Haverá quem seja capaz de ler o futuro no voo dos pássaros. Ou nas entranhas de animais eviscerados, o que deve ser muito menos agradável. Um sol de primavera ilumina-me a varanda e o Sado, geralmente castanho, tem reflexos de prata. Há pouco menos de um ano, Portugal fechou-se dentro de si próprio como um bicho-de-conta.
Todos tinham medo de todos. Foi quando este espaço pequeno de lajedo cor de sangue seco se tornou o lugar da minha escrita permanente. Céu e rio, aves e palavras. Milhares e milhares de palavras como forma de combater a inércia destes momentos inquietantes que não nos deixam adivinhar o futuro nem pelo saltitar dos pardais, agora que as andorinhas já foram, incapazes de suportar este frio que sopra em frinchas vindo das calotas polares.
Mais uma vez ouve-se o passo do carcereiro e o tilintar sinistro das chaves. “Não saiam de casa!”, ordenam-nos. Mas depois ficamos a saber que é dentro da casa de cada um de nós que a maleita se instala pela calada e mais estragos faz na sua ânsia de morte.
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