Chicotadas na I Liga. Comboio já leva  9 passageiros: Sá Pinto com bilhete natalício

Chicotadas na I Liga. Comboio já leva 9 passageiros: Sá Pinto com bilhete natalício


Um dia depois de garantir a presença do Sp. Braga na final four da Taça da Liga, Ricardo Sá Pinto foi despedido do comando técnico do Sp. Braga. Rúben Amorim (até agora na equipa B dos minhotos) é o homem que se segue.


As mudanças técnicas na Liga portuguesa 2019/20 seguem a um ritmo impressionante: Ricardo Sá Pinto é o mais recente membro a garantir entrada neste comboio, que passa a ter a carruagem cada vez mais lotada, agora com já 9 passageiros. Um dia depois de ter garantido o passaporte para a final four da Taça da Liga com uma goleada diante (1-4) do P. Ferreira, o treinador de 47 anos foi demitido do cargo pela direção do clube minhoto. Chega assim ao fim uma aventura que teve início no verão passado, altura em que Sá Pinto rendeu Abel Ferreira, que havia saído para o PAOK Salónica, da Grécia. Ao leme dos arsenalistas, a campanha europeia até agora feita foi o ponto forte da chefia de Sá Pinto, com o apuramento da equipa para os 16 avos de final da Liga Europa – que atingiu com a liderança do agrupamento.

Em contrapartida, o percurso na Liga tem deixado a desejar: cumpridas 14 jornadas, o Sp. Braga segue a meio da tabela, com 18 pontos, a mais de 20 do topo. Já no que respeita à Taça da Portugal, os bracarenses foram, recorde-se, eliminados nos oitavos-de-final pelo Benfica, ao perderem por 2-1.

A saída de Sá Pinto não parece, de resto, ter sido uma surpresa natalícia na Pedreira, uma vez que não houve demoras a conhecer o seu sucessor. Aos 34 anos, Rúben Amorim, até então na equipa B minhota, é o homem que se segue até, pelo menos, ao final da temporada.

Recorde-se que o antigo internacional português foi, no início do ano, suspenso quando ainda treinava o Casa Pia por falta de habilitações. Embora ainda hoje sem o IV nível do curso de treinador para poder assumir o cargo de treinador principal sem impedimentos, Rúben Amorim poderá abraçar o desafio ficando, contudo, proibido de assinar a ficha dos jogos oficiais com aquele estatuto. Dar ordens para dentro de campo durante os encontros oficiais, bem como comentar as paridas nas entrevistas rápidas após cada confronto são outras condicionantes com que terá que lidar devido à falta de habilitações. Ontem, o jornal O Jogo avançou que a solução passava também por Jorge Vital, treinador de guarda-redes e homem de confiança do clube. De acordo com aquele desportivo, Vital será adjunto de Amorim, de forma a amenizar eventuais problemas que se esperam apenas burocráticos.

Apita o comboio. Lá vai a apitar À porta da segunda volta do campeonato, as mudanças de treinadores já contemplam quase duas mãos cheias – e, atenção, não entram nestas contas técnicos interinos. Sá Pinto é o mais recente membro a integrar a lista, que conta ainda ainda com Lito Vidigal (Boavista), Vítor Campelos (Moreirense), Nuno Manta (Marítimo), Sandro Mendes (V.Setúbal), Augusto Inácio (Desp. Aves), Jorge Silas (saiu do Belenenses para depois assumir o comando técnico do Sporting), Marcel Keizer (Sporting) e Filipe Rocha (P. Ferreira).

Carlos Carvalhal poderá mesmo ser o próximo a adquirir bilhete nesta categoria, uma vez que o treinador já pediu para deixar o Rio Ave. O técnico dos vila-condenses apresentou, recorde-se, a demissão após a derrota frente ao Gil Vicente, que deixou a equipa de fora da final four da Taça da Liga – porém, durante o dia de ontem, António Silva Campos, presidente do clube, mostrou esperança em manter o técnico.

A velocidade a que os treinadores são dispensados é cenário, de resto, já habitual por cá. Aliás, Portugal consegue mesmo ser caso único na Europa no que respeita ao tema. Olhando, por exemplo, à última época não falta muito para igualar o registo – no total, foram 11 chicotadas na edição 2018/19 da Liga. Foi, de resto, muito recentemente que se verificou um dos piores panoramas no que respeita à mudança de treinadores ao longo da época. Falamos da edição de 2016/17 da Liga, com 19 mudanças, naquele que se trata de um recorde absoluto.

Para se encontrar um cenário semelhante em Portugal, é preciso recuar mais de duas décadas. Só em 1997/98 se registaram números semelhantes, com 17 alterações à data. Nessa época, imagine-se, só o Sporting conseguiu a proeza de ter quatro treinadores (Octávio Machado, Francisco Vital, Vicente Cantatore e Carlos Manuel).

Tal como há quatro anos, José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), continua a mostrar preocupação com o cenário que se verifica no futebol português. Para o líder da ANTF não há dúvidas: a culpa é dos dirigentes. “É a demonstração inequívoca da prepotência e incompetência dos nossos dirigentes. Não é admissível que aconteçam estas situações com esta frequência e falta de respeito para com os próprios treinadores. Os dirigentes fazem os contratos no início da época com grande pompa e circunstância e depois de forma desrespeitosa acabam por tomar estas posições que nada os dignificam”, disse à rádio Renascença, voltando desta forma a sublinhar uma ideia que tem vindo a defender desde a trágica época 2016/17.