Parlamento aprova procriação medicamente assistida ‘post mortem’

Parlamento aprova procriação medicamente assistida ‘post mortem’


Discussão chegou ao Parlamento através de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC), que reuniu mais de 20 mil assinaturas, para consagrar a inseminação ‘post mortem’ na lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), e que foi dinamizada em fevereiro por Ângela Ferreira.


O Parlamento aprovou, esta sexta-feira, a procriação medicamente assistida 'post mortem', com os votos contra do PSD e do CDS-PP e a abstenção de cinco deputados do PS.

De realçar que a discussão chegou ao Parlamento através de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC), que reuniu mais de 20 mil assinaturas, para consagrar a inseminação 'post mortem' na lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), e que foi dinamizada em fevereiro por Ângela Ferreira, que pretende utilizar o esperma do marido, que antes de morrer o criopreservou, para que a mulher o pudesse utilizar para engravidar. À ILC juntaram-se ainda os projetos de lei apresentados pelo PS, BE e pelo PCP – agora aprovados.

O PSD contestou duramente os projetos. Sandra Pereira, deputada social-democrata, questionou se "têm ou não têm estas crianças o direito a nascerem com pai ou com mãe" e justificou que depois “de uma reflexão maturada e ponderada” o PSD considerou que a reflexão sobre estas matérias "não pode e nem deve" assentar exclusivamente no direito das mulheres, mas sobretudo nos direitos das crianças.

A lei em vigor "não quis tratar o dador da mesma forma que trata um pai. Pai é outra coisa, aporta história, dá-lhe nome atribui direitos patrimoniais, direitos sucessórios", defendeu, sendo depois duramente criticada pelo deputado socialista Pedro Delgado Alves.

"Não estava à espera de uma intervenção diretamente de 1955, tendo em conta que a legislação sobre procriação medicamente assistida foi alterada em 2016 e já hoje admite o acesso das mulheres solteiras à PMA", disse Pedro Delgado Alves, que foi fortemente aplaudido.

Já o CDS-PP, que também votou contra, destacou, pela voz de Ana Rita Bessa, que o partido "não é insensível" ao caso de Ângela Ferreira, mas que "há outros valores a ponderar e que estão explanados nos pareceres do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida".

Recorde-se que depois de Hugo, marido de Ângela, morrer em março do ano passado, aos 29 anos, numa luta contra o cancro, e poucas horas depois de ter casado com Ângela, quando estava internado no Hospital de São João, no Porto, ficou apenas por cumprir um sonho: ter um filho com a mulher. A história do casal emocionou os portugueses depois de ser contada numa reportagem da TVI. Mais tarde, e no seguimento de uma primeira petição, Ângela criou uma nova petição dirigida à Assembleia da República, para mudar a lei que, até então, não permitia a procriação medicamente assistida após a morte.