Mais de 3 mil elementos da PSP foram vacinados até à passada quinta-feira, de acordo com dados do Ministério da Administração Interna (MAI). No entanto, a inoculação não chegou a todos e, na ótica de fonte da Organização Sindical dos Polícias (OSP/PSP), “acontece exatamente aquilo que se tem visto nas outras instituições: dá-se prioridade aos amigos e conhecidos”.
Reservar 20 mil doses de vacinas para as autoridades policiais – metade para a GNR e metade para a PSP – era a prioridade do MAI que, pela voz de Eduardo Cabrita, no passado dia 5 de fevereiro, explicou que seria dada prioridade aos elementos que se encontram mais expostos a riscos de infeção.
A vacina chegaria em primeira instância àqueles que “estão afetos a atividades operacionais, desde a vigilância de pessoas em isolamento profilático à garantia do respeito pelas regras do estado de emergência”.
Na sexta-feira, o MAI divulgou que mais de sete mil elementos da PSP e da GNR e 11 mil bombeiros receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19 – este processo havia sido iniciado a 13 de fevereiro e teria a duração de quatro semanas.
“O processo de vacinação está a decorrer em todo o país. Mas em Lisboa, no domingo, havia vacinação à tarde e foi cancelada. Houve a informação de que não havia vacinas”, começa por explicar fonte da OSP/PSP ao i, revelando igualmente que “há a informação de que houve elementos mais novos vacinados primeiro que os mais velhos”.
“Primeiro vacinam aqueles que andam na rua e, depois, os da vertente administrativa. Esse pessoal, como estamos com efetivo um bocado reduzido, devido à pandemia, reforça a parte do exterior. É como se as secções trabalhassem a 50%. Há divisões que vão rodando, depende da decisão de cada comandante”, avança.
Vacinação indevida
“Houve pessoal que faz parte da cadeia de comando e não anda na rua sequer a ser vacinado. Estou a falar dos comandos de divisão. Supostamente, isto foi bem elaborado, porque primeiro foram vacinados os que tinham algum problema de saúde, mas agora, nos comandos mais pequenos, tudo parece decorrer com normalidade, enquanto na capital houve uma paragem”, adianta a mesma fonte, não esquecendo de lembrar que existem 10 mil vacinas para 20 mil elementos da força de segurança.
“Se os de domingo à tarde não foram vacinados, não sei quando serão notificados. E estão muito contentes, como é óbvio”, diz, realçando que “é claro que há quem não queira ser vacinado por opção e outros estão de quarentena ou doentes, mas as vacinas disponibilizadas nunca chegariam para tantos efetivos”.
Na ótica do elemento, estas reviravoltas são justificadas pelo facto de acontecer “exatamente aquilo que se tem visto nas outras instituições: dá-se prioridade aos amigos e conhecidos. Imagino que sobrem duas ou três vacinas num dia e que vá à Calçada da Ajuda um ou outro receber a vacina”.
E a tutela? “Aquilo que nos revolta é que foram inoculadas pessoas que não deviam ter sido. Uma coisa é estarmos a falar de um comando de divisão com quase 60 anos, que tem uma idade já delicada, outra é falarmos de pessoas com 40 e tal anos”, desabafa, esclarecendo que a organização ainda não dirigiu nenhuma queixa formal ao MAI porque “o tempo de resposta é muito longo”: “Se lhe interessa, responde logo; se não lhe interessa, não responde e fica tudo em stand-by até arranjar uma solução, mas pode até não dar nenhuma resposta, que é o mais normal”.
“Só conseguimos fazer pressão pela comunicação social”, confessa. “E, ainda por cima, agora diz-se que vamos deixar de ter prioridade na vacinação. Não sabemos o que fazer”, confessa a fonte, referindo-se às declarações do novo coordenador da task force, Henrique Gouveia e Melo, ao jornal Expresso, em que elucidou que a vacinação das forças de segurança e bombeiros vai deixar de liderar as prioridades devido à escassez de vacinas, sendo reforçada a administração a pessoas com 80 ou mais anos e a pessoas entre os 50 e os 79 anos com doenças crónicas.