Mais ventiladores do que médicos

Mais ventiladores do que médicos


A chegada de ventiladores a Portugal trouxe outra questão: há mais material para tratar os doentes, mas há também mais ventiladores do que médicos intensivistas. No entanto, João Gouveia admite que existe capacidade para formar mais profissionais. 


Antes existia o problema da falta de ventiladores, mas este material de apoio tem chegado todas as semanas e sido distribuído pelas várias unidades de saúde do país. No futuro, haverá mais ventiladores do que médicos nos serviços de cuidados intensivos. O alerta foi dado esta quarta-feira por João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19, durante a conferência diária da Direção-Geral da Saúde. «É verdade que o número de especialistas em cuidados intensivos pode não ser suficiente para a quantidade de ventiladores que estão a chegar», disse João Gouveia, acrescentando que Portugal pode «não ter, em número individual, médicos suficientes para poder tratar todos os doentes, mas está a ser pensada toda uma estrutura que permite o tratamento adequado desses doentes através do trabalho de outros profissionais, sob responsabilidade dos intensivistas». 

Com a aquisição de ventiladores, no futuro, o país pode ter mais de dois mil ventiladores – pelo menos é essa a intenção do Governo, uma vez que o objetivo é duplicar o número atual, que se fixa agora em mais de mil. 

A carência de médicos nos cuidados intensivos não é uma realidade nova, mas pode vir a acentuar-se. «Podemos chegar a um ponto em que não temos recursos humanos suficientes para os recursos materiais que estamos neste momento a instalar», disse o presidente da comissão de acompanhamento, adiantando, no entanto, que existe capacidade para formar mais profissionais, se for necessário, e que «a resposta da medicina intensiva tem sido excelente».

De acordo com os números avançados por João Gouveia, existem em Portugal mais de 260 médicos especialistas em medicina intensiva. «Segundo números de 2016/17, nós tínhamos 6,4 camas por 100 mil habitantes, menos de metade do que tinha a Itália. Hoje em dia, a situação é melhor».

Nos últimos dias foram recebidos pelos hospitais 144 ventiladores. Mas a sua distribuição pelas unidades hospitalares trouxe algumas dúvidas, uma vez que nem todos os hospitais recebem a mesma quantidade. Sobre esta questão, João Gouveia esclareceu que os ventiladores são distribuídos «de acordo com os critérios», à exceção daqueles cujos dadores querem que sejam entregues numa unidade específica. Exemplo disso foi o caso da Área Metropolitana de Lisboa, que recebeu esta semana uma doação de 78 ventiladores. 

Também no início da semana, António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, apontou para a chegada de mais 500 ventiladores esta semana e outros 500 na próxima, depois da Páscoa.