Por um caixote de fruta vazio


O Bairro Alto tinha vida, estava cheio de vida, reverberava de vida pelas esquinas e travessas. 


Habituo-me a ver o Bairro Alto sem gente, mas custa-me. Mataram-no sem piedade. Como para todos os garotos de Lisboa do meu tempo, o Bairro era o centro da noite, ou melhor, o centro de várias noites. Quando abriu, na Rua do Norte, mesmo em frente à varanda do Calcutá onde me sento aos fins de tarde à espera que a madrugada deste verão me faça suar como os crepúsculos mágicos daquela minha aldeia da Índia instalada no topo da imaginação, o primeiro bar de música ao vivo, o Café Concerto, brasileira, pois claro, estávamos na pré-primária dos anos 80 e ainda havia putas nas esquinas, muitas delas com as pernas negrinhas de varizes que a idade não perdoava. Não tardariam a brotar os Pastorinhos, o Jukebox ou o Frágil, e depois o Café Suave, o Café Diário, o Páginas Tantas, e as conversas infinitas com o Zé Paulo, o Carlinhos e o Hernâni porque o Bairro Alto tinha vida, estava cheio de vida, reverberava de vida pelas esquinas e travessas. 

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