O défice externo atingiu 2614 milhões de euros até maio. Trata-se de um agravamento da balança comercial face aos 1,3 mil milhões de euros registados em igual período do ano passado. É preciso recuar até aos primeiros cinco meses de maio de 2011 para encontrar um desempenho ainda pior, quando se fixou em 5492 milhões de euros, revelam os dados divulgados pelo Banco de Portugal (BdP).
De acordo com o regulador, para esta evolução “contribuiu, sobretudo, a balança de bens. Em termos homólogos, o défice da balança de bens aumentou 1901 milhões de euros e o excedente da balança de serviços diminuiu 25 milhões de euros”.
Este comportamento vai ao encontro do que tem vindo a ser divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Ainda na semana passada, o organismo revelou que as exportações portuguesas de bens aumentaram 8,7%, enquanto as importações subiram 14,7% em maio face ao mesmo mês de 2018. E as perspetivas não são animadoras: a confirmarem-se as expetativas deverá registar-se uma desaceleração das exportações relativamente ao ano anterior, em que aumentaram 5,3%.
De acordo com o INE, as empresas exportadoras de bens reviram em baixa as perspetivas de crescimento nominal das exportações, este ano, para 4%. Esta revisão resultou principalmente “das perspetivas das pequenas e médias empresas, que apontaram como principais motivos para essa revisão em baixa o pior comportamento que o esperado na generalidade dos mercados de destino já clientes e em mercados específicos”.
Os dados ontem revelados pelo Banco de Portugal indicam que o excedente comercial dado pelas exportações de serviços tinha vindo a compensar o défice dos bens; no entanto, isso deixou de acontecer. “Em termos homólogos, o défice da balança de bens aumentou 1901 milhões de euros e o excedente da balança de serviços diminuiu 25 milhões de euros”, esclareceu a entidade liderada por Carlos Costa.
O défice da balança de rendimento primário reduziu-se em 201 milhões de euros relativamente ao período homólogo, para 2850 milhões de euros. Esta variação, ainda que pequena, resultou principalmente da redução dos juros pagos a entidades não residentes.
Também a balança de capital diminuiu ligeiramente de 571 milhões para 532 milhões de euros entre janeiro e maio de 2019, enquanto a balança financeira também se deteriorou de 972 milhões de euros para 2,2 mil milhões de euros. “Os passivos aumentaram, refletindo o investimento de não residentes em títulos de dívida pública portuguesa e em sociedades não financeiras residentes”, explica o banco central, acrescentando que esse efeito “foi parcialmente” compensado pelo aumento de ativos financeiros no exterior, “através do investimento dos bancos residentes em títulos de dívida emitidos por não residentes, e pela redução de depósitos de não residentes em bancos residentes”.
Economia abranda A par do agravamento do défice comercial, a economia portuguesa depara-se ainda com um abrandamento. Em maio, o indicador de atividade económica, disponível até maio, diminuiu 1,9%. É o quarto mês seguido a desacelerar e o aumento da atividade mais lento desde outubro de 2016.
Já o indicador de clima económico, disponível até junho, aumentou depois de ter diminuído no mês anterior, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
O indicador quantitativo do consumo privado e o indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF) abrandaram ambos em maio, ainda segundo os números da agência de estatísticas.
Considerando a atividade económica na perspetiva da produção, em termos nominais verificou-se um aumento na indústria, após a variação negativa no mês anterior, e um abrandamento nos serviços.
Recorde-se que o Governo reviu em baixa a previsão de crescimento até 2022. Com as novas previsões no Programa de Estabilidade, o Executivo espera que a economia cresça 1,9% em 2019 e 2020, menos quatro décimas que o esperado há um ano. Já em 2021 e 2022, a economia deverá acelerar, crescendo a um ritmo de 2% em cada um dos anos. Nas previsões anteriores, o Governo apontava para que a economia crescesse 2,2% e 2,1%, respetivamente.
O Executivo prevê ainda que o emprego cresça a um ritmo estável de 0,6% entre 2019 e 2022, abrandando para 0,4% em 2023. Já a taxa de desemprego deverá registar uma rota descendente em todo o horizonte temporal, atingindo os 5,5% em 2023.