Chamava-se Rubén. Rubén Oswaldo Díaz Figueras, natural de Buenos Aires onde nasceu no dia 8 de janeiro de 1946. Jogou em Espanha entre 1974 e 1977. Sempre no Atlético de Madrid. Tinha vindo do Racing Club da Argentina e para lá voltou depois do seu tempo na Europa. Defesa duro, à moda do Atleti. Há uma espécie de escola de defesas do Atlético de Madrid que batem em toda a parte do corpo do adversário desde que fique abaixo das amígdalas. Panadero era alcunha. Vinha do pai: padeiro de profissão. Ah! Mas com o filho que viesse o primeiro tentar fazer farinha. Rubén não tinha contemplações, não olhava para a cara dos adversários, não queria saber se eram pais de filhos ou ladrões de carteiras nas esquinas de La Castellana ou no Paseo de La Habana. Vinha e levava. A bola não era para seguir junta. Desfazia os pares. Era essa a sua função.
Na época de 1976-77, o Atlético de Madrid foi campeão de Espanha. Nesta de 2020-21 segue confortável na frente e vai receber, no domingo, o Real com cinco pontos de avanço e um jogo a menos. No dia 2 de janeiro de 1977, na décima sexta jornada da Liga Espanhola, o Atlético recebeu e arrasou com o Real: 4-0. Foi de rabos e orelhas no abatido Vicente Calderón. Luis Aragonés, o treinador, sabia como controlar as movimentações do alemão Paul Breitner, no meio-campo, e exigiu a Panadero que não permitisse, uma vez sequer, que o jogo de cabeça de Santillana, lá na frente do ataque branco, trouxesse chatices a Reyna. Rubén Diaz, juntamente com Luís Pereira, o brasileiro, Marcelino e Eusébio afiavam os pitons para a Batalha de Manzanares.
O golo!
Ruben Cano tinha feito 1-0 logo no segundo minuto. Depois o Real reagira mas deparou-se com um muro às riscas vermelhas e brancas. Nesse tempo, no futebol em Espanha valia tudo, mesmo arrancar olhos desde que não fossem os dois ao mesmo tempo. Panadero sentia-se em casa. Acudia aos pequenos incêndios que prometiam propagar-se junto da sua defesa, tinha um aliado matreiro, calmo, quase insensível na figura de Pereira, raspava as canelas alheias como se fosse a canivete.
Ao minuto 63 dessa tarde triste e chuvosa de Madrid, o árbitro Orellana Alvarez avistou uma mão de um defesa do Real à entrada da área de Miguel Angel e apitou o competente pontapé livre. Robi ficou por ali, segurando a bola enquanto os adversários preparavam a barreira. Dir-se-ia que o pontapé seria seu, tal o ar possessivo que exibia. Pousou-a no local da falta e tomou balanço. Correu em direção à bola, mas passou-lhe por cima. Panadero vinha atrás, à boleia, aproveitando o túnel de ar aberto pelo companheiro e chutou com tanta convicção que um jornalista espanhol descreveu o golo desta forma: “Se sacó de la chistera un majestuoso disparo que rompió las telarañas de la cruceta izquierda del portero blanco”. Rubén Diaz saltou de alegria pouco se importando para as teias de aranha que tivesse varrido do ponto onde a barra e o poste se cruzam. Foi tão agressivamente festivo que levou um amarelo por via dos exageros. Ruben Cano e Bermejo tratariam de colocar o placard em 4-0. Os brancos saíam de campo de cabeça enfiada entre os ombros. Com o seu cabelo longo, caído sobre os ombros, Panadero gozava o único golo que marcou em quatro anos em Espanha.