Criptoarte. Filantropia ou investimentos financeiros?

Criptoarte. Filantropia ou investimentos financeiros?


Comprar o primeiro tweet de sempre foi como “comprar a Mona Lisa”. Esta é a nova realidade das NFTs, que, junto à Bitcoin e à Ethereum, são alguns dos nomes da tecnologia que promete revolucionar o mundo, um criptoativo de cada vez.


Fora com o velho, venha o novo. Assim pensam os pioneiros do investimento em criptoativos, que recentemente passaram as suas atividades para um novo domínio: a criptoarte, também chamada de arte digital, baseada no uso de ‘tokens não-fungíveis’ (NFTs na sigla em inglês), a tecnologia que permite a comercialização destas obras virtuais.

A moda pegou, e em março deste ano tinham sido já investidos mais de 200 milhões de dólares (cerca de 166 milhões de euros) em NFTs. É já uma atividade em que estão envolvidas figuras como o artista urbano Vhils, que lançou várias obras neste formato, a modelo e businesswoman Kate Moss, que leiloou alguns dos seus vídeos para a caridade, a banda Megadeth, que vendeu uma animação rotativa com o seu símbolo por 18 mil dólares, e o artista The Weeknd, que arrecadou uns estonteantes 2 milhões de dólares (cerca de 1,7 milhões de euros) com uma coleção de NFTs.

Estes valores, no entanto, não chegam aos calcanhares do ‘top 5’. Tome-se o exemplo da venda do primeiro tweet de sempre. Jack Dorsey, fundador da rede social, colocou à venda o inédito pedaço de informação digital, associado a um NFT específico, que acabou por vender-se por 2,9 milhões de dólares (cerca de 2,5 milhões de euros). O comprador, um homem de negócios da Malásia chamado Sina Estavi, referiu na altura sentir-se como se estivesse a “comprar a Mona Lisa”. Mas esta nem sequer foi a transferência mais cara de sempre de um NFT. Em março de 2021, o artista Beeple bateu recordes, quando vendeu a sua obra Everydays – The First 5000 Days, por um total de 69 milhões de dólares (cerca de 58 milhões de euros), apenas semanas após ter vendido a obra Crossroads por 6,6 milhões de dólares (cerca de 5,5 milhões de euros). Todas elas obras digitais.

A ascensão do valor destes conteúdos aos milhões de dólares tem atraído investidores de todo o mundo para esta tecnologia, e um dos mais mediáticos é o norte-americano Mark Cuban. O bilionário, dono da equipa de basquetebol Dallas Mavericks e um dos investidores do programa Shark Tank, é fã incondicional de NFTs, e, em março deste ano, apoiou um investimento de 9 milhões de dólares no mercado online de NFTs SuperRare, mostrando também recentemente o seu apoio ao mercado CryptoSlam, com um investimento cujo valor não foi revelado, mas que deverá rondar os milhões de dólares.

A popularidade desta tecnologia é tal que já está organizado o primeiro festival internacional de NFTs da Europa, que vai ter como palco a cidade de Lisboa. A capital portuguesa vai ser, a partir de 12 de maio, e durante 10 dias, a capital do mercado mundial de NFTs. Intitulado Rare Effect Vol2, o festival chega à associação Arroz Estúdios após uma exposição virtual com sucesso, e traz consigo mais um evento neste universo de criptoarte, com painéis de discussão, workshops e entrevistas num plano virtual e presencial, com palcos na Associação Arroz Estúdios, na Avenida Infante Dom Henrique, e online.

MAS AFINAL, O QUE SÃO NFTS? Lado a lado com a criptomoeda Ethereum, nasceram os ‘tokens não-fungíveis’ (NFT na sigla em inglês), que funcionam como ‘garantias’ digitais da autenticidade de conteúdos como fotografias, animações, videoclips ou qualquer outro pedaço de informação digital, permitindo assim a sua comercialização.

