Os fãs de Roque Santeiro recordam-se certamente de Dona, o tema romântico que acompanhava em pano de fundo as aventuras amorosas da Viúva Porcina (Regina Duarte), uma vamp cujo coração oscilava entre o latifundiário Sinhozinho Malta (Lima Duarte) e o galã Roberto Mathias (Fábio Júnior). A voz dessa canção, que entrou pela casa dos portugueses adentro em finais da década de 1980, através da novela da Globo Roque Santeiro, calou-se definitivamente. Paulo César Santos, mais conhecido por Paulinho, o vocalista dos Roupa Nova, morreu esta segunda-feira, 14 de dezembro, aos 68 anos, depois de ter contraído covid-19.
“As luzes do palco se apagaram. Infelizmente o nosso querido Paulinho não resistiu”, anunciou ontem a banda na sua conta oficial do Instagram. “Acabamos de receber a notícia que ele veio a falecer de falência de múltiplos órgãos após ser acometido pela infeção do vírus covid-19. Paciente decorrente de outras co-morbidades, entre elas um transplante de medula óssea devido a um linfoma. Ele teve uma parada cardiorrespiratória hoje, que levou à parada dos órgãos. Nossos sinceros agradecimentos à todos que oraram e pediram por ele. Deus o receba de braços abertos! #Luto”.
Na realidade, Paulinho até já nem estava infetado com o novo coronavírus. Porém, as complicações decorrentes da doença já haviam feito estragos irremediáveis no seu organismo fragilizado, depois de em setembro ter sido sujeito a um transplante de medula óssea para tratar um linfoma. Encontrava-se a recuperar da intervenção quando contraiu covid-19.
Recordistas das novelas Nascido no Rio de Janeiro a 6 de setembro de 1952, Paulinho começou cedo a carreira na música. Antes de fazer vinte anos já era vocalista da banda de bailes Los Panchos Villa. Os Roupa Nova passaram por várias fases até se fixarem na configuração definitiva. Nasceram como Os Famks, um grupo muito popular na noite carioca de inícios da década de 1970, sendo rebatizados Os Motokas cinco anos depois, altura em que passaram a integrar um novo teclista e guitarrista e um novo baterista.
Foi o produtor Mariozinho Rocha quem sugeriu o nome Roupa Nova em 1980, quando assinaram com a Polygram, talvez com o intuito de mostrar que só mudavam de roupagem, mas por baixo continuavam os mesmos.
Daí em diante, tudo lhes correu de feição. Os êxitos sucederam-se – Whisky-a-Go-Go, Chuva de Prata (com Gal Costa), Linda Demais, Dona, Meu Universo é Você, Coração Pirata… – com a sua integração nas novelas da Globo a transportá-los para outros patamares de audiência. Uma dessas canções levaria mesmo à mudança do título já escolhido da produção da Globo em que ia entrar, para ‘Um sonho a mais’. Foram o agrupamento recordista das bandas sonoras no Brasil, tornando-se uma verdadeira máquina de fazer hits românticos para dezenas de telenovelas ao longo de décadas, a última das quais em 2001.
Ao contrário de outras bandas, onde o sucesso vai de par com os conflitos, os Roupa Nova mantiveram-se sempre unidos e a fazer música. Somaram nada menos do que 40 anos com a formação original – um recorde de longevidade absoluto. Isso traduziu-se em números: venderam mais de 20 milhões de discos. Em dezembro de 2019 lançaram o single ‘Noites Traiçoeiras’ e para 2021 tinham prevista uma tournée com o projeto A Força do Amor em várias cidades do Brasil.