“Se tivesse ido para uma guerra se calhar não via o que tenho visto. Temos doentes em macas em tudo o que é canto. Os doentes que estão encostados às paredes com saídas de oxigénio não é muito preocupante porque o oxigénio não acaba. Mas se for um velhinho que se desoriente, vai tirar a máscara e nós não temos tempo para estar sempre à beira da pessoa a colocar a máscara. Se a pessoa estiver num corredor com uma bala de oxigénio, a bala de oxigénio tem um limite, dura três, quatro, cinco seis horas, depende do fluxo. Fazemos um juramento para sermos enfermeiros, dar dignidade às pessoas e salvar vidas, e acabamos por estar com questões éticas e morais impensáveis, não conseguimos socorrer toda a gente. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance mas é pouco”.
O relato foi feito ontem ao i por um enfermeiro do Hospital Padre Américo, em Penafiel. Pede o anonimato, mas também para denunciar a situação que se está a viver nas últimas semanas na urgência do hospital, no epicentro da explosão de casos de covid-19 na região Norte. Uma situação que compara a um cenário que poderia ver numa guerra e que está a deixar as equipas de rastos. Sem vagas nas enfermarias, o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, que integra também o Hospital de Amarante, continua a admitir doentes nas urgências e é lá, na área dedicada às doenças respiratórias, que ficam doentes suspeitos de covid-19 enquanto aguardam resultados, infetados já confirmados e que poderão ter alta e doentes internados em maca, a aguardar vaga em enfermaria.
Ontem de manhã o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa tinha 235 doentes internados, mais 25 do que no dia anterior: 165 estavam no Hospital de Penafiel e destes 38 permaneciam na urgência em macas lado a lado. De manhã, veio a público um email do presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar a pedir reforços à Administração Regional de Saúde do Norte. “Preciso mesmo de ajuda”, lia-se no assunto da mensagem, a que o i também teve acesso.
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