Ainda antes da 24.ª cerimónia de entrega dos Globos de Ouro o assunto já era, mais do que qualquer categoria, qualquer nomeado, qualquer possível vencedor, a figura da sua nova anfitriã: Cristina Ferreira. Da maneira a que nos vem habituando a nova SIC. No segundo em que pisou o palco do Coliseu dos Recreios o acompanhamento via redes sociais confirmou-o – ainda que não pelas melhores razões – e com uma diferença: a Cristina, vieram juntar-se os seus vestidos. Vestida de alga, palavras suas, para apresentar a gala que “distingue anualmente o talento português”.
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Exemplos? Primeiro, ela própria: “Hoje houve quem me dissesse que aos 42 venho apresentar a 24.ª [gala dos Globos de Ouro]”. Segundo, o que traz vestido: “Este vestido é isso mesmo: o país e o mundo. O país porque este vestido é feito do desperdício das rolhas de cortiça e este vestido tem aqui esse objetivo de, já que estamos todos muito virados, e temos que o estar, para a proteção ambiental, todo este vestido tem como inspiração o mar, os oceanos, as algas e a própria luminescência das algas. A cor não foi escolhida ao acaso.”
Havia contudo que abrir espaço para outros naquele palco. Afinal, não foi pela galinha dos ovos de ouro da SIC, mas pelos Globos (de Ouro), que os profissionais do cinema, do teatro, da música, da televisão, da moda, do desporto e do entretenimento se voltaram a reunir na noite de domingo no Coliseu dos Recreios.
Já sem Cristina, e com uma atuação de Sérgio Praia em Variações, a propósito do biopic de João Maia estreado em agosto passado, inaugurava-se a primeira das categorias: Cinema. Isabel Ruth recebia o Globo de Ouro de Melhor Atriz (pelo seu papel em Raiva, com que já havia vencido este ano um Sophia), Carloto Cotta o de Melhor Ator (o seu primeiro Globo de Ouro, por Diamantino) e Hugo Bentes, nomeado na mesma categoria, subiria ao palco para agradecer pelo realizador Sérgio Tréfaut a distinção de melhor filme atribuída a Raiva. Por momentos, tudo parecia ter voltado à normalidade numa cerimónia que, durante anos, sobretudo em todos aqueles longos anos pré-Academia Portuguesa de Cinema, responsável pela atribuição dos prémios Sophia e criada apenas em 2011, foi sendo capaz de se fazer maior do que uma gala de um canal televisivo.
O que ficou da gala em que Cristina Ferreira se estreou como anfitriã dos Globos de Ouro é que esses tempos se foram. Pelo menos por agora. Atuações, enumerações de nomeados, entregas de prémios foram como intervalos. Ao segundo vestido, aquele que ficou conhecido como o “vestido vermelho”, elaborado por “dona Elisa”, que Cristina fez questão de fazer pisar o palco para, ao lado de João Manzarra, anunciar o nome de Sara Sampaio como personalidade do ano na área da moda, Cristina Ferreira dissertava sobre o “país pequenino” que é Portugal.
Viriam Mariza, Capitão Fausto e uma música de Carolina Deslandes ser distinguidos, viriam Ricardo Araújo Pereira, como humorista, Bumba na Fofinha (personalidade do ano na nova categoria Digital), João Félix eleito pelo público para o Globo de Ouro Revelação. E Bárbara Guimarães, como uma aparição de uma tradição que parece ter ficado no passado, com um discurso sobre força e superação a roubar – já agora, num discreto vestido branco – para si o momento da noite.
A competir com ela, só mesmo Filomena Cautela que só pelo seu “vai que é tua Tininha” mereceria um Globo de melhor nomeada da edição. É que, entre as novas categorias criadas este ano, vieram as de Personalidade do Ano, no Jornalismo (Globo de Ouro para Conceição Lino, da SIC), e no Entretenimento. E, dos bastidores, não da plateia, apareceria então, Cristina, agora coroada, receber o que, assim o disse, “é justo”.
Criticá-la-iam por presunção em excesso nesse discurso em que os papéis de apresentadora e de vencedora se confundiram, que foi assim: “Sabem que, quando soube que ia apresentar a gala e depois me disseram que haveria esta categoria, de entretenimento, começaram a dizer-me ‘tens noção de que vais ser nomeada, tens noção de que podes vir a ganhar’, e eu dizia ‘não quero, não quero, isto não faz sentido nenhum, estou lá a apresentar e depois vou lá receber o prémio?’. E depois percebi que quero. E quero porque é justo, acima de tudo […]. Andei nesta luta muitos anos […]. Houve uma pessoa que não queria que eu viesse [para a SIC], houve uma pessoa que teve muito medo. Chama-se Maria Filomena, é a minha mãe […]. Eu tranquilizei-a, disse-lhe: ‘Mãe, uma vez disseram-me que, quando acreditas, consegues e, quando consegues, acreditas ainda mais’. E, por isso, hoje trago estampado na minha pele e no meu vestido o meu modo de acreditar”. Além da coroa, uma Nossa Senhora na parte de trás do vestido.
Lista completa dos vencedores
Cinema
Melhor Atriz: Isabel Ruth (Raiva)
Melhor Ator: Carloto Cotta (Diamantino)
Melhor Filme:_Raiva, de Sérgio Tréfaut
Moda
Personalidade do ano: Sara Sampaio
Música
Melhor Atuação ao Vivo: Mariza
Melhor Intérprete: Capitão Fausto
Melhor Música: A Vida Toda, de Carolina Deslandes
Humor
Personalidade do Ano: Ricardo Araújo Pereira
Revelação
Personalidade do Ano: João Félix
Digital
Personalidade do Ano: Mariana Cabral (Bumba na Fofinha)
Teatro
Melhor Atriz: Luísa Cruz (A Criada Zerlina)
Melhor Ator: Paulo Pinto (Tio Vânia)
Melhor Peça ou Espetáculo: Tio Vânia, de Bruno Bravo
Televisão
Personalidade do Ano (Entretenimento): Cristina Ferreira
Personalidade do Ano (Jornalismo): Conceição Lino
Desporto
Personalidade do Ano: Cristiano Ronaldo
Prémio Mérito e Excelência
Maria do Céu Guerra