Política Sem Educação, Democracia Sem Futuro


Expressões citadas por deputados presentes como “aberração”, “drogada” e “pareces uma morta” não são apenas agressões pessoais, mas um atentado ao próprio conceito de representação política.


A política portuguesa atravessa tempos conturbados, não apenas pelos desafios sociais e económicos, mas pela crescente degradação do respeito nas instituições democráticas. Quando o insulto se torna argumento e a falta de educação se transforma em estratégia, o debate morre. Com essa morte, perdemos grande parte da confiança na democracia.

O recente episódio protagonizado pela bancada do partido Chega, com insultos dirigidos à deputada Ana Sofia Antunes, do Partido Socialista, é um reflexo dessa tendência preocupante. Expressões citadas por deputados presentes como “aberração”, “drogada” e “pareces uma morta” não são apenas agressões pessoais, mas um atentado ao próprio conceito de representação política. Quando o debate parlamentar se reduz ao ataque ad hominem, perde-se a essência da democracia: a troca de ideias, o confronto de visões e a construção de soluções para o país.

A política, por natureza, envolve confronto de ideias e debates acesos. No entanto, há uma linha clara que separa a crítica construtiva do ataque pessoal, e essa linha tem sido constantemente ultrapassada. É essencial que o Parlamento, enquanto símbolo máximo da nossa democracia, seja o primeiro a estabelecer padrões de conduta e a assegurar que o respeito prevaleça. Tal como acontece no Parlamento Europeu, onde o desrespeito pelas regras de conduta pode levar a sanções como multas ou suspensões, Portugal precisa urgentemente de adotar medidas similares. Não se trata de limitar a liberdade de expressão, mas de proteger a dignidade do debate público.

A falta de respeito na política não prejudica apenas os visados. Envenena o ambiente democrático, afasta cidadãos da vida pública e reforça a ideia de que a política é um palco onde vale tudo. Se queremos atrair pessoas sérias, competentes e experientes para a política, precisamos de criar um ambiente onde o debate seja feito com elevação, onde os argumentos prevaleçam sobre os insultos e onde ninguém tenha receio de ser atacado pessoalmente.

Mas há outro lado desta moeda. O crescente escrutínio sobre a vida pessoal e profissional dos políticos tem um efeito perverso. Parece que, para estar na política, é necessário não ter negócios, não ter património, não ter sequer uma vida para além do serviço público. Casos como o do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e da empresa familiar de gestão de imóveis, ou a demissão do secretário de Estado Hernâni Dias, são exemplos de como a política se tornou um espaço onde qualquer ligação ao mundo empresarial é vista com suspeição.

Em democracias mais maduras, como a alemã ou a britânica, há regras claras sobre conflitos de interesse, sem que isso implique a criminalização de quem tem uma carreira profissional antes da política. Portugal, pelo contrário, parece querer afastar da vida pública quem construiu algo fora dela. O que se promove, assim, é uma política feita por quem nunca criou empregos, nunca geriu negócios e nunca enfrentou os desafios do mundo real.

A política precisa de pessoas que tenham experiência real, que tenham empregado pessoas, criado valor e enfrentado os desafios da economia real. No entanto, o atual clima de desconfiança e crítica constante pode afastar estas pessoas da vida pública. Quando qualquer ligação a atividades empresariais é vista como um potencial conflito de interesses, acabamos por empurrar para a política apenas aqueles que nada têm a perder.

E isto leva-nos a um ponto crucial: a política não pode ser apenas o último refúgio dos que não têm alternativas. Pelo contrário, deve ser o espaço de excelência onde aqueles que já provaram o seu valor noutros setores trazem a sua experiência e visão para o serviço público. Precisamos de líderes que conheçam o país real, que saibam o que é gerir um negócio, que entendam o impacto das políticas públicas na vida das pessoas. E, acima de tudo, precisamos de líderes que tragam essa bagagem sem receio de serem perseguidos por ela.

O país já perdeu a conta a quantos organismos têm a palavra “transparência” ou “fiscalização” no nome. Mas se a perceção de corrupção não piora porque há mais crimes, mas porque há menos respostas, de que servem estas entidades? O problema não é apenas a corrupção em si, mas a certeza da impunidade.

Há também um padrão que se repete. Sempre que há um escândalo, a responsabilização parece seguir dois caminhos distintos: há casos que são rapidamente expostos e mediaticamente amplificados, e outros que seguem um processo de esquecimento quase instantâneo. Uns enfrentam a Justiça com uma velocidade surpreendente, outros parecem intocáveis. Esta seletividade na responsabilização só agrava a perceção de que há regras para uns e regras diferentes para outros.

A corrupção não é só um problema de quem governa, mas de quem se habituou a ser governado assim. Quando normalizamos pequenas cunhas e favores, abrimos a porta a grandes esquemas. Se a sociedade não for intolerante à corrupção no seu dia a dia, os políticos não terão qualquer incentivo para mudar.

A democracia precisa de respeito. Respeito pelas diferenças, respeito pelos adversários e, acima de tudo, respeito pelos cidadãos que representam. O Parlamento não é um palco para ofensas, mas sim o espaço onde se discute o futuro do país. Se não formos capazes de garantir essa elevação no discurso político, arriscamo-nos a perpetuar o ciclo de descredibilização das instituições e a afastar da política as pessoas que mais poderiam contribuir para a sua regeneração.

Se aceitarmos este caminho, estamos a preparar uma política onde só ficam aqueles que nada têm a perder. Mas a pergunta que devemos fazer é: se o melhor da nossa sociedade foge da política, quem sobrará para decidir o nosso futuro? E se não exigirmos respeito e seriedade agora, até quando poderemos dizer que temos uma democracia digna desse nome?

