Cristiano Ronaldo acaba de destronar Pelé no topo dos maiores goleadores da história do futebol mundial e fê-lo com o respeito e a dignidade que as majestades merecem. Enquanto muitos órgãos de comunicação social e inúmeros especialistas em dados estatísticos consideraram o recorde batido no momento em que CR7 marcou o seu 758.º golo (Pelé tem 757 golos oficiais marcados entre Santos, Cosmos e Selecção do Brasil), o astro português da Juventus decidiu respeitar a contabilidade levada a cabo pela assessoria de Pelé, que contabiliza também nove golos pela Selecção do Estado de São Paulo e um golo pela Selecção Militar do Brasil, subindo assim a sua contagem para 767. Desta forma, o capitão da Selecção de Portugal igualou Edson Arantes do Nascimento ao marcar contra o Spezia no passado dia 2 de Março e o recorde viria mesmo a cair apenas 12 dias depois, com um hat-trick frente ao Cagliari a elevar o número oficial de Ronaldo para os 770 golos marcados em 1053 jogos.
UM REI QUE RESPEITA OUTRO REI.
Com a elevação do costume e uma humildade pouco habitual em estrelas de dimensão planetária, Ronaldo manteve-se em silêncio enquanto o Mundo teimava em querer coroá-lo como novo Rei dos goleadores e só aceitou esse reconhecimento 10 golos mais tarde, fazendo assim por merecer também a admiração e gratidão de Pelé, bem como o respeito dos seus pares. Aliás, as palavras do próprio Cristiano nas suas redes sociais são bem demonstrativas do respeito que nutre por Pelé e da importância que atribui a este feito: “A eterna e incondicional admiração que o senhor Edson Arantes do Nascimento me merece, bem como o respeito pelo futebol que se praticava noutros tempos, levou-me a seguir a sua contabilidade de 767 golos oficiais, contando também os seus golos ao serviço da Selecção Paulista e da Selecção Militar. O Mundo mudou e com o Mundo mudou o futebol, mas isso não significa que possamos apagar a história em função dos nossos interesses. Hoje, ao atingir os 770 golos oficiais na minha carreira profissional, as minhas primeiras palavras vão precisamente para Pelé. Não há nenhum jogador que não tenha crescido a ouvir histórias dos seus feitos, dos seus jogos e dos seus recordes. E eu não sou excepção. É por isso com enorme orgulho que contabilizo hoje os golos que me colocam à sua frente na lista de maiores goleadores da história, algo que nem nos meus maiores sonhos de criança eu poderia sequer conceber.”, escreveu o 7 da Juventus no dia em que assinou o seu golo número 770.
O MITO FALACIOSO DE JOSEF BICAN.
Mal Cristiano Ronaldo começou a ameaçar os dogmas dos rankings de goleadores do século passado, começaram imediatamente a surgir notícias que apontavam um avançado checo de origem austríaca (que fez carreira entre o final dos anos 30 e o início dos anos 50), de seu nome Josef Bican, como o maior goleador da história. Naturalmente, não há registos que corroborem essa teoria, já que a maior parte dos arquivos estatísticos atribui a Bican 759 golos oficiais, a FIFA fala em 805 sem apresentar provas que corroborem esse número, e a Comissão de História e Estatística da Federação Checa de Futebol aponta mesmo aos 821 golos, admitindo porém que 53 desses golos foram marcados na II Divisão da extinta Checoslováquia, conforme foi revelado por Jaroslav Kolář, o Presidente do organismo em questão. Significa isto que, se esses 53 golos foram marcados num patamar de futebol ainda mais amador do que o natural amadorismo que se praticava numa era em que o futebol dava apenas os primeiros passos um pouco por toda a Europa continental, não podem nem devem ser contabilizados em comparações de carreiras profissionais. Logo, o número de Josef Bican seria, no limite, 768 golos oficiais, abaixo do registo que Ronaldo acaba de alcançar. Não são, contudo, números que se possam sequer comparar aos de Pelé, cujos registos já são apresentados de forma mais fidedigna, e muito menos aos de Cristiano Ronaldo, que fez toda a sua carreira numa era de modernidade tecnológica que permite inclusive que haja registo em vídeo de todos os seus golos.
OS GOLOS “PERDIDOS” DE RONALDO.
Apenas a título de curiosidade, importa ainda realçar que Cristiano Ronaldo marcou mais 64 golos na sua carreira, que não estão contabilizados na sua lista de golos oficiais. 18 desses golos foram marcados nas selecções jovens de Portugal, a começar nos sub-15, passando pelos sub-17, sub-20, sub-21 e até sub-23, tendo mesmo chegado a marcar na participação lusa nos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004. Quanto aos restantes 46 golos não-oficiais como profissional, foram marcados nas diversas pré-temporadas disputadas ao serviço de Sporting (4), Manchester United (12), Real Madrid (25) e Juventus (5), e contra adversários tão prestigiantes como Sevilha, Celtic, Juventus, AC Milan, Inter Milão, Fiorentina, Chelsea, Everton, Tottenham ou Manchester City, entre muitos outros. Estes golos não contabilizados como oficiais mas que estão todos devidamente registados em vídeo e em arquivos oficiais, fariam subir a contabilidade de Cristiano Ronaldo para os 834 golos, número mais do que suficiente para pulverizar inclusive os 821 defendidos pelos apologistas da narrativa de Josef Bican, mesmo contabilizando golos em ligas amadoras na primeira metade do século XX.
A SEGUIR: ALI DAEI, ROMÁRIO E PLATINI.
Batido o registo de Pelé, há porém outros recordes míticos que estão já em ponto de mira para Cristiano Ronaldo. Comecemos pelo alvo mais provável de ser o próximo a abater: Ali Daei, ponta-de-lança iraniano que marcou 109 golos pela sua Selecção, tem CR7 a uma distância de apenas 7 golos pela Selecção Portuguesa, e tendo em conta que Portugal vai defrontar Azerbaijão, Sérvia e Luxemburgo já no final deste mês, é provável que Ronaldo se torne o Melhor Marcador de sempre de Selecções até ao dia 30 de Março. De seguida, durante o Euro’2021, Cristiano Ronaldo só precisa de marcar um golo na competição para se isolar como Melhor Marcador de sempre em fases finais de Campeonatos da Europa, registo que ocupa neste momento ex-aquo com Michel Platini, ambos com 9 golos. Por fim, um recorde que só deverá cair nos primeiros meses da época 2021/22, Cristiano Ronaldo segue no encalço de Romário, Melhor Marcador de sempre a nível de clubes, com 689 golos marcados ao serviço de emblemas tão sonantes como PSV e Barcelona na Europa, ou Vasco da Gama, Fluminense e Flamengo no Brasil. Com os seus 770 golos actuais, CR7 está a 19 de Romário, pelo que também esse recorde absoluto irá certamente cair antes do final do ano de 2021. É inevitável. Afinal de contas, como o próprio Ronaldo já afirmou em mais do que uma ocasião, ele não procura recordes… São os recordes que o procuram a ele.