A bipolaridade do funcionamento do nosso país


Não se compreende que haja atividades que continuem suspensas, argumentando que fomentam a concentração de indivíduos, quando se discute outras semelhantes sem pudor.


Dizem-nos que a segunda vaga do Covid-19 é inevitável; que devemos continuar em alerta e tomar as precauções indispensáveis para não contrairmos o vírus; que o uso de máscara é obrigatório e que é imprescindível higienizar as mãos frequentemente. 

Mas também nos incentivam a voltar às nossas rotinas, a não abandonarmos a ideia de fazer refeições fora de casa, a irmos assistir a um espetáculo do Bruno Nogueira na Praça de Touros do Campo Pequeno, a fazer férias cá dentro, a levar os filhos mais pequenos para os infantários, a manifestarmo-nos pelos outros e por nós próprios e até já permitem a celebração de cerimónias fúnebres sem limitação de presenças.

No meio de tudo isto, os espetáculos foram cancelados sine die, os alunos do ensino básico continuaram em casa até ao final das aulas, as missas demoraram algum tempo a obter permissão para se celebrarem novamente, os casamentos têm sido adiados, há praias cheias como nunca – a Comporta é um exemplo -, há comércio que só admite a entrada de uma ou de duas pessoas, enquanto que noutras lojas não se percebe se há limitação de entradas. As discotecas e bares continuam encerrados mas os jovens agrupam-se aos molhos nos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas em espaços ínfimos, levando os consumidores a concentrarem-se à entrada e ali permanecerem entre uma cerveja e outra…

Sem dúvida que o País mudou nas suas regras e que novos hábitos foram sendo introduzidos perante uma ameaça que se impôs, por tempo indeterminado, e sobre a qual ainda pouco conhecemos. 

Se, por um lado, há quem já manifeste algum cansaço e desconfiança dos efeitos devastadores deste vírus, e, por estas razões, tenha começado a regressar às rotinas que tinha antes do Covid-19, por outro, há os que são temerosos quanto às consequências desta doença e não querem correr riscos ou colocar as suas famílias em perigo.
Esta bipolaridade revela-se todos os dias nas regulamentações que o Governo decreta e nos comportamentos evidentes e antagónicos dos portugueses perante uma mesma situação.

A complexidade desta realidade sem precedentes justifica este comportamento errático e desigual, se bem que o desejável seria a uniformização de uma conduta transversal a todos nós.

É obvio que não há fórmulas para prever o futuro, ainda que o ser humano esteja permanentemente a encontrar estratégias para controlar o dia seguinte, assumindo uma previsibilidade que regra geral, se confirma. Esta futurologia concede-nos um sentimento de segurança e de controlo sobre o desconhecido e permite-nos munir de ferramentas e condutas para encarar o que há-de vir.

Os dados estão lançados. Partimos do princípio que haverá uma segunda e até uma terceira vaga algures no tempo, contudo já não seremos apanhados desprevenidos como fomos agora. E ainda beneficiamos do conhecimento dos comportamentos que devemos adotar de imediato, se for esse o caso.
Assim como foram definidos os calendários escolares, assegurando que os alunos regressarão aos estabelecimentos de ensino em setembro, respeitando e cumprindo os novos procedimentos adaptados a cada estrutura/equipamento, tudo o resto deveria ser analisado de acordo com as suas especificidades e regressar ao normal funcionamento dentro deste quadro em particular.

Não se compreende que haja atividades que continuem suspensas, argumentando que fomentam a concentração indesejada de indivíduos, quando se discute a realização de outras semelhantes sem pudor. Criem-se as condições, através de regulamentação, analisando caso a caso, da abertura e funcionamento de espaços, de forma justa e responsável. Porque razão posso ir a um espetáculo no Campo Pequeno, mas não posso ir assistir aos jogos de futebol, com o intervalo devido entre adeptos e corredores de acesso delimitados para entradas e saídas? E quem fala de futebol pode também referir-se a concertos com lugares marcados, teatros, feiras etc…
Todos os dias se ouve que o País tem que andar para a frente. Mas só pode continuar o seu caminho se forem criadas as condições para que tal aconteça e dentro dos limites que são imperativos no combate ao vírus do séc. XXI.

