Não depender de terceiros ou a simples ideia de realizar um sonho são dos motivos que poderão levá-lo a criar o seu próprio negócio. Uma solução que poderá ganhar um novo fôlego tendo em conta esta fase de pandemia: com a taxa de desemprego a aumentar e com muitos trabalhadores ainda em layoff.
A tarefa pode parecer, à primeira vista, complicada, mas é bastante mais simples do que parece. Ter uma boa ideia – embora não seja tudo – é o requisito inicial para constituir uma empresa. A partir daí é necessário recolher informação e desenvolver o conceito (ver coluna ao lado).
Segue-se a angariação de capital. E é aí que poderão começar os problemas. O ideal seria financiar o seu negócio com capitais próprios, mas a percentagem de empreendedores que conseguem criar uma empresa sem recorrer a financiadores externos é residual. Por isso, deve estar preparado para defender o seu projeto junto da banca, de investidores privados ou de empresas de capital de risco.
O recurso às instituições financeiras é uma das formas mais óbvias e comuns de os empreendedores conseguirem obter financiamento, mas o certo é que o acesso ao crédito continua restrito. Ao contrário da habitação e do consumo, o crédito a empresas continua a abrandar. De acordo com os últimos dados do Banco de Portugal, o novo crédito às empresas desceu em agosto pelo terceiro mês consecutivo, tendo sido emprestados 1998 milhões de euros, menos 31% face a julho e menos 23% em relação a agosto de 2019. Feitas as contas, entre janeiro e agosto, as novas operações de empréstimos dos bancos às empresas totalizam 24 497 milhões de euros. Este ano, devido à crise desencadeada pela covid-19, as empresas têm recorrido a empréstimos bancários com garantia de Estado.
Microcrédito Outra hipótese passa por recorrer ao microcrédito. Geralmente, é a solução para todos aqueles que não têm acesso ao crédito bancário normal e desejam realizar um pequeno investimento. Para isso, os empreendedores não podem ter registo de incidentes não justificados no sistema bancário. Por norma, o valor do empréstimo tem alguns limites e varia dos mil aos 15 mil euros. A ideia é apoiar projetos que têm condições de sucesso, mas conte também com entraves. A explicação é simples: muitos dos potenciais microempresários têm incidentes bancários ativos ou por outros motivos ligados ao negócio ou às suas condições pessoais.
Existe ainda outra modalidade, o Microinvest, que permite um financiamento máximo de 20 mil euros, mas as condições de acesso são restritas: desempregados involuntários inscritos no centro de emprego, desempregados voluntários inscritos no centro de emprego há mais de nove meses, jovens à procura do primeiro emprego e trabalhadores independentes com rendimento médio mensal inferior ao salário mínimo no último ano. E nem todos os projetos são aprovados. De acordo com a associação, a maioria dos pedidos que chegam à entidade são recusados porque, em muitos casos, o projeto não tem viabilidade.
Já a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) – que também gere um programa nacional de microcrédito – financia a concretização de projetos, mas com um limite máximo de financiamento que ronda os 20 mil euros. “Este microcrédito destina-se a todos aqueles que, demonstrando um perfil empreendedor, sentem dificuldades em ingressar no mercado de trabalho e estão, por isso, em risco de exclusão social. São igualmente destinatárias do programa as cooperativas e microentidades que apresentem projetos viáveis com criação líquida de postos de trabalho”, diz.
Capital de risco Apostar no capital de risco é outra via para quem quer lançar o seu negócio mas não tem o capital necessário. Esta opção é aplicável a projetos de arranque, expansão, modernização e inovação empresarial. O Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) é o principal financiador público de fundos de capital de risco. As participações no capital social das empresas concretizam-se pela realização de aumentos de capital que podem ser complementados por suprimentos, prestações suplementares de capital ou outros instrumentos financeiros análogos por parte de um operador especializado nesta área.
Geralmente, as participações são temporárias e, na generalidade dos casos, minoritárias. O operador de capital de risco intervém na empresa com o objetivo de criar valor, alienando a sua participação num prazo médio de três a sete anos.
Guia SOS para o microcrédito
O que é o microcrédito?
É um pequeno empréstimo bancário destinado a apoiar pessoas que não têm acesso ao crédito bancário mas querem desenvolver uma atividade por conta própria.
Qual o montante máximo que pode ser pedido?
O montante máximo depende da entidade a que recorrer, mas varia entre os 15 mil e os 20 mil euros. No entanto, na maioria dos casos, a verba é disponibilizada em tranches: a primeira no início do primeiro ano e a segunda, no montante complementar, no início do segundo ano, se as condições de evolução do negócio o justificarem. No caso do Microinvest, o financiamento é feito através de tranches: 50% + 25% + 25%, mas a libertação de cada tranche está sujeita à apresentação de comprovativos das despesas anteriores. E caso o negócio seja fechado antes do final da amortização, o candidato terá de reembolsar os encargos suportados pelo IEFP.Há também penalizações com as moras: o não cumprimento do pagamento de uma prestação fará com que o empréstimo vença de imediato, estando o candidato sujeito às devidas penalizações e à perda dos benefícios do programa Microinvest.
Que tipo de negócio?
Todos os tipos de negócio são admissíveis, desde que se verifique que podem ter êxito com o financiamento disponível e que o exercício da respetiva atividade não contrarie os princípios pelos quais se rege o microcrédito.