Alemão, francês, inglês e holandês. Nas filas para apanhar o autocarro do Palácio da Pena para a vila de Sintra, ouvem-se dezenas de línguas. É difícil entender o que cada um diz, mas uma coisa é certa: pelo tom, não parecem nada satisfeitos com o tempo de espera. Alguns ficam horas a aguardar por um autocarro que os leve até ao centro. Sintra é considerada por muitos uma das vilas mais bonitas do país (não será exagero dizer que até do mundo), mas os problemas de acessos dão muitas dores de cabeças aos turistas e aos residentes. A Câmara Municipal de Sintra diz ao i estar empenhada em melhorar este problema, com a implementação de várias medidas.
Em 2018, mais de cinco milhões de turistas passearam pelo Castelo dos Mouros, visitaram os jardins de Monserrate, perderam-se nos túneis da Quinta da Regaleira, comeram travesseiros na Piriquita e Queijadas no Gregório, caminharam pela serra e aproveitaram o sol da Praia Grande e os passeios à beira-mar em Magoito. Por isso, é muito comum ver meios de transportes cheios e filas enormes de pessoas à espera.
Os comboios, por exemplo, trazem diariamente milhares de passageiros até Sintra. Questionada pelo i sobre a hipótese de reforçar as bilheteiras nas estações com maior fluxo de turistas, a CP – Comboios de Portugal explicou que “existem picos de procura, com alguma sazonalidade, aos quais a CP vai dando resposta, gerindo os recursos humanos e materiais disponíveis, para reforçar, sempre que possível, os seus serviços. No que se refere às máquinas de venda automática de bilhetes, de uma forma geral, têm permitido dar resposta à procura existente. Assim, não está prevista, no curto prazo, a colocação de novas máquinas nas estações da rede de serviços urbanos de Lisboa”.
Mas os comboios são a parte menos problemática. “De vez em quando, se aparece uma excursão, é mais difícil comprar bilhete. Normalmente, tudo funciona como deve ser. O pior é mesmo quem está lá em cima, no Palácio da Pena, durante horas à espera de um autocarro”, conta ao i um taxista daquela zona. “A nós não nos compensa ir lá a cima. Além das voltas que temos de dar, não temos onde parar o carro. Ou alguém nos chama, ou não temos onde estar à espera dos clientes”, acrescenta.
A Câmara Municipal de Sintra admite que alguns fatores – como o aumento do número de turistas, o facto de o Palácio da Pena ser um dos pontos turísticos mais reconhecidos no país e o estacionamento indevido nas principais vias – “geram congestionamentos nos arruamentos de acesso à Serra de Sintra, originando tempos de percurso dos autocarros superiores a duas horas, independentemente da Scotturb ter procedido ao reforço da oferta da oferta de autocarros”, explicou ao i fonte oficial.
“Perante esta situação, e uma vez que urge garantir o rápido acesso de veículos de emergência à Serra de Sinta, Património Mundial da Humanidade, a autarquia irá, durante os próximos meses, reforçar medidas que permitam reduzir a carga do trafego automóvel na serra de Sintra e, paralelamente, irá proceder-se à interdição integral do estacionamento da Calçada da Pena”, adianta a mesma fonte.
Alternativas pouco verdes Muitas vezes, quem já não tem paciência para estar à espera de autocarros opta por procurar um tuktuk. Problema: além da poluição sonora, estes veículos não são propriamente os melhores amigos do ambiente. E se em Lisboa a tendência é começar a apostar em tuktuks mais verdes, em Sintra isso ainda não é uma prioridade. “Em Lisboa, ainda não existe uma regra que imponha a utilização de tuktuks elétricos, mas a verdade é que as pessoas mostram alguma preocupação com esse aspeto e procuram veículos mais ecológicos. Por isso, se na capital não procuram tanto tuktuks movidos a combustível, enviamo-los para Sintra”, explica ao i um condutor de tuktuks, cuja empresa atua tanto em Lisboa como em Sintra.
Além disso, existe o lado prático: veículos elétricos e movidos a combustível não fazem mais de seis quilómetros sempre a subir ao mesmo ritmo. “É muito mais fácil subir até à Pena num tuktuk a gasolina ou gasóleo. Não tem nada a ver a força de um e outro”, acrescenta.
Questionada pelo i sobre a presença destes veículos poluentes na Serra de Sintra, a Câmara de Sintra anunciou que está a preparar restrições em certas zonas do município: “Está prevista a criação de uma Zona de Emissões Reduzidas (ZER) e dentro dessa área, que inclui a vila de Sintra, a Serra de Sintra e São Pedro de Sintra, só será permitida a circulação de veículos que cumpram a norma EURO 3 , com exceção dos veículos pertencentes aos moradores e carros de coleção. Um dos resultados da adoção desta medida é que um ano após a sua implantação, os tuktuks não elétricos não poderão circular no interior da ZER”.
Trânsito caótico Mas as dificuldades de circulação na vila de Sintra não são provocadas apenas pelos milhões de turistas que ali passam. Em março de 2018, a autarquia implementou grandes mudanças no trânsito da vila, o que levou a muitos protestos por parte de moradores e comerciantes. No entanto, a autarquia faz um balanço positivo, enaltecendo a “redução dos tempos de percurso dos veículos de emergência que pretendem aceder ao Centro Histórico e ao Parque Natural Sintra-Cascais; Melhoria da qualidade de vida dos residentes no Centro Histórico de Sintra (menores índices de poluição sonora e atmosférica, redução das filas de trânsito e maior facilidade em encontrar lugares de estacionamento); Incremento da mobilidade e segurança pedonal ao longo dos passeios e arruamentos da Vila e da Serra de Sintra; E melhoria da imagem do Centro Histórico e da Serra de Sintra”.
No entanto, quem trabalha em Lisboa e regressa a Sintra ao final do dia vê bem, todos os dias, o caos que existe para entrar naquela zona: o final do IC19 enche-se de filas, com centenas de carros a subirem a passo lento até ao colégio do Ramalhão. “Já cheguei a estar meia hora só para percorrer o que normalmente se faz em dois minutos. Além do trânsito normal do IC19, ainda temos de levar com o caos à entrada de Sintra”, conta ao i uma moradora.
A Câmara de Sintra reconhece a existência do problema e garante que estão a ser tomadas medidas para melhorar este problema. Uma delas poderá ser a criação de uma nova via. “Para resolver não só o congestionamento da saída do IC9 na zona de Ranholas, como também a aumentar as condições de segurança em Ranholas, onde três via de trânsito do IC19 debitam um enorme volume de tráfego para um arruamento com um perfil transversal exíguo, com apenas uma via de trânsito em cada sentido, a Câmara Municipal de Sintra está a estudar a possibilidade de construção de uma Variante a Ranholas que permitirá a ligação da Avenida de Cascais à saída do IC19”, explica fonte oficial da autarquia.