A polémica de um casamento em Alter do Chão que durou cinco dias e juntou 50 pessoas, e em que militares da GNR terão sido agredidos quando foram pedir contenção nos festejos, foi desvalorizada pelo comando nacional da GNR, mas a Associação Nacional dos Profissionais da Guarda tem uma versão completamente diferente. “A patrulha dirigiu-se ao local [no dia 23] e foi rodeada por indivíduos que se encontravam naquela festa”, explicou ao i António Barreira, coordenador da região sul da Associação dos Profissionais da Guarda (APG). “Entretanto, a viatura policial foi pontapeada e houve o arremesso de um cigarro aceso para dentro da mesma”, assumiu o dirigente, referindo que “os elementos da guarda, que tinham ido ao local a pedido da população – que se sentiu incomodada –, conseguiram sair do bairro com dificuldade porque a saída e a entrada são as mesmas, existindo uma espécie de beco”.
Ainda que a GNR tenha desmentido as notícias publicadas acerca da suposta “festa sem regras”, divulgando que se tratou de “uma festa de Natal” levada a cabo pelos moradores do Bairro da Horta das Furnas, a Associação dos Profissionais da Guarda garantiu ao i que os dois guardas chamados ao local tentaram “explicar calmamente” aos participantes que o “barulho estava a incomodar os restantes moradores”.
A escalada da violência
Na ótica de António Barreira, tem-se verificado a escalada da violência a par com a da impunidade, que “conduz a este tipo de comportamento para com as forças de segurança”. “O interior tem uma população muito envelhecida que, claramente, sentiu medo e chamou a GNR ao verificar a realização da festa. Por isso, o episódio de Alter do Chão espelha a impunidade de quem agride as autoridades”, acrescentou Barreira.
Na véspera de Natal registavam-se dez casos ativos de covid-19 em Alter do Chão, segundo dados disponibilizados no site oficial do município. Nesse mesmo dia, de modo a travar uma festa ilegal com cerca de meia centena de pessoas, perto da meia-noite, a GNR foi chamada ao local por denúncias de excesso de ruído. De acordo com um comunicado a que o i teve acesso, a GNR avançou que “nada indica que tenha existido qualquer cerimónia de casamento”, mas sim “uma festa de Natal que, tradicionalmente, os habitantes daquele bairro celebram”, tendo esta ocorrido “nas suas residências e respetivos anexos, incluindo uma tenda”.
Contudo, a população, à semelhança da Associação dos Profissionais da Guarda, parece ter uma opinião contrária. “Eu sei aquilo que aconteceu, mas estou a atender pessoas e não posso estar com estas conversas ao telefone”, foi a resposta que o i obteve da parte da funcionária de uma das principais mercearias do município quando questionada acerca destas ocorrências.
Estado de emergência
Fonte oficial da GNR explicou que “não existindo restrições à circulação entre concelhos, não existindo também o dever geral de recolhimento neste período”, nada justificava outro comportamento das forças de segurança.
A GNR admitiu que no âmbito da patrulha foi identificado um homem e elaborado um auto de notícia para o Tribunal Judicial de Portalegre, tendo sido também elaborado um auto de contraordenação por ruído de vizinhança.
Ainda assim, na sequência da mobilização de outras patrulhas, não houve registo de outros incidentes nos dias seguintes, segundo o comando nacional da GNR.