Andreia C. Faria vence Prémio Literário Inês de Castro

Andreia C. Faria vence Prémio Literário Inês de Castro


O livro que reúne a obra poética de Andreia C. Faria, “Alegria para o Fim do Mundo”, foi distinguido com o Prémio Literário Fundação Inês de Castro. O júri do prémio achou também necessário dar um Tributo de Consagração a Lídia Jorge, não vá o público esquecer-se dela.


Publicado pela Porto Editora, na colecção Elogio da Sombra, dirigida por Valter Hugo Mãe, no capítulo final desta recolha, em que a autora acrescenta a alguns dos livros publicados anteriormente, e agora revistos, um conjunto de poemas inéditos, coloca como epígrafe duas citações que ressoam espantosamente por estes dias. Vale a pena citá-las: “e, através da dor de descobrir o mundo em tão medonha desordem, teve a alegria de ver restabelecer-se a ordem no seu próprio coração” (Kleist, “Michael Kolhaas, O Rebelde”). E a segunda: “No fundo, o que nos parece terrível talvez seja indefeso, talvez espere a nossa ajuda” (Rilke, “Carta a Um Jovem Poeta”).

E agora, como se um prémio exigisse um balanço, senão um acto de contrição, leia-se o último desses inéditos: “Agora meço-me./ Comparo/ as ervas altas e os pulsos,/ os tumultos e os seios,/ a dentição e a caligrafia.// Guardo um registo/ ósseo e incisivo, comovente,/ de estar viva.// Peço ao amigo que me trace a solidão,/ me sublinhe/ obsessiva, insone, sob/ traves de sentido e tempo/ e mais acima, à mística distância, me descarte/ ainda viva/ em qualquer canto/ entre as costelas. Basta-me/ a polpa de uma ferida/ muito doce/ aberta/ na lembrança.”

Falta carácter aos prémios literários neste país. E se é sempre avisado desconfiar das suas boas intenções, para que a sua inabilidade hoje em construir uma proposta crítica do espaço literário seja mais completa, uma vez por outra conseguem ser justos, reconhecendo a tempo um valor inegável, mesmo antes de o silêncio à volta de um autor se tornar o maior dos gritos.

No caso deste prémio, não se fala num valor monetário, presumindo-se, assim, que não haja nada a receber. O que nos diz que a Fundação Inês de Castro, e o júri por esta constituído – José Carlos Seabra Pereira (essa omnipresente eminência que tem um lugar à cabeceira de tudo o que é prémios literários), Mário Cláudio (que no mesmo dia do anúncio deste prémio foi agraciado pelo Grande Prémio de Novela e Romance da APE, e pela terceira vez), Isabel Pires de Lima (ex-ministra), e ainda a dupla Bouvard e Pécuchet da nossa cena literária, Pedro Mexia e António Carlos Cortez – parece convencido de que a visibilidade é prémio bastante, o que não deixa de ter a sua graça num tempo que, culturalmente, não passa de um afogamento nas margens ruidosas que comprimem um rio terrivelmente silencioso.