O XXII Congresso Nacional da Juventude Socialista resultou na eleição de Miguel Costa Matos como secretário-geral dessa estrutura política, com o combate à crise social e económica, à crise climática e à crise democrática como bandeiras da sua liderança. A eleição não veio, no entanto, isenta de polémicas, tendo o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, histórico dirigente dos jovens socialistas, declarado à Agência Lusa que “chegou o Estalinismo à Juventude Socialista”. O comentário surgiu na sequência do discurso de Miguel Costa Matos no encerramento do Congresso Nacional, em que referiu vários antigos dirigentes da instituição, tendo deixado de fora Sérgio Sousa Pinto e António José Seguro. Agora, Miguel Costa Matos explica ao i o que está por trás desta nova liderança da JS, que desafios enfrenta a estrutura política e o país e que soluções apresenta.
Que resposta dá às acusações da “chegada do Estalinismo à Juventude Socialista” feitas pelo antigo líder da JS Sérgio Sousa Pinto?
Assim que fui eleito recorri às redes sociais, onde relembrei todos os antigos secretários-gerais da JS. Eu acredito que uma estrutura que não valoriza a sua história, não tem futuro. Temos muito orgulho em todos e tive a oportunidade de comunicar isso ao Sérgio Sousa Pinto. Para mim, é um assunto fechado.
Que novidades apresenta esta candidatura ao panorama na JS e no PS?
Esta candidatura responde a um momento particularmente difícil, não só para a nossa geração como para o país e o mundo, que exige uma nova ambição e urgência para agir e transformar a sociedade. Tem de ser criada uma nova forma de fazer política, que se aproxime dos jovens, a quem as estruturas políticas por vezes dão pouca atenção. Não foram os jovens que se afastaram da política, mas sim a política que se afastou dos jovens. Não basta as soluções convenientes e a gestão mais corrente. É preciso aprofundar a lógica reformista dos Governos socialistas até agora. Entendemos que a JS pode acrescentar ao projeto do PS, com essa vontade de agir e audácia de propor novas soluções. Queremos colocar novos temas na agenda política nacional.
Não concorda então que os jovens parecem ter um maior desinteresse na política?
A juventude tem-se envolvido fortemente em movimentos sociais e em ativismo. Isto só prova que os jovens não estão desinteressados na política. Nas juventudes partidárias existe uma grande oportunidade para ouvir a voz dos jovens e transformar essas queixas em propostas a ser desenvolvidas. Precisamos de conseguir aproximar-nos do território, dos movimentos sociais, de adotar um registo de intervenção que não seja meramente aquela lógica tradicional, mas sim ativista, que perceba que para mudar a sociedade não basta convencer o partido, precisamos também de convencer a sociedade que podemos fazer a mudança. Não só através de projetos de lei, mas também em intervenção nas autarquias, de consciencialização das pessoas.
Que visão tem sobre a importância das juventudes partidárias no país?
As juventudes partidárias têm um papel importantíssimo para acrescentar aos partidos um conjunto de propostas que não respondam só aos sonhos da nossa geração, mas que apresentem uma visão jovem do conjunto do país. Na história da JS há vários exemplos, como o papel na despenalização do aborto, na legalização do casamento gay, no caminho para a redução da propina e no aumento da ação social escolar no ensino superior e no ensino secundário. Verificamos que as juventudes têm um enorme papel a desempenhar. Para isso, é preciso que consigam afirmar a sua própria visão e opinião e que consigam fazer esse papel de lutar por aquilo em que a nossa geração acredita.
A abstenção em Portugal tem vindo a aumentar desde 1979, e nas últimas eleições legislativas atingiu um máximo histórico: 45,5%. Como se recupera o interesse na participação eleitoral?
O programa “Tempo de Agir” tem três grandes pilares: a crise económica e social que se vive por causa da pandemia, a crise climática e a crise democrática. Esta última não surge com a eleição da extrema-direita no Parlamento, mas já vem de trás. Algumas ideias passam por permitir novas modalidades de voto, que permitam às pessoas participar sem ser nos centros tradicionais. Há também um papel importante no combate à corrupção para credibilizar a política. A JS não tem qualquer pudor em apresentar uma agenda para enfrentar este problema, porque é uma questão que a nossa geração tem como prioritária e recusa as visões populistas desta questão. No futuro, devem-se aproximar os parlamentares dos eleitores e deve ser feita uma nova organização do poder autárquico, para ser mais representativo. A leitura que sobretudo as pessoas precisam de sentir é que a política faz diferença na vida delas e que estão em discussão reais opções de soluções.
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