E quando se pensava que o reino de Alvalade ia passar a respirar tranquilidade durante um período largo, depois do período… conturbado, digamos, por que passou em tempos bastante recentes, eis que a confusão se volta a apoderar do leão. E logo tendo como figura central Bas Dost, inquestionavelmente um dos melhores avançados da história recente do Sporting e uma das suas estrelas nas últimas três temporadas.
De um lado, o Sporting a acusar o jogador de colocar exigências financeiras de última hora ao Eintracht Frankfurt, para onde já tinha a transferência apalavrada, deixando assim o negócio em risco; do outro, o empresário de Bas Dost, Gunter Neuhaus, a acusar a SAD leonina de mentir para denegrir a imagem do atleta e lavar as mãos aos olhos dos sócios de um possível falhanço na concretização da transferência.
Salário era incomportável
Tudo começou no último sábado. Ou melhor: a julgar pela versão do Sporting, tudo terá começado em maio, quando o agente do jogador se reuniu com Frederico Varandas, presidente leonino, e Hugo Viana, diretor-desportivo, e revelou que Bas Dost queria sair por considerar ter terminado o seu ciclo no clube. Foi assim que o Sporting, num comunicado divulgado ao fim da manhã de ontem (assinado pelo “Representante de Relações com o Mercado”), começou por detalhar toda a situação a envolver o internacional holandês, e foi também este o motivo do primeiro ataque de Gunter Nehaus aos leões.
De acordo com um comunicado enviado à Agência Lusa pelo agente, “foi o próprio Sporting que informou o jogador em julho que este tinha de ser transferido devido à incompatibilidade entre a situação financeira do clube e o seu salário, deixando claro que este não teria lugar na equipa no futuro”. Gunter Nehaus garante igualmente serem “falsas” as alegações da SAD leonina de que terão existido exigências financeiras de última hora da parte do jogador. “A administracão da SAD foi informada desde o primeiro minuto das condições exigidas pelo jogador para aceitar uma transferência para outro clube”, salienta o empresário.
Nehaus acusa o Sporting de “denegrir o profissionalismo e honestidade com que o seu melhor marcador dos últimos três anos sempre representou o clube”, adiantando que Bas Dost “está magoado com o tratamento de que está a ser alvo publicamente”. “Deu tudo pelo Sporting e, após o terrível ataque a Alcochete, do qual foi a principal vítima, aceitou voltar ao Sporting. Tomou a decisão de regressar após ser contactado pela administração então em funções, recusando ofertas muito mais lucrativas de outros clubes de topo para continuar de leão ao peito. Sempre jogou pelo Sporting de alma e coração e deseja agora deixar o clube com dignidade, em bons termos, como o fez por merecer durante todo o tempo em que serviu este grande clube”, sentenciou o agente.
Só Frankfurt agradou
Uma versão que, como já se percebeu, colide com aquela apresentada pelos leões. No seguimento da informação sobre a reunião alegadamente ocorrida em maio, na qual o agente de Bas Dost teria revelado o desejo do avançado de deixar Alvalade, a direção leonina encetou esforços para encontrar um novo destino para o avançado holandês, tendo recebido propostas da China, da Rússia, da Turquia e do México chegaram propostas “muito mais atrativas financeiramente do que aquela que lhes veio a suceder”, ou seja, a do Eintracht Frankfurt.
A todas elas, porém, Bas Dost terá dito “não”, justificando a decisão com motivos pessoais. Até que, “há cerca de uma semana, o agente [de Dost] informou a Sporting SAD que o Eintracht Frankfurt estava interessado em Bas Dost e que este clube e campeonato iam ao encontro do desejado pelo jogador, tendo este inclusivamente já chegado a acordo com o clube alemão”.
Partindo desse pressuposto, a SAD liderada por Frederico Varandas encetou negociações com o emblema alemão, as quais teriam ficado praticamente fechadas até sábado – razão pela qual ambos os clubes publicaram os já referidos comunicados. Bas Dost deveria ter seguido para a Alemanha na segunda-feira, de modo a realizar os habituais testes médicos e assim oficializar a transferência – por essa razão, ficou já fora da convocatória de Marcel Keizer para a partida de domingo, frente ao Braga –, mas a verdade é que se apresentou ao trabalho em Alcochete, cumprindo o treino ao lado dos restantes elementos não utilizados frente aos minhotos.
Na parte final do comunicado, a SAD do Sporting garante que “sabe muito bem quem está a colocar e porque é que está a colocar as notícias falsas na imprensa de hoje”, terminando a dizer que se mantém “disponível para alcançar um acordo vantajoso para todas as partes”, mas que “permanecerá firme e intransigente na defesa dos interesses da Sporting SAD e imune a pressões mediáticas desta espécie”. Uma mensagem forte mas pouco conclusiva, ao melhor estilo do “Vocês sabem do que é que eu estou a falar” dos anos 80/90 – ou, pior, de outras direções leoninas num passado bastante recente…
Adeus, até um dia
Por agora, como tal, o futuro imediato de Bas Dost permanece uma enorme incógnita. Tal como o das contas do Sporting, que iriam ficar bem mais desafogadas com esta venda: além dos oito milhões de euros fixos (mais dois variáveis) avançados pela generalidade da imprensa desportiva nacional como o valor que o Eintracht Frankfurt iria deixar nos cofres dos leões, é preciso somar os 11,8 milhões de euros que a SAD leonina poupava, relativos aos salários de Bas Dost. O internacional holandês tinha contrato com o Sporting até 2021 e era (é) o jogador mais bem pago do campeonato português, com um salário anual na ordem dos 5,9 milhões de euros brutos – cerca de três milhões líquidos.
Parece, ainda assim, praticamente certo que o avançado de 30 anos não voltará a vestir a camisola do Sporting. Encerra-se assim um ciclo de três anos, 127 jogos oficiais e 93 golos, com a conquista de uma Taça de Portugal e duas Taças da Liga. Caso o negócio com o Eintracht Frankfurt ainda vá em frente, consuma-se o regresso de Bas Dost ao futebol alemão: foi precisamente da Bundesliga que chegou ao Sporting, em 2016/17, depois de quatro épocas a representar o Wolfsburgo, com os leões a pagar 12 milhões de euros pelo seu passe. Em Frankfurt, Dost irá concorrer diretamente com um português: Gonçalo Paciência, a iniciar a segunda temporada na Alemanha (e com três golos nos primeiros seis jogos da época).