Escrevi o ano passado por esta altura que 2019 podia ser um ano de viragem, tendo alvitrado então que politicamente muito do que até aí era considerado estanque, podia a passos largos deixar de o ser. O tempo deu-me razão, sendo disso corolário externo a confirmação do Brexit e, internamente, a chegada de três novos partidos à Assembleia da República. Pese embora não sejam fenómenos únicos, creio que serão nas duas dinâmicas, os maiores focos de atenção em 2020, ano que de facto poderá ficar marcado pela alteração do paradigma sensaborão com que se vinham mantendo os panoramas nacional e internacional. Na primeira dinâmica é evidente que a saída do Reino Unido (enquanto o mesmo assim de possa denominar) da União Europeia, é ilustrativo de que vários países começam a ficar enfadados com a tecnocracia de Bruxelas que continuando sem conseguir resolver os mais prementes desafios desta geração, alimenta o seu desmembramento, pelo menos nos moldes de existência com que hoje a conhecemos. A nível comunitário, a grande contenda será descobrir um caminho viável para uma União Europeia que não deixando de existir porque tal não seria benéfico para ninguém, encontre no entanto forma de saber conviver e aceitar as exigências que os Estados dela integrantes reivindicam, em várias matérias que procuram acautelar a sua esfera de soberania. É hoje grande a confusão na geostratégia mundial, não conseguindo os povos perceber quem manda, se ainda há quem mande alguma coisa ou já ninguém manda em coisa nenhuma, e sobretudo se a haver quem mande, o que se manda faz algum sentido no juízo de esforço/benefício com que os povos hoje convivem. Só há uma saída para a Europa se reerguer: voltar a ganhar a grandeza que perdeu nos últimos vinte anos, sendo que isso só é possível se os países dela integrantes, cada um na sua dimensão, voltarem a ser igualmente grandes e influentes. Esta chachada tal como está, não tem futuro. O mesmo por cá acontece. Portugal está um país amorfo, vivendo num regime que manifestamente já a muito poucos serve. É historicamente comprovável que a cada 45/50 anos os regimes se esgotam. O nosso transmite já esse mesmo esgotamento. O português sente hoje que só existe para pagar impostos. Pagar, pagar, voltar a pagar, e depois ainda ter de pagar novamente porque o Estado não retribui com as contrapartidas previstas. Tenho 30 anos. Ninguém da minha geração está disponível para contribuir para um país assim. Hoje, estão em S. Bento três novos partidos que podem ter contra isto uma palavra a dizer. Ou pelo menos teriam. Digo-o porque o Livre perdeu-se. Um partido impreparado, sem fundo, sem norte, por motivos óbvios com dificuldades em sequer fazer-se ouvir, mas sobretudo oco de qualquer rumo político. Será um epifenómeno. A Iniciativa Liberal parece ainda não ter encontrado o seu espaço, não se percebendo muitas vezes sequer a quem se dirige ou o que quer. Dos três, é o CHEGA o único que hoje agiganta a política nacional. Basta sermos objectivos e imparciais, e verificaremos que se hoje se fala de política nas ruas, nos cafés, nos restaurantes, nas casas dos portugueses, em todo lado, e sobretudo por cidadãos de todas as idades, tal se deve única e exclusivamente ao CHEGA e a André Ventura. Mais uma vez socorro-me dos meus trinta anos de idade, e nunca como agora, vi o meu país tão interessado em política. Não tenho dúvidas: 2020 será o ano da mudança de paradigma, e nele, tem cada um de nós a obrigação de dar o seu melhor por um Portugal igualmente superior.
Escreve à sexta-feira