O país rendeu-se definitivamente ao piloto português da prova rainha de motociclos, o MotoGP. E se alguns fieis seguidores já acompanhavam as incidências desta competição há largos anos em boa verdade a grande maioria são fãs que Miguel Oliveira conquistou agora com o seu sorriso simpático e a sua feroz competitividade. Portugal sempre se mostrou mais atento às provas de automóveis como a Formula 1 ou até aos ralis relegando os motociclos para segundo plano, embora exista por cá uma comunidade de motards muito interessante e ativa, que neste momento estará com toda a certeza em êxtase com o aparecimento da nossa nova estrela.
É sobretudo desses que eu falo e nos quais não me incluo. Embora tenha tido uma mota CRM-50 quando era mais novo, da qual guardo muitas e boas recordações, assumo que nunca fui um aficionado, talvez por achar que o perigo que representam não compensa a liberdade que sentimos em cima delas. Ainda assim sei reconhecer o prazer de guiar uma, a sensação única de aventura e emoção. E sei também reconhecer que à exceção de uns quantos energúmenos temos vários clubes e associações motards que exemplificam todo o espírito de camaradagem, respeito e valores que a sociedade devia ter por adquirida.
Para estes a mota é muito mais que um motociclo, é um culto, uma tribo feita de sentimentos e causas onde o respeito, a irmandade, a solidariedade e a igualdade assumem importância central. São muitas vezes mal vistos pelas más praticas de alguns motoqueiros mas regra geral são pessoas animadas que estimulam a proteção e a segurança e que invariavelmente demonstram um amor e uma cumplicidade pela sua de uma forma única. É por isso que acho ser este um prémio justo e merecido para quem há tantos anos defende este desporto de duas rodas, o estima e o promove. O Miguel é por isso o justo reconhecimento para os verdadeiros motards portugueses e um embaixador singular que representará um crescimento brutal dos que seguem este desporto com paixão e emoção. Quantos de nós é que não vibraram com aquela ultrapassagem histórica de olhos embaciados e pele de galinha?
Mas o Miguel Oliveira representa muito mais do que isso. Representa a dignidade e a humildade na vitória, o respeito pelos outros e a inteligência que marca a diferença entre o “quase” e a verdadeira conquista. Isso é um duplo prazer. Ouvir o hino português cantado no mais reconhecido certame deste desporto e assistir à coroação no mais alto lugar do pódio de uma pessoa de caráter, com quem nós nos revemos e que tão bem exemplifica a nossa raça. A raça de um falcão que ataca no momento certo. Como dizia o meu professor Joaquim Bento “somos só dez milhões. A maioria não acredita nas suas potencialidades. Mas há sempre quem da lei da morte se liberta”. É por isso um justo prémio para uma sociedade em sofrimento neste tempo tão sombrio e em especial uma satisfação merecida para os motards portugueses que são dignos desse nome.
“”Ele é fixe, polido, inteligente e bem educado. Há pessoas que pensam que um corredor de topo deve ser duro, nem sempre polido e não muito bem educado; por isso, olhavam para o Miguel e pensavam, “ok, ele nunca será um vencedor”, disse Hervé Poncharal, patrão da equipa Tech3 KTM.