Se RonaldBiggs ficou famoso pelo célebre assalto ao comboio-correio entre Glasgow e Londres, em 1963, no qual, com os seus capangas, roubou 120 sacos de dinheiro no total de 147 mil libras, tornou-se ainda mais famoso por, depois disso, se ter tornado o maior apepinador da Scotland Yard, que esculhambava sempre que podia.
Encerrado na prisão de Wandsworth, em Londres, logo a seguir ao assalto, quando o grupo foi apanhado, cumpria uma pena de 30 anos. Ainda assim, escreveu uma carta para o diretor da Scotland Yard avisando: “A minha paciência esgota-se facilmente e torna-se-me muito difícil não fugir”. A carta seguiu também para o deputado trabalhista da sua circunscrição, Marcus Lipton, descrevendo as amarguras que estava a sofrer em cativeiro. Nela queixava-se: “Sou forçado a um trabalho repugnante. Coser sacos postais durante horas e horas a fio é algo que me destrói a alma. Sem exercício físico, já engordei 18 quilos. E ainda por cima privam-me de todas as visitas, pelo que não consigo conversar com ninguém do mesmo nível intelectual que eu há muito tempo”.
Biggs era um tipo convencido. O diretor da Scotland Yard e o deputado eram duas figuras ingénuas o suficiente para esquecerem de imediato a carta e atirarem-na para o arquivo do olvido.
Dez dias depois, Ronald Biggs punha-se ao fresco. Ou melhor, ao quente, neste caso, já que se escapuliu da prisão direto para a Austrália. Regressou à Europa para uma cirurgia plástica, em Paris, e manteve-se com a família, que se lhe juntara entretanto, em Sidney e, depois, Melbourne. Ia vivendo à conta da parte que lhe coubera no assalto, mas sentiu as malhas da justiça a apertarem-se em seu redor. Conhecendo a lei brasileira que impede a extradição de qualquer condenado que tenha filhos de cidadania local, Biggs tratou de seguir para o Brasil em 1970, onde fez uma criança a Raimunda de Castro, bailarina de nightclub.
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