A Índia vai estender a quarentena em todo o país até dia 3 de maio, num esforço hercúleo – na maior quarentena do mundo, num país com uma população de 1,3 mil milhões – com o intuito de aplanar a curva de infeções do coronavírus no país, declarou o primeiro-ministro, Narendra Modi, esta terça-feira, num discurso televisionado. Ao mesmo tempo, o homem-forte da Índia disse que as áreas que têm escapado aos surtos do coronavírus poderão ter autorização para reabrir parte dos setores não essenciais da economia a partir de dia 20.
“O meu pedido a todos os homens deste país é que não seja permitido que o coronavírus se propague a novas áreas e a qualquer custo”, disse Modi, que usava um lenço a cobrir o nariz e boca, retirando-o na altura em que começou a falar.
Com uma das cidades mais populosas do planeta situadas no subcontinente indiano, teme-se que os números de casos e mortes por covid-19 possam disparar repentinamente, trazendo efeitos catastróficos e sobrecarregando o ténue sistema de saúde indiano. “Temos de ter muito cuidado com os centros do surto. Temos de manter uma monitorização de perto desses lugares que poderão tornar-se focos”, alertou, referindo-se às áreas onde ainda não ocorreram casos positivos.
Nestas áreas e nas que estão longe dos surtos no país, Modi disse que, até dia 20, “cada esquadra, cada distrito, cada estado irá ser monitorizado de perto para se perceber se o isolamento está a ser cumprido e se essa área se salvou do vírus”. E a reabertura será autorizada nestas áreas para ajudar as pessoas pobres, dependentes de rendimentos diários, explicou o primeiro-ministro indiano.
Com vários países do sul da Ásia a escaparem aos surtos de vertente maior, e a Índia com mais de 10 500 infeções confirmadas e 358 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins, muitos especialistas têm apontado críticas ao país: o número de testes tem sido muito baixo, esperando-se que o número real de pessoas contagiadas seja muito maior.
Dentro da maior zona de quarentena do mundo não há voos, não há comboios para passageiros nem táxis a circular nas ruas – apenas algumas indústrias se encontram em atividade. Mas no meio deste pânico há uma boa notícia: os níveis de poluição diminuíram drasticamente e o ar está mais limpo, naquele que é um dos países com maiores índices de poluição.
Esta repentina mudança surpreendeu até os especialistas, segundo o Washington Post, que argumentam ser isso uma prova de que é possível melhorar a qualidade do ar. Mas, neste caso e nestas circunstâncias, com um tremendo custo humano. Poucos dias depois de a quarentena ter entrado em vigor, a 25 de março, as partículas poluidoras que mais prejudicam a saúde humana desceram quase 60% em Nova Deli, capital da Índia, de acordo com uma análise dos especialistas do Centro para a Ciência e Ambiente – estas descidas têm sido semelhante noutras grande cidades indianas.
Com as rígidas instruções de confinamento total do país, quem mais sofre são os trabalhadores mais pobres e precários, aqueles que dependem do seu rendimento diário. E os efeitos estão a ser devastadores. Milhões de assalariados diários perderam os seus empregos de um dia para o outro, o que forçou centenas de milhares a voltarem para as suas aldeias natais, a centenas de quilómetros, sendo muitos obrigados a fazer esses trajetos a pé.