Com a exposição mediática de Greta Thunberg a sua luta pelo ambiente e o alerta em relação às alterações climáticas parece que fizeram renascer os mais jovens até aqui votados a uma apatia generalizada. Que seja um sinal positivo para o que aí vem. Se em relação à sueca temos que aplaudir o facto de ter colocado na ordem do dia, de uma forma mais transversal, a problemática do ambiente – que deve de facto ser discutida mas acima de tudo para a qual urgem medidas que mitiguem os efeitos nocivos do passado e presente – não é menos verdade que o tipo de fundamentalismo que de repente quer erradicar toda e qualquer fonte de poluição do Planeta, que nos trouxe tanta evolução e a resolução de muitos dos problemas dos nossos antepassados, não pode nem deve ser suportado.
Concordo com o conteúdo mas não com a forma. Confesso que não admiro a excessiva teatralização nem a forma instrumentalizada com que tenta produzir efeito. Nem tão pouco sou defensor de que quando há 30 ou 40 ou 50 anos se começou a poluir com maior intensidade as pessoas tivessem o conhecimento que temos hoje, e que por via dessas circunstâncias soubessem dos riscos que estavam a incorrer. Quando colocamos as questões numa perspetiva histórica nunca nos podemos esquecer de analisar, segundo os olhos e a forma de pensar dessa altura, para podermos efetivar a comparação de uma forma justa antes de os diabolizarmos.
Com o desenvolvimento e crescimento da sociedade é muito fácil olhar para trás e criticar o que foi feito, mas isso não será justo nem leal porque eles não sabiam o que nós sabemos hoje. O que podemos e devemos, nos dias que correm, é mudar comportamentos e alterar hábitos e regras para que os erros não sejam cometidos ou encontrar formas de os solucionar.
Acho, no entanto, que os mais novos devem aproveitar esta fase em que parecem ter o sangue quente a correr pelas veias para se questionar em relação a uma série de problemáticas que estão aí à porta e que os devem mobilizar de igual forma. Gostava, por isso, de os ver a debater o futuro da sociedade tecnológica e os perigos que aí vêm com esta cada vez menor privacidade, mas também a forma como as grandes companhias e alguns poderes obscuros já sabem – e mais saberão no futuro – sobre a nossa vida, desde os temas mais importantes aos nossos pequenos passos e de que forma isso será positivo para aquilo que temos de mais pessoal. Até que ponto nos queremos expor desta forma? E até que ponto sabemos qual o grau de profundidade onde isto já se encontra? E de que forma nos estaremos a tornar em produtos do online, menos verdadeiros e mais isolados?
Também gostava de os ver lutar nas ruas por uma sociedade cada vez mais igualitária e justa em que desapareçam definitivamente as formas de opressão e de humilhação no acesso às mesmas oportunidades e na aposta que deve ser feita na recompensa pela meritocracia. É que enquanto ainda houver no mundo uma pessoa a sofrer por ser diferente ou ser maltratada e oprimida, enquanto existirem pessoas esquecidas e abandonadas, essa deverá ser a prioridade. Mas que não se cansem também de gritar contra a política caduca que pouco ou nada nos defende noutras matérias, como no acesso à cultura e ao multiculturalismo, ou no combate à corrupção. Uma vez que o futuro é deles, que defendam as suas ideias de forma convicta e não atrás do que lhes pode colocar dois minutos na televisão. Que estudem e se informem e travem as suas batalhas por bons motivos.