecrã.
Depois de ter vivido esta experiência, o ator deseja conseguir trazer o género até Portugal, o que aliás já era um desejo conjunto que tinha o seu irmão, Pedro Morgado. “Não faz sentido que o cinema português só tenha uma cor, há espaço para tudo. E de facto o cinema português está um bocado monocórdico. Por isso o nosso foco está aí, em tentar criar uma paleta mais abrangente para as pessoas e que elas digam “bolas, também se faz isto em Portugal”, explicou à NIT.