De uma forma muito resumida, os NFTs funcionam com base na tecnologia blockchain, e servem para criar o conceito de ’versão original’ no mundo digital, já que são impossíveis de replicar, permitindo aos utilizadores possuir os certificados de originalidade de conteúdos como fotografias, clips de áudio e praticamente qualquer pedaço de informação digital ao qual se associe um NFT. A tecnologia existe desde 2014, mas ganhou popularidade recentemente, e a questão principal que se coloca é: mas porque é que um tweet, que pode ser copiado livremente sem perder qualidade, pode valer 2,5 milhões de euros? A realidade é que a este conteúdo está associado um NFT específico na blockchain, que funciona com uma rede de milhões de computadores interligados por todo o mundo, em que se torna praticamente impossível de copiar.

A venda da obra Everydays – The First 5000 Days foi mediada pela famosa casa de leilões Christie’s, e é o espelho de uma nova realidade que se levanta, tanto para artistas como para investidores e colecionadores.

Se o comprador do primeiro tweet de sempre garantiu que era como “comprar a Mona Lisa”, Pedro Febrero, especialista em criptomoedas e NFTs, não discorda, mas acredita que estas transações vão muito para lá da filantropia. “É um mercado que toca mais os artistas, e na sua maioria está muito romantizado, até porque, apesar de não ser a mesma coisa, a NFT é uma nova oportunidade de o artista criar arte, e de uma nova arte nascer”, começa por explicar ao i o especialista, que confessa ser ele próprio colecionador de alguns quadros de arte digital, tanto porque gosta como porque é “uma forma de impulsionar o mercado”. Ainda assim, não se sente tão certo que esta seja a forma mais “crítica” de revolucionar a maneira como os artistas são remunerados. Febrero é um ávido fã desta tecnologia, girando toda a sua vida em torno deste mundo, e aproveita ainda para explicar mais um panorama de possibilidades em torno dos NFTs: os ativos em videojogos. “Vamos supor que temos uma marca que cria jogos, e os utilizadores que compram um jogo podem transacionar com outros e transportar itens de uns jogos para outros”, começa por explicar o especialista, garantindo que essa realidade poderá revolucionar o mercado, e “criar um valor acrescentado muito grande, porque passam a existir ativos que podem ser utilizados noutros produtos”.

Maná artístico Este novo mercado atraiu, além de investidores e figuras já conhecidas, pequenos artistas, que procuram nas NFTs uma forma de rentabilizar o seu trabalho. Rui Martins, jovem game developer de Lisboa, cria peças digitais nos seus tempos livres, e decidiu aventurar-se neste mundo por ser fã desta nova tecnologia, e por achar que seria uma forma interessante de pôr a render o seu trabalho artístico. “Comecei a interessar-me mais quando houve este ‘boom’, em fevereiro. Vi peças a ser vendidas por preços astronómicos e pensei ‘porque não?’”, explica ao i. Tal como Pedro Febrero, faz referência a uma romantização desta nova tecnologia que não corresponde à realidade. “É uma onda para fazer dinheiro. Há artistas pequenos que são consistentes, a pôr sempre trabalhos, e vão ganhando nome. Quando és colecionador, estás a apostar nesse artista e num retorno em que, talvez daqui a dois anos, quando for reconhecido, podes vender a peça dele por vinte vezes mais”, defende o jovem game developer, que não tem dúvidas de que, apesar de haver um lado romântico de apoio aos artistas, os colecionadores de NFTs procuram, “tal como a maioria dos colecionadores de arte tradicional”, bons investimentos.