 

Escreve quinzenalmente 

A bipolaridade do funcionamento do nosso país


Não se compreende que haja atividades que continuem suspensas, argumentando que fomentam a concentração de indivíduos, quando se discute outras semelhantes sem pudor.


Dizem-nos que a segunda vaga do Covid-19 é inevitável; que devemos continuar em alerta e tomar as precauções indispensáveis para não contrairmos o vírus; que o uso de máscara é obrigatório e que é imprescindível higienizar as mãos frequentemente. 

Mas também nos incentivam a voltar às nossas rotinas, a não abandonarmos a ideia de fazer refeições fora de casa, a irmos assistir a um espetáculo do Bruno Nogueira na Praça de Touros do Campo Pequeno, a fazer férias cá dentro, a levar os filhos mais pequenos para os infantários, a manifestarmo-nos pelos outros e por nós próprios e até já permitem a celebração de cerimónias fúnebres sem limitação de presenças.

No meio de tudo isto, os espetáculos foram cancelados sine die, os alunos do ensino básico continuaram em casa até ao final das aulas, as missas demoraram algum tempo a obter permissão para se celebrarem novamente, os casamentos têm sido adiados, há praias cheias como nunca – a Comporta é um exemplo -, há comércio que só admite a entrada de uma ou de duas pessoas, enquanto que noutras lojas não se percebe se há limitação de entradas. As discotecas e bares continuam encerrados mas os jovens agrupam-se aos molhos nos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas em espaços ínfimos, levando os consumidores a concentrarem-se à entrada e ali permanecerem entre uma cerveja e outra…

Sem dúvida que o País mudou nas suas regras e que novos hábitos foram sendo introduzidos perante uma ameaça que se impôs, por tempo indeterminado, e sobre a qual ainda pouco conhecemos. 

Se, por um lado, há quem já manifeste algum cansaço e desconfiança dos efeitos devastadores deste vírus, e, por estas razões, tenha começado a regressar às rotinas que tinha antes do Covid-19, por outro, há os que são temerosos quanto às consequências desta doença e não querem correr riscos ou colocar as suas famílias em perigo.
Esta bipolaridade revela-se todos os dias nas regulamentações que o Governo decreta e nos comportamentos evidentes e antagónicos dos portugueses perante uma mesma situação.

A complexidade desta realidade sem precedentes justifica este comportamento errático e desigual, se bem que o desejável seria a uniformização de uma conduta transversal a todos nós.

É obvio que não há fórmulas para prever o futuro, ainda que o ser humano esteja permanentemente a encontrar estratégias para controlar o dia seguinte, assumindo uma previsibilidade que regra geral, se confirma. Esta futurologia concede-nos um sentimento de segurança e de controlo sobre o desconhecido e permite-nos munir de ferramentas e condutas para encarar o que há-de vir.

Os dados estão lançados. Partimos do princípio que haverá uma segunda e até uma terceira vaga algures no tempo, contudo já não seremos apanhados desprevenidos como fomos agora. E ainda beneficiamos do conhecimento dos comportamentos que devemos adotar de imediato, se for esse o caso.
Assim como foram definidos os calendários escolares, assegurando que os alunos regressarão aos estabelecimentos de ensino em setembro, respeitando e cumprindo os novos procedimentos adaptados a cada estrutura/equipamento, tudo o resto deveria ser analisado de acordo com as suas especificidades e regressar ao normal funcionamento dentro deste quadro em particular.

Não se compreende que haja atividades que continuem suspensas, argumentando que fomentam a concentração indesejada de indivíduos, quando se discute a realização de outras semelhantes sem pudor. Criem-se as condições, através de regulamentação, analisando caso a caso, da abertura e funcionamento de espaços, de forma justa e responsável. Porque razão posso ir a um espetáculo no Campo Pequeno, mas não posso ir assistir aos jogos de futebol, com o intervalo devido entre adeptos e corredores de acesso delimitados para entradas e saídas? E quem fala de futebol pode também referir-se a concertos com lugares marcados, teatros, feiras etc…
Todos os dias se ouve que o País tem que andar para a frente. Mas só pode continuar o seu caminho se forem criadas as condições para que tal aconteça e dentro dos limites que são imperativos no combate ao vírus do séc. XXI.

 

Escreve quinzenalmente