RTP. Conselho de Redação diz que afinal Maria Flor Pedroso esteve bem

RTP. Conselho de Redação diz que afinal Maria Flor Pedroso esteve bem


O CR da RTP fez um comunicado a desmentir outro que subscreveu, saído do plenário de jornalistas no dia em que Flor Pedroso apresentou a demissão.  


Os membros eleitos do Conselho de Redação (CR) da RTP deram esta segunda-feira uma verdadeira cambalhota sobre os últimos acontecimentos vividos na estação pública. No comunicado enviado esta segunda-feira à redação, o CR diz textualmente: “1. Não foi apurada nenhuma evidência sobre qualquer tipo de interferência política na decisão da Direção de Informação de não emissão do programa ‘Sexta às 9’ durante a última campanha eleitoral para as Eleições Legislativas (…) Não ficou demonstrada nenhuma intenção propositada por parte da Diretora de Informação no sentido de prejudicar a investigação jornalística levada a cabo pela equipa do programa ‘Sexta às 9’ acerca do ISCEM. No entanto, deveria ter existido maior bom senso por parte da Diretora de Informação quando questionou o ISCEM – através da ligação de docência que mantinha com a instituição – com recurso a informação privilegiada, referente a uma investigação jornalística em curso”.

Este comunicado é assinado pelos membros eleitos, Andreia Filipa Novo, Eduardo Pestana, Filipa Dias Mendes, Luís Lobo, Nuno Miguel Fernandes e Tiago Contreiras. Os mesmos que aceitaram enviar do seu email  o documento saído do plenário de jornalistas de dia 16 de dezembro e que dizia o seguinte: “Lamentar a violação dos deveres deontológicos dos jornalistas e de lealdade para com a Redação da RTP por parte da diretora de Informação demissionária, Maria Flor Pedroso, no decorrer da investigação do chamado “Caso ISCEM”; “Lamentar a falta de explicações por parte da Diretora Adjunta Cândida Pinto – ausente deste Plenário de Jornalistas  – a quem é imputada conivência com a Diretora de Informação no decorrer da investigação do chamado ‘Caso ISCEM’ – de acordo com a interpretação das Atas do Conselho de Redação”.

De notar que no plenário de Lisboa – as delegações do Porto e de Coimbra assistiram por skype – encabeçado pelo CR, onde apenas não votou Eduardo Pestana, ausente por férias, houve unanimidade na condenação ao comportamento da Direção de Maria Flor Pedroso e de Cândida Pinto. 

Mas a história é ainda mais rocambolesca, atendendo a que o CR enviou um comunicado a 17 de dezembro onde dizia que no referido plenário “estiveram presentes cerca de 120 jornalistas. O Comunicado do Plenário de Jornalistas foi aprovado com 82 votos a favor, 6 votos contra e 5 abstenções”. Se em Lisboa não houve votação secreta, percebe-se que perto de 30 jornalistas das duas outras delegações optaram por não votar – além dos seis votos contra e das cinco abstenções.

Mas vamos ao filme dos acontecimentos. Depois de saber da demissão de Maria Flor Pedroso, o CR ponderou adiar o plenário de jornalistas marcado para essa segunda-feira, dia 16 de dezembro, mas, ao que tudo indica, não foi possível. Isto porque quase seis dezenas de jornalistas da estação pública assinaram um abaixo assinado onde convocavam uma reunião de redação onde a ordem de trabalhos era resumida a dois pontos: exigia a avaliação da última reunião do CR “tendo em conta as conclusões e fugas de informação” e ainda a “discussão do caso Sexta às 9”. Nesse abaixo assinado, os jornalistas exigiam ainda a presença de todos os membros do CR, “incluindo a direção de informação, da diretora-adjunta Cândida Pinto e da jornalista Sandra Felgueiras”.
Os Membros Eleitos do Conselho de Redação esclarecem que todas as decisões tomadas na reunião são da responsabilidade do Plenário de Jornalistas.

 

Reunião com a ERC

Entretanto, o Conselho de Administração, liderado por Gonçalo Reis, esteve reunido na passada sexta-feira com a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), depois de o regulador ter chumbado a nomeação de José Fragoso – atual diretor de programas – para a direção de informação, acumulando os dois cargos. O i sabe que a conversa entre Gonçalo Reis e Sebastião Póvoas – que lidera a ERC – azedou. Isto porque Gonçalo Reis terá insistido na nomeação de Fragoso, lembrado os cargos acumulados por Emílio Rangel, mas a ERC relembrou que nessa altura – em 2001 – o regulador ainda não existia e que, entretanto, a lei da televisão e os contratos de concessão mudaram. O presidente do CA terá insistido na solução da direção indigitada, mas a ERC falou num lóbi do futebol e que não estaria de acordo. Sendo que ligado ao futebol está mais o diretor adjunto proposto por José Fragoso: Carlos Daniel.

 

Comissão da Carteira pediu justificações

Por outro lado, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ), enviou um email ao Conselho de Redação a pedir justificações sobre a “guerra” entre a direção demitida e os jornalistas. O email pedia que o CR se pronunciasse sobre se “Maria Flor Pedroso terá violado deveres deontológicos com a conivência de outros elementos da direção”. Nesse sentido, a CCPJ pedia ao CR que se pronunciasse sobre se se revia “nos deveres alegadamente violados”. Em resposta, o CR enviou para a CCPJ o comunicado do plenário de dia 16 deste mês e os resultados da votação.

Voltando ao comunicado do Conselho de Redação desta segunda-feira, diga-se que terminava também de uma forma ambígua: “Afigura-se igualmente aconselhável uma clarificação da linha hierárquica dos programas de jornalismo de investigação da RTP, por forma a preservar a autonomia jornalística das equipas de repórteres, bem como a legítima definição de linhas orientadoras por parte da Direção de Informação”. Certo é que o caldo está entornado na estação pública e não se avizinha uma solução para o conflito. ARTP está há duas semanas sem direção e a ERC não vai permitir a nomeação da direção avançada pelo Conselho de Administração.