Rui, no entanto, não atingiu os valores astronómicos de Beeple e outros artistas de renome mundiais, mas mostra-se satisfeito com o retorno que obteve. Defende a nova tecnologia, o que não o impede de lhe apontar algumas falhas, como as burlas e a venda de peças roubadas. “É muito difícil proteger a arte original dos artistas, e até já apanhei pessoas a vender arte roubada”, lamenta, relembrando que uma grande parte do sucesso ou do falhanço neste mundo se prende com a plataforma que se utiliza para comprar e colecionar obras de arte digital. “Os colecionadores têm cuidado, e se querem fazer dinheiro, têm várias plataformas que são mais fidedignas. Algumas são só por convite, outras não. Mas na maioria das plataformas, como se paga para lá estar, ninguém vende arte roubada porque não quer ser banido”, explica ainda.

Há Pedro Febrero considera que a venda de peças roubadas não é assim tão simples. “Se quiser ter uma exposição digital, para ter as originais tenho de falar com quem tem aquelas obras. Posso expô-las, mas legalmente não o posso fazer sem a aprovação de quem tem a obra”, defende o especialista, que relembra que, graças à tecnologia da blockchain, que utiliza uma rede de milhões de computadores espalhados um pouco por todo o mundo, é “fácil” identificar uma cópia, já que bastará comparar as datas em que foram criados os NFTs.

A maior questão que se coloca quando se fala de NFTs é: porque é que se gastam milhões de euros em obras digitais, que não perdem qualidade quando são copiadas, e cujas réplicas são idênticas aos originais? Rui Martins não tem dúvidas sobre a resposta, recorrendo ao exemplo também apontado por Pedro Febrero: “Há muita gente que diz que se pode tirar uma fotografia de uma obra digital e pronto, mas eu também posso imprimir a Mona Lisa e pôr o quadro no meu quarto. Posso fazer uma réplica muito fidedigna, mas toda a gente sabe que a Mona Lisa original é a que está no Louvre. Com os NFTs é a mesma coisa. A imagem é apenas uma forma de visualizar o código. Sim, pode ser copiada, mas o que interessa é o código do NFT, que está associado à tua carteira, e que é único. Esse código só tu o tens, e é isso que interessa”, defende. “É um conceito estranho para muita gente, mas, por exemplo, se comprares um boneco de coleção, na verdade não precisas daquilo, mas é bonito, e tens aquela sensação da coisa colecionável, e as pessoas adoram isso. Com os NFTs é a mesma coisa”, conclui.

Mas afinal, como funcionam as criptomoedas? Nos seus primeiros dias de vida, em julho de 2010, uma Bitcoin valia 0,0008 dólares americanos (0,0007 euros). Uma década depois, entre altos e baixos, cada unidade desta criptomoeda chegou a valer, entre março e abril deste ano, cerca de 63 mil dólares (53 mil euros), o valor mais alto de sempre. Ao mesmo tempo, a criptomoeda Dogecoin, que começou como uma piada entre internautas, chegou a atingir recentemente um valor total de mercado de mais de 40 mil milhões de euros.

Esta realidade é o grande chamariz para milhões de pessoas por todo o mundo, que veem nas criptomoedas uma forma de fazer o seu dinheiro multiplicar-se, nomeadamente numa fase em que as taxas de pagamento de juros nos bancos estão bastante à direita das vírgulas.

Os valores da Bitcoin aumentaram exponencialmente nos últimos meses, o que chamou uma nova atenção para a tecnologia. Acontece que, no início de 2021, uma unidade desta criptomoeda valia cerca de 24 mil euros, ou seja, menos de metade do valor atual, apenas quatro meses depois.

De uma forma muito resumida, as criptomoedas funcionam como uma alternativa digital aos meios tradicionais de dinheiro, utilizando uma tecnologia descentralizada e transparente, em que, no entanto, as transferências e os processos se mantêm maioritariamente anónimos – a blockchain. Henrique Tomé, analista da XTB, explica ao i que estas tecnologias “adotam um sistema descentralizado, contrariamente ao sistema convencional adotado pelas moedas fiduciárias – como euros, ou dólares –, no qual permite que sejam armazenadas e transacionadas através da rede blockchain de forma segura e anónima, através da encriptação das mesmas”, e que não é regulamentada por bancos ou instituições governamentais.

