Espanyol. As catacumbas da descida engoliram a Maravillosa Minoría

Espanyol. As catacumbas da descida engoliram a Maravillosa Minoría


Desde 1993-94 que o Espanhol de Barcelona estava na I Divisão. Este ano desceu e escreveu uma das páginas tristes da grande história do clube.


De todos os apodos que o Reial Club Deportiu Espanyol de Barcelona (em catalão) foi ganhando ao longo da sua existência, o que mais me encanta é o de Maravillosa Minoría. Afinal, não é fácil viver lado a lado com um gigante como oBarcelona – assim mesmo, só Barcelona. A poucos meses de cumprir 120 anos de existência (foi fundado em 19 de outubro de 1900 como Sociedad Española de Foot-ball), o clube vive um momento triste da sua grande história, a descida à iiDivisão, lugar que não ocupava desde a época de 1993-94.
Pois foi precisamente no início de 1900 que se juntaram aqueles que ficaram conhecidos por Três Mosqueteiros: Octavio Aballí, Luis Roca, frequentadores da Societat Gimnástica Espanyola, e um catedrático da Universidade de Barcelona chamado Rafael Rodríguez Méndez, que dividia os seus interesses entre a medicina e a política. Mas, como sempre, os Três Mosqueteiros são quatro: Joaquín Carril fez de D’Artagnan e ganhou o direito de ser o primeiro capitão da equipa que viria ser fundada em outubro. O nome surgiu originalmente em castelhano e cabia-lhe ser o novo empecilho na vida dos já existentes Foot-ball Club Barcelona, Catalá Foot-ball Club e Hispania Athletic Club. Ao contrário dos citados, o Español pretendia receber jogadores vindos de todo o país, já que os seus adversários catalães gostavam de resumir os seus plantéis a jogadores nascidos na Catalunha e a alguns ingleses dos que tinham imposto o vício do futebol em Espanha.
Claro que, no início, a maioria do team era composta por catalães, mas havia alguns bascos e um andaluz para dar a tal patina nacional pretendida pelos seus fundadores. O equipamento também ligava o Español às cores da bandeira do reino: camisola amarela e calções e meias negras. Havia uma recusa absoluta em deixar o clube reduzido às fronteiras da região. Queria ir muito para além delas.

Dérbi No dia 23 de dezembro, já depois de se ter estreado frente aoCatalá e ao Hispania, o Español viu-se, pela primeira vez, frente àquele que seria o seu grande rival daí para diante, o Barcelona. O jogo foi disputado no então campo dos blaugranas, o Campo de Casanovas, e terminou com um aborrecidíssimo zero a zero. 
No ano seguinte, a Sociedad Española de Foot-ball fundiu-se com outra entidade desportiva da cidade condal: o Español Foot-ball Club. Dessa fusão nasceu oClubEspañol de Foot-ball, já não vestido de amarelo, como nos primeiros tempos, mas de camisola branca e calções e meias azuis. Caminhava-se para um novo futuro. E a organização do Español, a meias com os resultados obtidos em confrontos com clubes de outras regiões de Espanha, deu-lhe prestígio suficiente para ser chamado a integrar a primeira grande competição nacional, a Copa delRey, prova essa que durante anos serviu para definir o campeão espanhol.
Mas, em 1906, o crescimento impressionante do Español foi subitamente interrompido. Sendo a equipa composta por muitos estudantes universitários, uma fuga de muitos deles para continuarem os seus cursos no estrangeiro, sobretudo emParis, enfraqueceu o conjunto significativamente. A decisão dos dirigentes foi drástica: sem condições, o Español não jogava. Os atletas que quisessem entrar em campo fá-lo-iam em nome deFoot-ball Club X, uma excrescência de um grupo de lutadores de jiu-jitsu que também gostavam de dar uns pontapés na bola, e não apenas nas cabeças uns dos outros.
Perante esta nova parceria, o Club Deportivo Español substituiu o seu antepassado em 1909 e as camisolas da equipa ganharam riscas azuis e brancas. Pelas suas proezas desportivas, o rei Afonso xiii concedeu-lhe o título de Real em 1912. Evelio Doncos e Genaro de La Riva, uns fulanos com muito dinheiro nos bolsos, trataram de alavancar as ambições do renovado clube e até o trouxeram a Portugal para jogar contra oBenfica na primeira digressão ao estrangeiro da sua história. Vinha aí o tempo de Zamora, o enorme guarda-redes que serviu para elevar de vez o nome doEspañol pelas bocas do mundo e transformá-lo na inequívoca segunda força desportiva da Catalunha. 
Convenhamos que, para uma região de resistentes e independentistas como tem sido a Catalunha, o Real e o Español não caíam bem no goto popular. Mas seria apenas em 1995 que se optou pela catalanização. Foi já como Reial Club Deportiu Espanyol que venceu a Taça de Espanha em 1999-00 e 2005-06, dois dos seus quatro títulos nacionais (venceu a mesma prova em 1928-29 e 1939-40). Agora tem pela frente a ingrata tarefa de repetir a época de 1993-94, quando se sagrou campeão da II Divisão…