A gravidade do problema era tão grande que não podíamos ser egoístas e só pensarmos em nós”. A afirmação, ao jornal i, é das irmãs Mariana e Soraia Figueiredo. Podiam ter ficado em casa, como tantos outros portugueses, a cumprir o confinamento, mas decidiram arriscar e ajudar quem mais precisava.
Mariana e Soraia, no pico de casos de covid-19 em Portugal, voluntariaram-se para ajudar no Lar da Nossa Senhora do Carmo, em Matacães, Torres Vedras.
Durante a primeira quinzena do passado mês de janeiro, a cidade de Torres Vedras atravessou um dos períodos mais difíceis da pandemia. O surto em três lares da região e o aumento do número de casos provocou o colapso da unidade Hospitalar de Torres Vedras. Face à situação, a Proteção Civil apelou à população e a funcionários municipais para se voluntariarem e prestarem ajuda nestes lares. Foi nesse preciso momento que Mariana e Soraia Figueiredo deixaram o conforto de casa e perceberam que podiam ter um papel nessa ajuda.
O Lar Nossa Senhora do Carmo, em Matacães, tinha na altura 97 pessoas infetadas, 60 eram idosos e 37 eram funcionários. Confrontados com a redução de empregados ativos, Mariana e Soraia muito rapidamente falaram uma com a outra: “Entendemos que tínhamos de ajudar e dar um bocadinho do nosso contributo”.
No primeiro dia do segundo confinamento geral, Mariana, de 23 anos, e Soraia, de 28, iniciaram o reforço no Lar de Nossa Senhora do Carmo. Eram agora responsáveis por “preparar e servir as refeições do dia, acompanhar o enfermeiro para auxiliar a medir a temperatura e os níveis de oxigénio e grande parte do dia conversavam com os idosos e faziam companhia” – conta Soraia.
As irmãs confessam que tinham medo de ficar infetadas, principalmente Soraia, que é asmática, mas, “tendo em conta a dimensão do problema” nem pensaram muito nisso. “A gravidade da situação era tão grande que não podíamos ser egoístas e só pensarmos em nós”, confessam.
“Num curto espaço de tempo vimos pessoas a morrer e a sofrer numa grande aflição. Isso foi o mais penoso para nós”, acrescenta Mariana, com emoção.
Grande parte das pessoas que vivem no lar têm ainda familiares, mas nos últimos meses foram impossibilitados de receber visitas e a única forma de estarem em contacto é através de vídeochamadas. Mariana e Soraia desabafam que ficavam muito comovidas ao presenciar as saudades que os pacientes tinham dos seus mais queridos.
Dedicação à enfermagem
Esta foi uma experiência que mudou a vida das duas irmãs, mas principalmente da mais nova. Durante o voluntariado no lar, Mariana acompanhava grande parte das vezes o enfermeiro e a curiosidade de aprender cada vez mais sobre a profissão levou a que no final desta experiência decidisse estudar enfermagem. “Tratar dos pacientes e auxiliar o enfermeiro despoletou em mim um sentimento de missão e descobri que era isto que eu queria e quero fazer”.
Neste momento, Mariana prepara-se para realizar um exame no início do mês de maio para se candidatar ao curso de enfermagem da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa.
Soraia e Mariana sentem que cumpriram a missão. Nunca se esquecerão da experiência e garantem que “o retorno de fazer o bem e ajudar os outros e quem precisar é enorme, não há explicação”.
*Texto editado por S.P.P.