“Quando era miúdo, a TV estava cheia de propaganda, inculcando na cabeça das pessoas que o Governo militar protegia o país de várias ameaças. A ilusão e o orgulho inabaláveis no facto de o país nunca ter sido colonizado moldaram com sucesso o nosso nacionalismo cego.” A partir daí, o tailandês Thunska Pansittivorakul fez um filme, que rodou numa zona batizada de Santikhiri (colina da paz). Santikhiri Sonata, uma coprodução entre a Tailândia e a Alemanha foi o grande vencedor do 17.º Doclisboa (Grande Prémio Cidade Lisboa para Melhor Filme da Competição Internacional), que chegou ao fim neste sábado com a exibição, em antestreia, de Technoboss, o filme que João Nicolau levou no verão a Locarno e que chega às salas já no próximo 7 de novembro.
Just Don’t Think I’ll Scream, de Frank Beauvais, foi distinguido com o Prémio Sociedade Portuguesa de Autores do Júri da Competição Internacional, que atribuiu ainda uma menção honrosa a Um Filme De Verão, de Jo Serfaty. Da competição portuguesa, saiu vencedor Viveiro, de Pedro Filipe Marques (Prémio Doclisboa Para Melhor Filme Da Competição Portuguesa). Um filme rodado em Arcozelo, no campo de futebol que, “de domingo a domingo, sobrevive às adversidades do vento norte”. Rodado entre aqueles que cuidam do campo e dos rapazes que ali jogam à bola. Ainda na competição nacional, o Prémio do Júri foi entregue a Cerro dos Pios, de Miguel de Jesus.
Serpentário, a primeira longa-metragem Carlos Conceição, que havia já tido a sua primeira exibição nacional no Curtas Vila do Conde, foi distinfuido com o Prémio Revelação, atribuído pelos canais TV Cine a primeiras longas-metragens entre os filmes apresentados em todas as secções. Já o Prémio Fernando Lopes, atribuído pela Midas Filmes e o Doclisboa ao Melhor Primeiro Filme Português, distinguiu Rio Torto, de Mário Veloso. Entre o palmarés está também Zé Pedro Rock ‘n’ Roll, o documentário de Diogo Varela Silva dedicado ao lendário guitarrista dos Xutos e Pontapés, que venceu o Prémio do Público.
A sessão de encerramento da 17.ª edição do festival, a última dirigida pela dupla Cíntia Gil, que assumirá daqui por diante a direção do Sheffield Doc/Fest, no Reino Unido, e David Oberto, foi aproveitada para anunciar a nova direção do Doclisboa, que ficará a cargo de Joana Gusmão, Joana Sousa e Miguel Ribeiro, até aqui programadores do festival internacional de documentário de Lisboa.