A cidade custou a adormecer graças às buzinadelas estridentes dos imigrantes italianos que festejaram até às tantas a vitória da Itália sobre a Holanda. Portugueses, tímidos, associavam-se à festa com bandeiras verdes e vermelhas, como se lhes fosse vedado terem festas suas e alegrias deste tamanho. A gente falava uns com uns e com outros e eles não esqueciam a desilusão daquele fim de tarde em Bruxelas. Foi, se calhar, numa tarde assim que vencemos os franceses em Torres e no Buçaco. E houve, muito provavelmente, em todos nós a sensação de uma promessa feita que mais uma vez não nos deixaram cumprir. Por maior que fosse a nossa vontade. Manda a razão dizer que talvez tenha havido penálti, que talvez uma mão desviasse a bola no momento exato em que ela se dirigia, segura e redonda, para uma baliza sem ninguém. Mas, por cima da razão, manda também a emoção dizer que uma equipa como aquela equipa de Portugal não podia nem devia perder assim. E manda a verdade dizer que os heróis não se vencem nas cenas em que mandam os atores secundários e que os sonhos não se matam a golpes de bandeirinha.
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