Uma realidade, defende Pedro Febrero, que explica a proliferação das criptomoedas. Sobre possíveis efeitos futuros da globalização do uso da Bitcoin, o especialista não tem dúvidas: as instituições que vão sentir o maior impacto são os Governos e as entidades que gerem os poderes financeiros. “Se o Estado perde o controlo monetário, também tem muito mais responsabilidade. Se o dinheiro não é criado à medida que um Governo quer, é mais difícil criar políticas para o curto prazo”, reforça o especialista, que defende que “há uma forte possibilidade de a Bitcoin vir ajudar a haver uma maior responsabilização no sentido público”. Aliás, Febrero defende que as criptomoedas vieram mesmo “amenizar o jogo entre quem tem muito e quem não tem muito”, por abrir o investimento a pessoas “normais”.

Cada utilizador possui uma “carteira virtual”, de onde pode comprar ou vender criptomoedas. A moeda ainda não é utilizada em lojas ou serviços físicos, mas em recentes anos várias empresas começaram a aceitar a tecnologia como forma de pagamento, tal como a PayPal, que permitiu aos seus utilizadores fazer compra ou venda de Bitcoin através da sua app, ou até a Tesla, que, segundo anunciou o seu CEO, Elon Musk, vai passar a aceitar pagamentos através de Bitcoin.

A adesão por parte do público a estas novas tecnologias, defende Pedro Febrero, prende-se com o facto de a moeda ser “descentralizada, o que permite a qualquer pessoa participar”. Sobre o ceticismo geral em torno desta tecnologia, o especialista recorda a história do aparecimento de novas tecnologias e da sua aplicação e compara-a com a atualidade. “Quando começou a haver partilha de internet peer to peer, ninguém regulamentou inicialmente. Tudo o que é adoção de tecnologia demora muito tempo. Eu olho para exemplos do passado, como os computadores pessoais, que foram inventados nos finais dos anos 70, mas só nos 90 é que se adotaram massivamente. É como a internet, a utilização massiva só aconteceu há muito pouco tempo”. Ainda assim, o especialista não duvida que estas ferramentas se vão desenvolver mais, defendendo que “as tecnologias descentralizadas são muito importantes, e enquanto o preço da Bitcoin continuar a aumentar, dificilmente alguém vai impedir que as pessoas comprem”. O anonimato da tecnologia é, para Pedro Febrero, outra das grandes vantagens desta tecnologia. “Para os utilizadores, é uma ferramenta que não pode ser bloqueada, ou seja, pode fazer transações para qualquer parte do mundo, e é difícil de identificar, é tudo muito anónimo”.

Perigos da inovação O Banco de Portugal (BdP) apresenta-se a si mesmo como a entidade “com competências quer no registo, quer na verificação do cumprimento das disposições legais e regulamentares aplicáveis em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, por parte das entidades que exerçam […] serviços de troca entre ativos virtuais e moedas fiduciárias ou entre um ou mais ativos virtuais”. Como tal, e devido às recentes flutuações no valor desta criptomoeda, a instituição lançou um comunicado alertando os consumidores dos perigos que identificou neste tipo de operações. “Os ativos virtuais não têm curso legal em Portugal, pelo que a sua aceitação pelo valor nominal não é obrigatória”, começa por explicar o BdP, que relembra ainda que “não existe, atualmente, qualquer proteção legal que garanta direitos de reembolso ao consumidor que utilize ativos virtuais para fazer pagamentos, ao contrário do que acontece com instrumentos de pagamento regulados”.

