Talvez a governação precise de um médico


 António Costa já não surpreende ninguém. É manifestamente um lobo em pele de cordeiro que ao mínimo desvio do que considera ser a sua imagem de tranquilidade fica imediatamente com o verniz estalado revelando-se naquilo que em minha opinião verdadeiramente é. Um ditador travestido de democrata.


Tenho por diversas vezes escrito que um dos grandes problemas do nosso país é a falta de personalidade que muitos dos principais atores da sociedade demonstram quando confrontados com problemas ou celeumas que a exigem. Como será de fácil compreensão aquilo que hoje me leva a escrever é o mais recente episódio inicialmente protagonizado pelo primeiro-ministro ao qual se juntou depois uma atabalhoada e questionável resposta do bastonário da Ordem dos Médicos. Vamos por partes. António Costa já não surpreende ninguém. É manifestamente um lobo em pele de cordeiro que ao mínimo desvio do que considera ser a sua imagem de tranquilidade fica imediatamente com o verniz estalado revelando-se naquilo que em minha opinião verdadeiramente é. Um ditador travestido de democrata. Tanto que se observarmos politicamente o seu executivo, rapidamente verificamos que o extenso elenco ministerial é fraco e na maior parte das vezes incompetente, não porque no PS não existissem nomes mais capacitados, mas porque Costa prefere rodear-se de frouxos que consiga controlar, a ter perto de si quem o contrarie ou questione. Típico de um líder fraco que sabe que o é. Mas disso trataremos outro dia, voltemos agora ao cerne da questão. Esta semana todos podemos ouvir o primeiro-ministro dirigir-se a uma das classes profissionais mais sacrificadas do país como sendo uns “gajos cobardes”. Assim com esta leviandade. António Costa tratou os médicos portugueses como uma espécie de marginais que não sabem bem o que andam para aqui a fazer. Ora isto é condenável. E não estou a tirar partido político da questão, pese embora anteveja que alguns energúmenos se apressem a dizê-lo. Antes de qualquer outra coisa sou um cidadão. Como qualquer cidadão, se há profissão que admiro, respeito e que quero ver valorizada, é a dos médicos. Ora o primeiro-ministro se fosse um homem humilde (que não é), e sobretudo uma pessoa educada (que não sei se é ou deixa de ser, mas se é, desta vez não o demonstrou) o que deveria ter feito imediatamente era pedir publicamente desculpas aos médicos e aos portugueses. Mas não. O primeiro-ministro chamou à sua presença o Bastonário da Ordem dos Médicos que em vez de fazer vincar o seu desagrado e repúdio pelas palavras dirigidas à sua profissão e classe que representa, acabou dizendo aos microfones que o mal-entendido havia sido esclarecido e que o primeiro-ministro lhe havia manifestado o apreço que tem pelos médicos portugueses. É aqui que entra a falta de personalidade das pessoas. Mal-entendido não houve nenhum e o que se ouviu, de apreço nada teve. Que o bastonário da ordem dos médicos quisesse contribuir para uma pacificação social e profissional do sucedido, aplaudo e até elogio. O que já não concebo é que seja incapaz de condenar veementemente as palavras que o primeiro-ministro proferiu. Sem dó nem piedade. Não o fez porquê? Tem medo do primeiro-ministro? Foi de alguma forma ou por alguém pressionado a suavizar um episódio que de suave nada teve? Não estou a dizer que tenha sido. Estou a questionar se foi porque a sua atitude em nada foi normal e sobretudo não valorizou a dignidade dos médicos portugueses. Até porque depois surgiram novos detalhes na imprensa em que alegadamente o bastonário afirmava que havia diferenças substanciais entre o que Costa lhe tinha dito a portas fechadas e aos microfones das televisões. Portanto, ninguém se entende. Ambos ficaram pessimamente na fotografia e todos assistimos a mais uma grande trapalhada institucional. Anda tudo a gozar com os portugueses. Desde finais de jogos de futebol que são prémios aos profissionais de saúde, a insultos que rapidamente viram apreço, vale tudo.