Taça da Liga e campeonato. FC Porto em queda e Benfica em alta

Taça da Liga e campeonato. FC Porto em queda e Benfica em alta


O Braga bateu o FC Porto na final da Taça da Liga (1-0); o Benfica foi vencer a Paços de Ferreira (2-0).


Anos e anos a votar ao desprezo a Taça da Liga e, de repente, eis que ela rebenta como uma carga de trinitrotolueno nas mãos dos responsáveis do FC Porto. A derrota com o Braga na final da Pedreira (0-1, com um golo de Ricardo Horta no último lance dos descontos) pôs a nu os incómodos que há muito se vislumbravam e o treinador, Sérgio Conceição, enfiou o dedo na ferida de forma dolorosa: “Nós temos de olhar para dentro. Estou a dizer que é preciso forte responsabilidade coletiva, a começar por mim. Não estou a falar só do grupo de trabalho, estou a falar de toda a gente, porque é difícil trabalhar em determinadas condições. O meu primeiro ano foi muito difícil, sem reforços e sem dinheiro. No segundo houve falta de verdade desportiva. E este ano não há união dentro do clube. Por isso, neste momento, o meu lugar está à disposição do presidente”. Ficou-se por aqui e não é de esperar que venha agora apontar um a um os responsáveis pelas divisões que o impedem de trabalhar como pretende.

Os próprios adeptos deram por si a querer ganhar um troféu que sempre consideraram menor e desinteressante. E, pela madrugada, esperaram o regresso do autocarro que transportava os jogadores para gritarem de viva voz o seu desapontamento – algo que não espanta se nos recordarmos da forma brusca como um dos comandantes da turbamulta com espaço reservado na comunicação social (sem que haja uma explicação cabal para o branqueamento dos seus tristes comportamentos!) veio recentemente diminuir a figura do treinador.

Eis, portanto, como a Taça da Liga, ou a falta dela no museu das Antas, passou de assunto de lana-caprina a matéria suficientemente importante para que Sérgio Conceição ponha a hipótese de sair do FC Porto. Dirão os leitores mais atentos que, se quisesse mesmo sair, poderia ter-se demitido. Têm absoluta razão. Fica-se com a ideia de que pretende que a direção (neste caso, resumida à figura presidencial) lhe reforce o poder, declarando publicamente a confiança no técnico. E assim será, provavelmente. A 15 dias de receber o Benfica naquela que será a oportunidade de relançar a luta pelo título, não se prevê que a saída de Sérgio Conceição venha trazer benefícios por aí além. Mas estas duas derrotas sucessivas face ao Braga – ainda por cima, com a de sábado perfeitamente justificada pela maior ambição dos minhotos – estão a provocar borborigmos nos estômagos portistas. É todo um edifício de poder, erguido ao longo de 30 anos, que dá a sensação de estremecer pelos alicerces. E, como sempre acontece, as feridas dos maus resultados só se lambem à custa de triunfos. Dizia o grande Mário Filho, jornalista que deu o nome ao Maracanã, que a vitória é uma doença que só a derrota cura. Mas a inversa também é verdadeira.

 

Campeonato

Jornada aos bocados, a continuar hoje com o Vitória de Guimarães-Rio Ave (18h45) e com o Sporting-Marítimo (21h00), deixando o FC Porto-Gil Vicente para terça-feira (20h15) e o Moreirense-Braga para quarta (20h15), que teve ontem a ida do Benfica a Paços de Ferreira, onde dominou os acontecimentos por completo, mas voltou a pecar na escassez de lances de finalização que deixam as águias demasiado dependentes da fiabilidade da sua defesa.

Bruno Lage acabou por decidir pelo óbvio: deu a titularidade a Rafa, o herói de Alvalade, em detrimento de Chiquinho, e foi recompensado com o lance magnífico do golo inaugural (39 m). O mesmo Rafa, no início do segundo tempo (47 m), fugiu pela direita e ofereceu o 2-0 a Vinícius. Pode, finalmente, descansar o Benfica, enquanto o pobre Rafa foi perseguido pelos adversários a patadas que lhe devem ter valido um ror de nódoas negras.

Atingindo a 17.a vitória ao fim de 18 jornadas, o ritmo imposto pelas águias é deveras impressionante. A cada fim de semana se levanta a questão: quem será capaz de travar a caminhada do campeão nacional? Uma esperança azul deve tremeluzir no fundo do túnel de dias bastante negros.

Não restam grandes dúvidas de que o maior ou menor interesse da fase final da prova vai depender do jogo das Antas, quando o FC Porto receber o líder, no dia 8 de fevereiro. Se conseguir baixar a fasquia para os quatro pontos a ultrapassar, as coisas ganharão outra dinâmica, indiscutivelmente – sinal de que, até lá, uns e outros estão proibidos de escorregar. Matéria na qual, convenhamos, o dragão parece estar com problemas no sistema de travagem dos patins.