Com o anonimato, confessa Pedro Febrero, vem “a perspetiva negativa de transações ilícitas”. Ainda assim, o especialista defende-se com as estatísticas, e explica que “nos últimos 10 anos, houve vários milhares de milhões de euros que foram transacionados através de bancos em contextos ilícitos”, pelo que, argumenta, não se demonstra como uma alternativa muito mais segura. “A Bitcoin não combate essas transações, porque não é possível bloqueá-las, mas mesmo assim, mais de 90% do seu uso é em trading e compra de Bitcoin para acumulação de valor e não para atividades ilícitas, que representam só 10%. Quando alguém faz transações ilícitas utiliza moedas mais tradicionais como o dólar, até porque é mais fácil de utilizar depois”, explica ainda.

A mesma opinião tem Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades, que não nega, em declarações ao i, que existam muitas transações criminosas que têm envolvido criptomoedas. Mas recorda que “também envolvem outras formas de pagamento como o dinheiro vivo”, desvalorizando essa realidade.

Para Henrique Tomé, por outro lado, o receio dos sistemas descentralizados é um “exagero”. “O mercado dos criptoativos veio trazer mais inovação e traz uma perspetiva diferente dos mercados tradicionais. O facto de se adotar um sistema descentralizado, certamente que poderá ter pontos negativos, mas penso que os pontos a favor são mais benéficos que os pontos contra”, explica o analista, que, ainda assim, confessa acreditar que o facto de as transações serem encriptadas e mantidas na rede blockchain “não reduz por completo o risco de haver situações de fraude e perigos inerentes”.

A realidade parece contraditória. Ao mesmo tempo que o Banco de Portugal se bate por relembrar que o mundo dos ativos digitais é um mundo sem garantias, pouco transparente e volátil, milhões de pessoas por todo o mundo, incluindo em Portugal, investem o seu dinheiro nesta nova realidade. “A volatilidade é importante e deve ser levada com muita atenção por parte dos investidores. Este mercado não é aconselhável a investidores que apresentem um perfil mais conservador, pois os períodos de elevada volatilidade podem, para além dos retornos, simbolizar também riscos acrescidos. Por outro lado, para investidores que se considerem mais agressivos em termos de investimento, poderá revelar-se uma alternativa”, considera o analista da XTB.

Uma alternativa final ao dinheiro físico? As criptomoedas podem ser o primeiro passo para um mundo sem notas e moedas, onde os sistemas financeiros são descentralizados, e desligados de entidades reguladoras. A ideia, no entanto, aos olhos dos analistas ouvidos pelo i, parece ainda utópica. Henrique Tomé acredita que “dificilmente isso irá acontecer”, e que “em termos práticos, será difícil de implementar”, nomeadamente devido ao facto de nem todas as criptomoedas terem a mesma proposta de valor, o que causaria um sem fim de câmbios e dificuldades práticas. “A Bitcoin já sofreu diversas alterações à sua proposta de valor e atualmente nem sequer é vista como um meio de pagamento mas sim como uma reserva de valor”, relembra o analista. “No entanto, não se deve negligenciar o facto do mercado dos criptoativos poder vir a trazer uma nova perspetiva em torno dos investimentos convencionais”. ressalva.

Já Ricardo Evangelista, da ActivTrades, lembra que “se olharmos para a Bitcoin, o limite de transações é de 5 por segundo, enquanto por exemplo a VISA permite 1700 transações por segundo”. E complementa: “Além das questões relativas à confiança, existe um óbvio problema de escala, que até ser resolvido não vai permitir que as criptomoedas possam substituir por completo o dinheiro físico”.

Pedro Febrero mostra-se também ainda com um pé atrás sobre a possível universalidade da Bitcoin como moeda de troca. “Quanto mais a tecnologia é desenvolvida, mais rápida é a adoção, mas não sei se a Bitcoin será a moeda de excelência de uso a nível mundial”, explica. Para que isso acontecesse, “os interesses públicos teriam de ser virados para esse lado, e os governos mundiais teriam de tomá-la como uma moeda soberana”, e isso “vai demorar”, antevê.