Alcochete. Advogados atacam a procuradora Cândida Vilar

Alcochete. Advogados atacam a procuradora Cândida Vilar


A defesa uniu-se contra a procuradora do Ministério Público e nem Jorge Jesus escapou: um dos advogados disse que o antigo treinador do Sporting deu autorização para a entrada da claque.


A segunda sessão do debate instrutório do caso da invasão à Academia de Alcochete decorreu ontem no Campus de Justiça, em Lisboa. À semelhança do que aconteceu na semana passada, a agitação tomou conta da sala de audiências e, apesar de a procuradora do Ministério Público Cândida Vilar não ter estado presente no tribunal, foi a personagem principal do episódio de ontem.

Entre os arguidos ouvidos pelo juiz Carlos Delca esteve, novamente, o antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho e Mustafá, líder da claque Juventude Leonina – que pediu a Carlos Delca, mal começou a sessão, para ser libertado de imediato.

Bruno de Carvalho não passou despercebido e o seu advogado pediu uma cópia das provas entregues pelo Ministério Público. No entanto, não teve tratamento especial, pelo que o juiz disse que as provas estão no processo e já foram, inclusive, consultadas pelos restantes advogados.

A defesa do ex-presidente do Sporting não deixou de atacar Cândida Vilar, comparando os métodos da procuradora à PIDE: “Há coisas que não podem acontecer depois do 25 de abril”. E até os jornalistas foram alvo de crítica, com o advogado Miguel Fonseca a acusar a comunicação social de ser “os cães de fila do Ministério Público”.

Defesa aponta o dedo a Jorge Jesus Ainda decorria a primeira parte da sessão – no período da manhã – quando a defesa do arguido João Aníbal Gonçalves acusou Jorge Jesus, dizendo que foi o treinador quem autorizou a entrada do grupo da claque do clube leonino na academia e não Bruno de Carvalho.

O advogado Coimbra Gonçalves esclareceu que “todos se conheciam” e que o antigo treinador do Sporting já tinha dado autorização, em situações anteriores, para que uma delegação da claque fosse visitar a academia.

Sobre estas declarações, Luís Miguel Henriques, advogado de Jorge Jesus, negou as afirmações feitas em tribunal. “Recuso categoricamente essa informação que não percebo porque está a ser veiculada, pode ser uma estratégia de defesa. Jorge Jesus não tinha qualquer conhecimento do que veio a acontecer”, disse o advogado ao Observador.

 

Advogados pedem nulidade da acusação

Quatro advogados de arguidos do processo defenderam ontem que existiram ilegalidades na recolha das provas. À semelhança do que aconteceu na semana passada, Carlos Melo Alves, advogado de Emanuel Calças, voltou a dizer que existiu “uma nítida ausência de controlo dos meios de obtenção de prova” e que, por isso, “o senhor juiz teria de destruir toda a prova e todo o processo”.

Em tom de crítica e, claramente, dirigindo as suas palavras a Cândida Vilar, Carlos Melo Alves sublinhou que “o Ministério Público deveria ter decidido se a investigação era da competência da Polícia Judiciária ou da GNR e depois deveria ter feito um despacho de delegação de competência”. Por este motivo, o advogado considerou que devem cair os crimes de sequestro, ameaça agravada e invasão de local privado.

A defesa esteve, praticamente durante toda a sessão, a arrasar o trabalho de Cândida Vilar. Filipe Coelho, advogado de Mustafá, alegou que a procuradora “disse ao Mustafá que ele era o chefe de um movimento fascista e nacionalista”. E mais: esteve “cinco horas a dizer barbaridades” e as alegações “pareciam conversa de café”, disse o advogado.

Recorde-se que seis dos 44 arguidos no caso pediram para falar na abertura da instrução e todos negaram as acusações feitas pelo Ministério Público. Agora, o juiz Carlos Delca tem um mês para produzir o despacho de pronúncia, ou não pronúncia – neste caso, se leva o caso a julgamento. Caso não exista decisão do juiz de instrução criminal até ao dia 21 de setembro, os primeiros 23 detidos serão nessa altura libertados.