Ventura. O candidato antissistema que quer uma “Quarta República”

Ventura. O candidato antissistema que quer uma “Quarta República”


Líder do Chega apresentou a candidatura à Presidência em Portalegre, onde também deixou críticas e desafios.


No palco onde o som de uma guitarra se cruzou com o som de um saxofone desde o início do jantar, o líder do Chega, André Ventura, começou por anunciar “aquilo que devia dizer no fim”. “Sou candidato a Presidente da República portuguesa”, afirmou, no sábado, em Portalegre, num jantar com 500 pessoas, segundo dados da organização.

O líder do Chega confessou que não era capaz de fazer um discurso totalmente presidencial. “Queremos outro regime para Portugal porque esta República já não serve. Queremos passar para a quarta república portuguesa. Este devia ser por isso um discurso totalmente presidencial. Confesso que não sou capaz de não falar do Parlamento português”, acrescentou Ventura, que horas antes fora recebido com confetes na Praça da República de Portalegre.

O ponto prévio ao jantar permitiu que cerca de 100 pessoas o recebessem naquela praça para o apoiar, apesar de também haver alguns curiosos, que ficaram surpreendidos pelo evento. Mais tarde, numa sala com teto decorado a faixas pretas, amarelas e vermelhas, Ventura sentou-se na mesa principal da cerimónia (sim, porque havia um dresscode para usar roupa formal), ao lado da mulher.

No discurso, que começou pouco depois das 22h, André Ventura acusou o Parlamento de estar “reduzido a uma espécie de esquizofrenia”. Mas o líder do Chega não se ficou pelos diagnósticos em geral e partiu para as acusações em particular. Garantido que a bancada do PS “levanta-se e senta-se” de acordo com “o que o Governo quer”, acusou o PSD de não saber “muito bem o que é que anda a fazer ainda”, a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira de só falar de amor e o PAN de se preocupar com “votos das ovelhas” e “elefantes do Camboja”.

As críticas do (ainda) único candidato à Presidência da República não foram apenas destinadas a partidos ou a alguns deputados. Houve tempo (e espaço) para atacar Eduardo Ferro Rodrigues, que foi vaiado, Marcelo Rebelo de Sousa contestado e Ana Gomes. “Como estão a ver as sondagens a subir, agora inventaram a Dra. Ana Gomes e dizem: ‘É importante que ela entre. Vai conter o André Ventura e retirar-lhe votos’”. Entre risos que encheram o núcleo empresarial da Região de Portalegre, o tom desafiante subiu de tom: “Ana Gomes, avança, avança. Vais ser tão dizimada”, atirou Ventura, visivelmente confiante perante os seus apoiantes.

A lista de personalidades que apoiam uma possível candidatura da ex-deputada socialista à Presidência tem aumentado, mas Ana Gomes resiste à pressão. O ex-deputado Paulo Trigo Pereira é o mais recente apoiante da ex-eurodeputada ( avançou o Público), mas há mais: Francisco Assis, Henrique Neto, mas também figuras ligadas ao Livre como Ricardo Sá Fernandes e Rui Tavares.

Críticas a Marcelo O jantar ia meio e, antes que chegasse a sobremesa, Ventura previu que, nas Presidenciais de 2021, só estarão dois nomes no boletim de voto: o seu e o de Marcelo. “De um lado, Marcelo Rebelo de Sousa, a face deste sistema (…). Do outro lado, aqueles que nunca hesitarão em colocar-se do lado certo da História. Mesmo que isso seja menos popular, mesmo que isso na altura pareça mal”, garantiu Ventura a justificar o seu prognóstico.

Para o líder do Chega, “não serve”o atual Parlamento nem a Constituição, que já não é “para os nossos dias”. E, na opinião do único candidato à Presidência, o atual chefe de Estado “apenas serve para tirar fotos” e “chamar youtubers ao palácio de Belém”. Garantido que, por culpa de sucessivos Presidentes, o lugar de Marcelo podia ser ocupado por qualquer um, André Ventura acusou o chefe de Estado de não chamar a atenção ao Governo. “Ele precisa do apoio do Governo. E não está preocupado em defender os portugueses. Está preocupado em defender o seu apoio do PS”, afirmou.

André Ventura não se conteve nas críticas a Marcelo e disse estar na hora de haver “um Presidente a sério”. Sublinhando que Marcelo estava “sempre em observação” e “em análise”, Ventura garantiu não ter ouvido “um problema que tenha sido resolvido por Marcelo Rebelo de Sousa”. “’Só falo no fim’. No fim de quê, homem? É hora de falar!”, gritou.

Fazendo referência ao caso do BES e ao aeroporto do Montijo, Ventura explicou qual “a diferença” entre si e o atual Presidente. “Eu quero ganhar com o voto daqueles que verdadeiramente acreditam nisto e não me meto de joelhos ao Governo para ter o apoio do PS”, esclareceu.

Novo diploma A noite ficou marcada também pelo anúncio de que o Chega vai entregar um Projeto de Lei onde se prevê a prisão perpétua para homicidas e pedófilos. “Agora façam como quiserem. Chumbem, não deixem ir à discussão, digam que tem erros, digam que não querem, mas vão ter que decidir”, gritou. Ventura aludia ao facto de o seu projeto sobre a castração química de pedófilos ter sido retirado do agendamento parlamentar. E usou este caso para o discurso que será, aparentemente, o seu mantra: “Serei a voz de um povo inteiro que está farto de injustiça e farto deste sistema”, prometeu.