O mar, na comporta, estava claro, transparente e límpido como os olhos da Michelle Pfeiffer. Não sei se a transparência do mar é alguma verdade escondida, mas fico olhando a água de vidro e os fios de espuma que se prolongam pelo areal e há neles algo de reconfortante. O meu avô Acácio de Paiva levou, certo dia, um dos caseiros, o Manel Chouriça, a Vieira de Leiria. O mamífero nunca tinha visto o mar. Ficou embasbacado. O meu avô, por pilhéria, perguntou-lhe: “Ò Manel, se isto fosse vinho, bebias tudo?” E ele, penoso, fascinado e sedento: “Ò doutor – nem metade!”
A metade do mar da Comporta tem espuma de cerveja. Talvez mergulhe, daqui a pouco, mas beber, nem metade. Ou talvez seja espuma mais fina, de champanhe. O meu irmão Francisco António Febrero, por extenso Xitó, resolveu, há décadas, numa tarde qualquer escaldante de Junho, ter um momento de Grande Gatsby. Sentados na areia, à sombra de um guarda-sol sem arabescos, bebíamos champanhe em copos à medida. Éramos personagens de Scott Fitzgerald sem precisar de autor que nos descrevesse. As rolhas estalavam ao saltar dos gargalos, aqueles que nos ficavam mais próximos também. O barulho de uma rolha a sair da garrafa é algo de muito especial. Não tanto como ver o mar pela primeira vez, está claro, mas anda por lá perto.
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