Azeredo Lopes, na altura ministro da Defesa, encontrou-se várias vezes em sua casa com Luís Vieira, à época diretor da Polícia Judiciária Militar, para ser informado sobre a situação de Tancos, segundo a acusação do Ministério Público.
A maioria das reuniões descritas na acusação a que o i teve acesso aconteceu na casa do governante, na Alta de Lisboa.
Segundo o MP, logo no dia 28 de junho, assim que soube do furto, Luis Vieira correu para a casa do ministro, chegando às 21h49. Mas o plano saiu gorado: “Luís Vieira acabou por não encontrar Azeredo Lopes na sua residência, uma vez que este tinha viajado para Bruxelas, à tarde, acompanhado do CEMGFA, para participar na reunião dos Ministros da Defesa da Nato, agendada para o dia seguinte”, lê-se na acusação.
A proximidade entre ambos era grande e os contactos eram frequentes: com Azeredo e com seu chefe de gabinete, Martins Pereira. Dois dias depois dessa tentativa falhada, Martins Pereira foi a casa de Azeredo Lopes e telefonou para Luís Vieira, “tendo ambos tido uma conversa por essa via”.
O SOL adiantou que Luís Vieira ficou irritado quando a PGR entregou a investigação do assalto aos paióis à Judiciária Civil. Segundo o mesmo jornal, o oficial tentou de todas as formas que a decisão da transferência do caso fosse anulada, tendo conversado com Joana Marques Vidal a esse propósito.
A 3 de julho “Luís Vieira deslocou-se, mais uma vez, a casa de Azeredo Lopes” para o pôr a par de “todos os desenvolvimentos acima descritos do processo de Tancos e sobretudo o telefonema com a Procuradora-Geral da República”, reiterando nesse momento o seu desagrado ao ministro pela “decisão do Ministério Público de afastar a PJM da investigação do assalto a Tancos”.
O militar chegou mesmo a pedir ajuda a Azeredo Lopes “no sentido de conseguirem que a investigação passasse, de novo, para a titularidade da PJM”, referindo “a visita que teria lugar no dia seguinte, aos Paióis Nacionais de Tancos e para a qual foi convidado a estar presente, precisamente, por Azeredo Lopes”.
O MP indica ainda um outro encontro entre os dois, desta vez com a presença do chefe de gabinete do ex-ministro, Martins Pereira. “O objetivo de Luís Vieira era tentar obter um parecer jurídico que pudesse fundamentar a alteração do despacho do Ministério Público quanto à competência para a investigação. E pediu, então, a Azeredo Lopes que o mesmo tentasse que alguém, no meio académico, efetuasse tal parecer jurídico”, sendo que Azeredo se terá comprometido a fazê-lo.
Mas estes encontros não decorreram apenas na residência do ex-ministro, foram várias as vezes em que o diretor geral da PJM foi ao Ministério da Defesa. Foi aliás no seu gabinete que Luís Vieira entregou a Azeredo Lopes três documentos “um denominado Memorandum, com o timbre da PJM, assinado por si; outro denominado Fita Do Tempo; e uma cópia do despacho do Ministério Público, datado de 07.07.2017, proferido no processo-crime com o NUIPC 48/17.6JBLSB, processo que se encontrava em Segredo de Justiça, o que Luís Vieira tinha conhecimento”.
O MP disse que Azeredo Lopes “ficou ciente de toda a descrita informação, das pretensões de Luís Vieira e das contrapartidas exigidas por João Paulino” e que, ao dar a sua concordância, o plano da PJM passou a ser também o seu.