Política Sem Educação, Democracia Sem Futuro


Expressões citadas por deputados presentes como “aberração”, “drogada” e “pareces uma morta” não são apenas agressões pessoais, mas um atentado ao próprio conceito de representação política.


A política portuguesa atravessa tempos conturbados, não apenas pelos desafios sociais e económicos, mas pela crescente degradação do respeito nas instituições democráticas. Quando o insulto se torna argumento e a falta de educação se transforma em estratégia, o debate morre. Com essa morte, perdemos grande parte da confiança na democracia.

O recente episódio protagonizado pela bancada do partido Chega, com insultos dirigidos à deputada Ana Sofia Antunes, do Partido Socialista, é um reflexo dessa tendência preocupante. Expressões citadas por deputados presentes como “aberração”, “drogada” e “pareces uma morta” não são apenas agressões pessoais, mas um atentado ao próprio conceito de representação política. Quando o debate parlamentar se reduz ao ataque ad hominem, perde-se a essência da democracia: a troca de ideias, o confronto de visões e a construção de soluções para o país.

A política, por natureza, envolve confronto de ideias e debates acesos. No entanto, há uma linha clara que separa a crítica construtiva do ataque pessoal, e essa linha tem sido constantemente ultrapassada. É essencial que o Parlamento, enquanto símbolo máximo da nossa democracia, seja o primeiro a estabelecer padrões de conduta e a assegurar que o respeito prevaleça. Tal como acontece no Parlamento Europeu, onde o desrespeito pelas regras de conduta pode levar a sanções como multas ou suspensões, Portugal precisa urgentemente de adotar medidas similares. Não se trata de limitar a liberdade de expressão, mas de proteger a dignidade do debate público.

A falta de respeito na política não prejudica apenas os visados. Envenena o ambiente democrático, afasta cidadãos da vida pública e reforça a ideia de que a política é um palco onde vale tudo. Se queremos atrair pessoas sérias, competentes e experientes para a política, precisamos de criar um ambiente onde o debate seja feito com elevação, onde os argumentos prevaleçam sobre os insultos e onde ninguém tenha receio de ser atacado pessoalmente.

Mas há outro lado desta moeda. O crescente escrutínio sobre a vida pessoal e profissional dos políticos tem um efeito perverso. Parece que, para estar na política, é necessário não ter negócios, não ter património, não ter sequer uma vida para além do serviço público. Casos como o do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e da empresa familiar de gestão de imóveis, ou a demissão do secretário de Estado Hernâni Dias, são exemplos de como a política se tornou um espaço onde qualquer ligação ao mundo empresarial é vista com suspeição.

Em democracias mais maduras, como a alemã ou a britânica, há regras claras sobre conflitos de interesse, sem que isso implique a criminalização de quem tem uma carreira profissional antes da política. Portugal, pelo contrário, parece querer afastar da vida pública quem construiu algo fora dela. O que se promove, assim, é uma política feita por quem nunca criou empregos, nunca geriu negócios e nunca enfrentou os desafios do mundo real.

A política precisa de pessoas que tenham experiência real, que tenham empregado pessoas, criado valor e enfrentado os desafios da economia real. No entanto, o atual clima de desconfiança e crítica constante pode afastar estas pessoas da vida pública. Quando qualquer ligação a atividades empresariais é vista como um potencial conflito de interesses, acabamos por empurrar para a política apenas aqueles que nada têm a perder.

E isto leva-nos a um ponto crucial: a política não pode ser apenas o último refúgio dos que não têm alternativas. Pelo contrário, deve ser o espaço de excelência onde aqueles que já provaram o seu valor noutros setores trazem a sua experiência e visão para o serviço público. Precisamos de líderes que conheçam o país real, que saibam o que é gerir um negócio, que entendam o impacto das políticas públicas na vida das pessoas. E, acima de tudo, precisamos de líderes que tragam essa bagagem sem receio de serem perseguidos por ela.

O país já perdeu a conta a quantos organismos têm a palavra “transparência” ou “fiscalização” no nome. Mas se a perceção de corrupção não piora porque há mais crimes, mas porque há menos respostas, de que servem estas entidades? O problema não é apenas a corrupção em si, mas a certeza da impunidade.

Há também um padrão que se repete. Sempre que há um escândalo, a responsabilização parece seguir dois caminhos distintos: há casos que são rapidamente expostos e mediaticamente amplificados, e outros que seguem um processo de esquecimento quase instantâneo. Uns enfrentam a Justiça com uma velocidade surpreendente, outros parecem intocáveis. Esta seletividade na responsabilização só agrava a perceção de que há regras para uns e regras diferentes para outros.

A corrupção não é só um problema de quem governa, mas de quem se habituou a ser governado assim. Quando normalizamos pequenas cunhas e favores, abrimos a porta a grandes esquemas. Se a sociedade não for intolerante à corrupção no seu dia a dia, os políticos não terão qualquer incentivo para mudar.

A democracia precisa de respeito. Respeito pelas diferenças, respeito pelos adversários e, acima de tudo, respeito pelos cidadãos que representam. O Parlamento não é um palco para ofensas, mas sim o espaço onde se discute o futuro do país. Se não formos capazes de garantir essa elevação no discurso político, arriscamo-nos a perpetuar o ciclo de descredibilização das instituições e a afastar da política as pessoas que mais poderiam contribuir para a sua regeneração.

Se aceitarmos este caminho, estamos a preparar uma política onde só ficam aqueles que nada têm a perder. Mas a pergunta que devemos fazer é: se o melhor da nossa sociedade foge da política, quem sobrará para decidir o nosso futuro? E se não exigirmos respeito e seriedade agora, até quando poderemos dizer que temos uma democracia digna desse nome?